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Tiros contra Trump: bullying é histórico comum entre agressores 

17 de Julho de 2024

Ana Paula Siqueira, Presidente da Associação SOS Bullying, mestre e doutoranda pela PUC/SP, professora universitária e pesquisadora em cyberbullying e violência digital

Foto: Divulgação/ Internet

“Ele era apenas um excluído”. “Ele era vítima de bullying todos os dias”. Essas duas frases foram usadas para descrever Thomas Matthew Crooks, de 20 anos, homem que atentou contra a vida do ex-presidente norte-americano Donald Trump no último sábado (13), durante um comício na Pensilvânia.

O atirador, morto pelo serviço secreto logo após o atentado, utilizou um fuzil AR-15, de propriedade do seu pai. Ao disparar, ele matou um homem e feriu outros dois, além do próprio Trump, atingido de raspão na orelha.

Talvez seja impossível descobrir a motivação do atentado, mas a presença do bullying sofrido anos antes na escola para descrever a personalidade do atirador acende novamente um alerta, que a sociedade insiste em não enxergar.

Como referência, em novembro de 2023, foi lançado o relatório Ataques às escolas no Brasil, pelo Grupo de Trabalho sobre Violência nas Escolas, do Ministério da Educação. O documento apontou que de 2002 a outubro de 2023, o Brasil registrou 36 ataques a escolas, com 164 vítimas, sendo 49 fatais.

Os agressores, ex-alunos que buscaram vingança por ressentimentos, fracassos e violência sofrida nas escolas. Ou seja, os agressores tentaram revidar contra o bullying sofrido, uma agressão tão poderosa, com consequências tão devastadoras, que faz de jovens estudantes, homicidas, que normalmente tiram a própria vida após atingir seus objetivos.

Apesar de termos registros de casos anteriores, o chamado massacre de Columbine, em 1999, nos Estados Unidos, pode ser considerado um marco importante nesse tipo de crime. Depois dele, vieram “copycat crimes” (crimes por imitação) em vários lugares do mundo.

No Brasil, tivemos casos emblemáticos como Realengo (2011, com 13 vítimas fatais); Suzano (2019, com 10 vítimas fatais);  Aracruz (2022, 4 vítimas fatais) e Sapopemba (2023, 1 vítima fatal). Em Realengo e Suzano, o número de vítimas fatais inclui os atiradores, que atentaram contra a própria vida após os crimes.

Além da repetição, podemos ver a aceleração dos casos, cada vez mais frequentes. Somente em 2023, foram nove ataques no Brasil.

As escolas, que deveriam ser ambientes de educação e paz, para alguns jovens vítimas de bullying, se tornam espaços de exclusão e violência. Os autores de ataques, como Thomas Matthew Crooks, geralmente são descritos como tímidos, calados, com personalidade que “não se encaixa” ao modelo de comportamento esperado pela sociedade. 

Como todos que fogem do padrão por características físicas, orientação sexual, religião ou qualquer outro fator, eles são as vítimas mais frequentes de bullying. A resposta deles é mostrar que são fortes, respondendo a violência sofrida com mais violência.

É urgente que a sociedade invista na formação de uma Cultura de Paz dentro das escolas, onde as diferenças sejam respeitadas. A grande riqueza da humanidade é a sua pluralidade. Garantir que os jovens encontrem nas instituições de ensino um ambiente de acolhimento e apoio é permitir que todos cresçam e se desenvolvam em segurança, livres das consequências nefastas do bullying.

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