Por Luiz Cláudio Jubilato
Luiz Cláudio Jubilato |
Prof. de Língua Portuguesa |
Vivemos numa sociedade viciada em remédios. Médicos prescrevem drogas mais e mais potentes, para sanar, desde unhas encravadas, a ansiedades e depressões: as doenças mais devastadoras do nosso tempo. O paciente impaciente exige cura imediata. Laboratórios, então, fazem experiências e mais experiências. Os impacientes dependentes viram “camundongos”. Por causa deles, o número de farmácias cresce a um ritmo alucinante. Vidros, tabletes e pílulas ainda povoam as prateleiras, contudo, não se assuste, está em curso a farmácia digital. “Aconselhadores” existem às pencas.
A ciência se tornou a panaceia para resolver todos os males modernos, inclusive o tédio, a solidão, o amor e a diversão. A rapidez para resolver as dores do corpo e da alma faz parte do pacote. A ciência é Deus, ninguém vive sem ela: é também o diabo, escraviza os “camundongos” com drogas cada vez mais potentes e viciantes. A oração não passa de uma bula, emaranhado de descrições dos sintomas, da posologia e dos efeitos colaterais.
Outro viés: camundongos da revolução tecnológica em curso ostentam aquele ar “blasé”, cada vez que os dedos indicadores ficam sem cutucar freneticamente o teclado de um smartphone, na desesperada busca de algum “amigo virtual”. Se ninguém “curte” seus posts, são acometidos por doenças como baixa autoestima, solidão, ansiedade, depressão... Nenhuma expressão define melhor o mundo em que vivem: computação “em nuvem”. Informações fluídas, passageiras, instáveis. Existe vida fora do Facebook, do Wathsaap, do Instagram? Sair sem o celular, é estar nu.
A Apple, com o iTunes, nos vendeu músicas; a Amazon, com o Kindle, nos vendeu livros. Qualquer um pode carregar sua videoteca, biblioteca e discoteca. Remédios para matar a solidão, trazer diversão. Hoje nos vendem de tudo: sexo, tênis, roupas... Os laboratórios na “nuvem” nos testam o tempo todo, para descobrirem a fórmula para nos viciar. A prateleira está na ponta dos dedos. O remédio logo entedia. Como todo viciado, queremos mais e mais. Precisamos desesperadamente nos transformar.
Dei todas essas voltas para chegar ao tema central deste texto. O aluno digital. A escrita digital. O “aprendizado” digital. Então, vamos lá. 46 estados americanos aboliram a exigência do ensino da “letra cursiva” nas escolas. Acabaram com as aulas de caligrafia. O aluno de hoje lê livros digitais, vive enfiado nas redes sociais. Usa tablets o tempo todo. Sua memória está no Google, na Wikipédia, logo digita o tempo todo. O grande negócio é acabar com a escrita “cursiva” e incentivar a escrita através da letra de “forma” (de imprensa), muito mais próxima da era digital.
Copiar? Nem pensar. Hoje essa é uma atividade quase pré-histórica. O download, o arquivo, o HD servem para quê? “Pesquisadores”, agora, propõem novo remédio para com o tédio das aulas tradicionais: o uso dos smartphones como instrumento para acelerar a aprendizagem. Será? Queremos transmitir conhecimento ou pretendemos ensinar? Educar? Viramos camundongos digitais. Em doses altas demais, a droga, como é sabido, vira veneno.