A Procissão do Encontro, que acontece no Domingo de Ramos, é uma das mais aguardadas por turistas e fiéis
Oficialmente, a Semana Santa em 2020 vai de 05 a 12 de abril, domingo a domingo. Mas, em Ouro Preto (MG), as celebrações já têm início na sexta-feira, dia 03 de abril, com o final do Setenário das Dores de Maria, solenidades que relembram os sete sofrimentos de Maria, em especial durante a Paixão de Cristo.
Tradicionalmente iniciado na sexta-feira de véspera de carnaval, o Setenário é celebrado em cada sexta-feira seguinte, até a véspera da Semana Santa que, este ano, será dia 03 de abril. Nesta data, após a celebração da última missa do Setenário, acontece a procissão de Nossa Senhora das Dores, que acompanha a imagem da santa, desde a Igreja do Pilar até a Igreja de Nossa Senhora das Mercês de Cima, após celebração de missa solene.
No dia seguinte, 04 de abril, é a vez da procissão do Depósito de Nosso Senhor dos Passos, que relembra a Via Crucis percorrida por Jesus, desde sua condenação até a sua morte e sepultamento.
Ambas as procissões são um prelúdio para a procissão do Encontro, quando as duas imagens – a de Nossa Senhora das Dores a de Nosso Senhor dos Passos – são levadas das Igrejas até a Praça Tiradentes. A junção das duas procissões representa o encontro de mãe e filho durante a Via Sacra e é acompanhada por um sermão na própria praça.
Para o ex-prefeito da cidade, Ângelo Oswaldo, essa é a época do ano em que Ouro Preto mais mostra suas características culturais únicas. “É como se a cidade recuperasse a própria história e resgatasse as personagens por seus habitantes atuais. Todos estão ali participando intensamente de um ritual que repete as características do século 18 e como os ouro-pretanos vivem o sentimento da fé com muita devoção, é um momento muito bonito e especial na vida de Ouro Preto”, diz Ângelo.
A historiadora Helenice Afonso de Oliveira também destaca as origens históricas das procissões, que ainda estão presentes nas celebrações. “Todo o ritual é antigo, desde os paramentos, até como a celebração é feita, em latim, assim como todas as músicas”. São essas características tradicionais que, segundo a historiadora, tornam a Semana Santa ainda mais interessante em Ouro Preto, dando a ela características diferentes de ouros lugares que também celebram o período.
E, para quem acha que já conhece Ouro Preto intimamente, as celebrações ainda guardam surpresas. As cinco capelas de Passos que ficam fechadas durante todo o ano são abertas durante a Procissão do Encontro, no Domingo de Ramos. Ângelo Oswaldo, que também foi Secretário de Cultura de Minas Gerais, explica que os passos são pequenas capelas, que representam os passos de Cristo na Via Crucis. “Durante as procissões, músicas compostas especialmente para serem executadas diante dos passos, de grandes compositores do período barroco, são executadas quando as procissões passam”, conta Ângelo.
Essas canções são os famosos motetos. “Músicas curtinhas referentes ao evangelho, cantadas durante as paradas nos passinhos da procissão do Encontro, os motetos são peças do século 18, cantadas em latim”, explica a historiadora Helenice.
Diante desse belíssimo quadro de devoção com suas raízes históricas, fica fácil entender os porquês de Ouro Preto encantar a moradores e visitantes com seus rituais da Semana Santa.