Em 2023, a companhia nascida na França, hoje com sede no Rio de Janeiro, celebra 25 anos de trajetória. Neste espetáculo, indicado em diversas categorias ao Prêmio Shell e ao Prêmio Cesgranrio de Teatro, a partitura de corpos traça uma jornada interna de conhecimento e dor
Em cena, André Curti e Artur Luanda Ribeiro criam narrativas visuais e ilusões por meio da fisicalidade e da virtuosidade |
Foto: Renato Mangolin |
André Curti e Artur Luanda Ribeiro iniciaram há 25 anos, em um encontro na França, um percurso particular entre as artes cênicas brasileiras. Em 1998, o primeiro espetáculo criado em parceria, inspirado na obra Esperando Godot, de Samuel Beckett, Dos à Deux, que mais tarde deu nome à companhia, apontou um modo de pesquisa teatral e coreográfica característica até hoje dos dois artistas: precisão dos gestos em diálogo afinado com os recursos visuais e grande imaginação cênica.
O mais recente espetáculo da dupla, Enquanto você voava, eu criava raízes, traz esse arranjo para tratar o medo como um propulsor, um sentimento, uma sensação que nos paralisa, mas também nos lança para outros caminhos. Com realização do Sesc SP, pela primeira vez na cidade, o trabalho faz temporada no Sesc Santo Amaro, de 3 de março a 2 de abril de 2023, de sexta a domingo. O espetáculo estreou no Rio de Janeiro em 2022 e cumpriu três temporadas de sucesso na cidade (Teatro Oi Futuro, Teatro Firjan SESI Centro e no Centro Cultural Sérgio Porto), com todas as sessões esgotadas. Em 2023, a peça foi indicada aos prêmios Shell e Cesgranrio: no primeiro, nas categorias melhor iluminação, cenário e figurino; neste último, além de iluminação e cenário, somou as indicações de melhor espetáculo, direção e música.
Sem uma dramaturgia linear, Enquanto você voava, eu criava raízes tem diversas cenas, que se completam e transitam entre o onírico e a realidade. O corpo é o guia da partitura e a fonte de leitura do trabalho. Por ele, mergulhamos nessa pesquisa da dupla de artistas sobre esse tema que acompanha o ser humano ao longo de sua vida, o medo e sua transformação.
Como nos outros trabalhos, a linguagem gestual é criada a partir do tema abordado pelos dois. “Para mim, nesse espetáculo, ficamos na beira do abismo desde o início”, diz André. “São os abismos que temos dentro de nós, essa sensação de vazio permanente, de que há algo dentro se abrindo e um outro eu está caindo dentro da gente”, completa Artur.
A narrativa visual acontece na relação precisa entre imagens, fisicalidade e virtuosidade. Na cena, dois corpos que se fundem e se perdem. Nos estranhamos tanto a ponto de nos perdermos no próprio reconhecimento? As imagens dos corpos são marcados pela dor e pesar, mas ainda assim há um caminhar, seguir em frente. Uma tela se interpõe entre plateia e artistas e cria o ilusionismo: corpos se fundem, se prolongam, ficam em partes ou menores; equilibram-se no ar ou entre si.
É um espetáculo sensorial e nos toca ao tratar de múltiplos medos “espaços íntimos de sensações”, como disseram os criadores. Na sequência de cenas, alguém parte e outro fica. Dois pontos que se completam como processo de conhecimento. Um corpo que se levanta e é cuidado para prosseguir.
As imagens projetadas, criadas pelo diretor de fotografia Miguel Vassy e pela artista plástica Laura Fragoso, dialogam com a dramaturgia, assim como a música original criada por Federico Puppi, que ajuda a criar diversos climas ao longo do espetáculo.
Os dois artistas André Curti e Artur Luanda Ribeiro são responsáveis pela dramaturgia, cenografia, coreografia, direção e performance. Nos 25 anos de trajetória e parceria, com grande reconhecimento e trânsito internacional e nacional, os dois costumam dizer que, para além do teatro gestual, como a companhia é caracterizada, são bougeurs de théâtre (algo como "movedores do teatro"). Essa dança gestual em cena, elaborada a partir de temas de seus espetáculos, lança o público na magia do teatro.
CIA. DOS À DEUX
Há 25 anos, André Curti e Artur Luanda Ribeiro se conheceram durante um festival em Paris e decidiram começar uma pesquisa teatral e coreográfica, tendo como inspiração a obra Esperando Godot, de Samuel Beckett. Em 1998, nasceu o primeiro trabalho, Dos à Deux, peça que deu nome à companhia. No Festival de Avignon, com esse primeiro trabalho, os dois então jovens criadores tiveram um imediato reconhecimento da crítica e dos curadores, lhes impulsionando pelas estradas de todos os países da Europa, além da África, América do Sul, Coreia do Sul e na Índia.
A premiada companhia franco-brasileira de teatro gestual arrebatou plateias em mais de 50 países, com mais de 3 mil apresentações por toda a Europa, África Central, Ásia, Polinésia Francesa, Emirados Árabes e América do Sul. O repertório é formado por onze espetáculos: Dos à Deux (1998), Je suis bien moi (2000), Fulyo (2000), Aux pieds de la lettre (2002), Saudade em terras d’água (2005), Fragmentos do desejo (2009), Ausência (solo com Luís Melo, de 2012), Dos à Deux - 2º ato (2013), Irmãos de sangue (2013), Gritos (2016) e Enquanto você voava, eu criava raízes (2022). Em 2021, sete espetáculos da companhia foram exibidos na mostra online “Dos à Deux - A Singularidade de uma Trajetória”.
Espaço Cultural - Depois de mais de duas décadas instalada na França, em 2015, a Cia. Dos à Deux retornou ao Brasil para criar seu espaço cultural. Artur e André reformaram um antigo cortiço construído em 1846, no bairro da Glória, no Rio de Janeiro. Além de abrigar a companhia, o espaço vem se estabelecendo como um local para oficinas e residências artísticas para outros grupos nacionais e internacionais.
Mais sobre a Cia: www.dosadeux.com Instagram: @ciedosadeux Facebook: dosadeux
FICHA TÉCNICA
Direção, dramaturgia, coreografia, cenografia e performance: André Curti e Artur Luanda Ribeiro
Música original: Federico Puppi
Iluminação: Artur Luanda Ribeiro
Cenotecnia: Jessé Natan
Assistentes de cenotecnia: Bruno Oliveira, Eduardo Martins e Rafael do Nascimento
Criação de objetos: Diirr
Criação videográfica: Laura Fragoso
Imagens: Miguel Vassy e Laura Fragoso
Figurino: Ticiana Passos
Operação de som e vídeo: Gabriel Reis
Operação de luz: PH
Contrarregragem: Iuri Wander
Preparação/criação percussiva: Chico Santana
Costura da caixa preta: Cris Benigni e Riso
Costura dos figurinos: Atelier das Meninas
Assessoria de imprensa: Canal Aberto
Mídias sociais: Mariã Braga
Designer gráfico: Bruno Dante
Fotos: Nana Moraes e Renato Mangolin
Coordenação administrativo-financeira: Alex Nunes e Patrícia Basílio
Direção de produção: Sérgio Saboya e Silvio Batistela - Galharufa Produções
Realização: Cia Dos à Deux
SERVIÇO
Enquanto você voava, eu criava raízes
De 03 de março a 2 de abril de 2023
Sextas, às 21h; sábados, às 20h e domingos, às 18h.
Local: Sesc Santo Amaro (Rua Amador Bueno, 505 - Santo Amaro, SP)
Tel: (11) 5541-4000
Ingressos: R$ 40/ R$ 20/ R$ 12
Capacidade: 279 lugares - *Unidade acessível
Duração: 55 min.
Classificação indicativa: 18 anos.