Cultura - Educação

Aluno é aluno, filho é filho

28 de Janeiro de 2015
Luiz Cláudio Jubilato
Prof. de Língua Portuguesa

As mães, em geral, vivem “grudadas” nos filhos e, na prática, não sejamos hipócritas, são elas que os educam, mesmo quando trabalham fora de casa. Os pais, quase sempre, se casam com o trabalho, por isso, ao chegarem a casa, recebem informações já prontas sobre a conduta dos pimpolhos: “Eu lido com ele o dia todo; você, não” – afirma ela convicta e até um tanto arrogante. Na hora do aperto, todo mundo grita: Maêeeeee!!! Nunca: paiêeeee...

Elas costumam ter razão, na maioria das vezes. Depois de discutir, sair “pisando duro”, “desdenhar dos conselhos maternos”, “bater a porta”, sai o pimpolho com pinta de dono do mundo. Ao se dar mal, cabisbaixo, murmura: “Não é que a minha mãe tinha razão!”

Por que falo tanto das mães? Porque são elas, que escolhem a escola, para matricularem o filhão ou filhona. O pai vai de companhia.

Se ele for sozinho, pergunta quanto custa a mensalidade e se há algum desconto. Aí reclama do preço, mas tira o talão de cheques ou cartão do bolso e paga. Se for a mãe, aí a conversa é outra. Quer conversar com o coordenador. Quer saber quais são o método e o material didático. Quem são os professores. Observa detalhe por detalhe o espaço físico. Depois de tudo checado, olha em volta e diz: “Fiz uma pesquisa na internet sobre as escolas da cidade e vi a de vocês. Vim até aqui, porque amigos me recomendaram. Gostei, mas ainda estou pesquisando, ainda vou visitar outras”. Só aí pergunta qual é o preço, se há descontos. Negocia, negocia, negocia até a exaustão. “Está meio cara. Vou ver com o meu marido e volto?”

Que nada! O marido, no máximo, tasca o “Você é que sabe” e o papo morre aí. Quem decide a matrícula, a cor do carro, a decoração da casa... é ela. O pai ou paga ou ajuda a pagar. E só. O filho opina, mas é ela quem bate o martelo.

O pai costuma receber informações prontas. Reprisa-as, como um mantra. O filho é isso, aquilo, aquilo outro... “Conheço meu filho muito bem, sei do que ele  é capaz. É estudioso, só um pouco distraído. É muito maduro. Só, de vez em quando, temos de dar uns puxões de orelha nele. Sabe como é adolescente, né? Ele é um tanto tímido, quase não sai, prefere ficar em casa. Só não larga aquele maldito computador. Fica até altas horas da noite na frente daquilo. Já não sei o que fazer. Vou tirar aquela coisa do quarto dele. É obediente. Fora isso, é muito educado. Se relaciona bem com todo o mundo. Sabe como é mãe, né professor? Mãe é mãe. Não vê os defeitos do filho. Mas, se a gente não defendê-lo, quem vai fazer isso, né? Filho, fala alguma coisa! O professor vai achar que você é mudo. Ele é tímido assim mesmo, nem em casa ele gosta de falar”. O pai tenta falar alguma coisa, mas prefere ficar quieto. Em seguida, parte para o pratico: “Já resolvemos isso, né? Então, vamos logo com isso que já estou atrasado, tenho que trabalhar”.

“O que aconteceu, professor? Brigou? Como assim? Brigou com quem? Ah! Sim. Ele me disse mesmo, que esse menino é uma peste! Sempre provoca. Desde o primeiro dia, eles não se deram bem. Como assim? O meu filho provocou? Ele e a turma dele? Ele não tem turma. Só se forem alguns amiguinhos dele. Sabe como são as más influências, né? Vou até aí pra ver isso de perto. Tenho certeza de que há algo errado. A coisa não deve ser bem assim”. “Como? Queixa de professor? Foi colocado pra fora da sala de aula? Não estou entendendo nada”.

A situação acima ocorreu inúmeras vezes e ocorrerá durante muito tempo. As câmeras do pátio registraram tudo. A mãe ficou atônita: “Não reconheço o meu filho. Ele nunca fez isso em casa”. Verdade, não deve ter feito mesmo. Em casa, não há a apaixonite aguda. Não há turma, nem a necessidade de se auto afirmar perante a turma, nem contestar regras. A mãe conhece o filho. A escola conhece o aluno, não conhece o filho, por isso não há educação sem parceria. A famosa e nunca concluída parceria família-escola. Aonde fica o ser humano?

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