Colunistas - Rodolfo Bonventti

O Brasil se reunia em frente a TV para se divertir com o ABC de Roque Santeiro

21 de Outubro de 2021

Tudo começou em 1975, quando em comemoração aos 10 anos de fundação da TV Globo, a emissora programou para o horário nobre das 20 horas, a novela de Dias Gomes, “A Saga de Roque Santeiro”, que prometia inovar o gênero, e era uma adaptação para a TV da peça do próprio Dias chamada “O Berço do Herói”

Mas estávamos nos anos 1970 e em plena ditadura militar, e a Censura federal vetou a novela para o horário das 20h, definindo que a mesma só poderia ser exibida às 22h, e com vários cortes nos diálogos. A direção da TV Globo tentou de todas as formas conseguir a liberação da novela e no dia da estréia, uma quarta-feira, 27 de agosto, uma hora antes do “Jornal Nacional”, que antecederia o primeiro capítulo da obra, a emissora recebeu um comunicado do Ministério da Justiça que proibia a exibição em qualquer horário, “porque a novela continha ofensas à moral, à ordem pública e aos bons costumes”.

Lima Duarte e Regina Duarte em Roque Santeiro na TV Globo

Foram necessários quase 10 anos para que finalmente “Roque Santeiro” estreasse na tela da nossa TV, no horário das 20 horas. E isso aconteceu em 24 de junho de 1985, quando o País vivia os ares liberais da Nova República, com o fim do Regime Militar.

O cenário era perfeito para a estréia da nova versão, escrita por Dias Gomes, Aguinaldo Silva, Marcílio Moraes e Joaquim Assis, e com direção de Paulo Ubiratan, Gonzaga Blota e Marcos Paulo. A novela foi um sucesso absoluto de Norte a Sul do País, com índices que ficavam entre 70 e 80% de audiência.

Com “Roque Santeiro”, a Televisão brasileira e em especial a TV Globo, festejaram o fim da censura e a chegada da liberdade de expressão depois de mais de 20 anos de ditadura militar.

O próprio Dias Gomes não esperava que o sucesso da novela fosse ser tão expressivo e penetrasse tanto nos hábitos e no dia a dia dos brasileiros, a partir da sua estréia.

Na versão original de 1975, que chegou a ter mais de 20 capítulos gravados e finalizados, os personagens centrais eram vividos por Francisco Cuoco como o falso herói Roque Santeiro; Betty Faria como a fogosa e exagerada Viúva Porcina e Lima Duarte vivendo o coronel Sinhozinho Malta. Dos três, dez anos depois, apenas Lima continuou na novela e vivendo o mesmo personagem, já que Cuoco foi substituído por José Wilker e Betty por Regina Duarte.

A novela ganhou todos os prêmios da Televisão em 1985, consagrando Lima Duarte e Regina Duarte como os melhores atores do ano, bem como premiando Dias Gomes e Aguinaldo Silva como os melhores autores. Quem também se saiu vitoriosa foi Cláudia Raia, que com sua inesquecível Ninon foi a revelação da TV em 1985.

O coroinha Luís Roque Duarte, conhecido como Roque Santeiro, por sua habilidade em esculpir santos, morre ao defender a população da pequena cidade de Asa Branca do bandido Navalhada, logo após um “misterioso” casamento com a desconhecida Porcina. Tempos depois, uma menina doente teve uma visão de Roque e curou-se. Ele é então santificado pelo povo e se torna um mito na cidade e na região. Só que na verdade ele não estava morto, e dezessete anos depois retorna a cidade para pôr um fim a esse mito. Era este o roteiro central da novela que colocou o País inteiro em frente a TV por mais de oito meses.

Outros personagens marcantes foram o prefeito Florindo Abelha (Ary Fontoura); o comerciante Zé das Medalhas (Armando Bógus) que enriquecia em função do mito; a doce e virgem Santinha (Lucinha Lins); a beata Dona Pombinha (Eloisa Mafalda); o professor e lobisomem Astromar (Ruy Resende); a bela e desafiadora Matilde (Yoná Magalhães) com suas meninas da boate Sexual; o tradicional padre Hipólito (Paulo Gracindo) e o moderno padre Albano (Cláudio Cavalcanti).

Se o personagem Sinhozinho Malta marcou com o bordão “Tô certo ou tô errado” e com o chacoalhar das suas pulseiras quando ficava nervoso, a Viúva Porcina ditou a moda com muito colorido e exageros nas roupas e nos cabelos e maquiagem.

“Roque Santeiro” foi a precursora de muitas outras novelas com tramas extremamente regionais e personagens bastante folclóricos, que passaram a disputar o espaço nobre com outras tramas urbanas centradas na cidade do Rio de Janeiro. 

O grande elenco ainda contava com Cássia Kiss, Lídia Brondi, Fábio Junior, Ewerton de Castro, Tony Tornado, João Carlos Barroso, Patrícia Pillar, Luiz Armando Queiroz, Ísis de Oliveira, Oswaldo Loureiro, Ilva Niño, Arnaud Rodrigues, Mauricio do Valle, Elizângela, Wanda Kosmo, Mauricio Mattar, Alexandre Frota, Cláudia Costa, Nelson Dantas, Othon Bastos, Nélia Paula, Cristina Galvão, Valdir Sant’anna, Luiz Magnelli, Milton Gonçalves, Lícia Magna e participações especiais de Lilian Lemmertz e Marcos Paulo.

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