Cultura - Educação

Para além do Enem

12 de Julho de 2019

A grande propaganda que as escolas lançam mão para atrair novos alunos é o ranqueamento dela em exames de universidades, principalmente o Enem. Quanto mais alunos e alunas em altas colocações, melhor para a instituição, que assim pode divulgar seus números positivos.

Esse tipo de exposição é um grande motivador para os pais escolherem um novo colégio para seus filhos. Afinal, quem não quer atingir o sonho de chegar à universidade, ainda mais se for uma instituição federal? Porém, há outro ponto que todos se preocupam: como será a adaptação da criança ou do jovem a esta nova instituição e como ela irá tratar as questões pessoais de cada estudante? Além, obviamente, de uma grade curricular de excelência, escolas têm buscado alcançar um público que se importa tanto com as questões emocionais de si próprio ou de seus filhos quanto com o nível de qualidade do ensino ofertado. E para encontrar a melhor fórmula desta combinação, pedagogos estão se debruçando sobre livros e desenvolvendo novas metodologias de ensino.

Crédito Fotográfico: Oséias Barbosa
 

O colégio IBPI, localizado na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, tem como premissa de seu ensino o respeito à individualidade e desenvolvimento de cada jovem. Utilizando a teoria Construtivista, a instituição utiliza, desde a sua fundação, a base acadêmica da Positivo, parte importante do seu ensino de excelência, mas também faz questão de trabalhar com os estudantes os valores e não apenas o conteúdo. “Nós sempre tivemos ciência que a educação é mais do que um “adestramento” para o exame. Começamos a notar que muitos alunos tinham muita capacidade, mas não ficavam nas colocações que as instituições queriam. Assim, oferecemos tudo para o aluno sentir-se bem e, ao mesmo tempo, estar totalmente preparado para o Enem e outros exames”, afirma a professora Lucia Dieguez, diretora pedagógica da instituição.

A educadora ressalta a necessidade de as instituições de ensino pensarem e atuarem de forma mais humanizada em prol da inclusão, criando ferramentas e envolvendo os professores. “Ocorre também que o Estado clamava por inclusão, mas muitas escolas que se diziam inclusivas não possuíam processos inclusivos de fato. O IBPI, por exemplo, dispensa a necessidade de acompanhantes para alunos portadores de necessidades especiais, pois procuramos tratar este aluno de forma diferenciada e personalizada através do nosso próprio corpo docente”, destaca.

A psicóloga Elisa Bichels afirma que houve uma grande mudança de paradigmas entre a geração de adolescentes atual e a de seus pais. Enquanto a geração X foi estruturada através da punição, a geração Z foi formatada para acreditar que poderia realizar qualquer feito, além de ser bombardeada de informação a todo momento, principalmente pela evolução da internet. Para Elisa, o problema é que a maioria das escolas e dos professores, principalmente na rede pública, continua com a mesma metodologia que possuíam há dez anos ou mais. “As escolas devem entender que possuem uma enorme importância para a vida dos atuais adolescentes. Assim, as instituições educacionais que pensam em ensinos individualizados, mas que agreguem a provisão da saúde mental e vida social dos jovens, já se mostram preparadas para as novas demandas psicológicas e emocionais dos alunos. As escolas precisam entender que os estudantes também devem ser ‘alfabetizados’ na emoção e que a saúde psicológica é tão importante quanto a física”, conclui a psicóloga.

Já o psicólogo Fernando Elias José, especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental que há 20 anos pesquisa e trabalha com estudantes que se preparam para exames e concursos, observa que é preciso estar claro que cada aluno tem o seu tempo. Ele acaba de lançar o livro “Concursos: faça sem medo” e o “Planner do Estudante”, pela Sinopsys Editora, por meio dos quais aborda essa e outras questões sobre os obstáculos e estratégias para estudantes e concurseiros alcançarem a aprovação a partir de conceitos da Terapia Cognitivo-Comportamental.

- O que vejo muito acontecer são candidatos se sentirem desestimulados porque escutaram que o outro tira as notas melhores, que o fulano passou de primeira, que o ciclano disse que nem estudou e conseguiu ir bem. Isso quando não recebem uma desconfiança de forma direta, como “escolhe um curso mais fácil”, “você não vai conseguir”, etc. O aluno tem que ser acolhido no sentido de saber que ele é capaz, mas para isso tem que dar o melhor dele, com organização e dedicação, evitando dar atenção a essas cobranças e comparações negativas que em nada vão lhe ajudar. Com relação à competição, especialmente para cursos mais concorridos, o que recomendo é valorizar a própria caminhada, ciente de tudo que foi feito até então e do que ainda precisa ser feito. Nesse caso, estará sendo evitado o erro bastante comum de que a grama do vizinho é sempre mais verde. Não se deve perder tempo com aquela obsessão de que todos os outros são melhores, que só os outros são capazes. Muito pelo contrário. Ninguém que passa possui dois cérebros. O segredo está nas atitudes e no comprometimento até o dia da prova – orienta Fernando.

Com um perfil de trabalhar pequenas turmas, o IBPI oferece a opção aos alunos de escolherem quais matérias e quantas horas por semana desejam estudá-las. Desta forma, o colégio prioriza não ter um clima de cobranças exacerbadas, promovendo valores, o trabalho em equipe e o desenvolvimento espontâneo do aluno, tanto no aprendizado como na sua inteligência emocional. Além disso, o colégio possui psicóloga para acompanhamento individual dos estudantes e pais. “Trabalha-se também com os pais por meio do diálogo constante. Se o aluno falta ou se atrasa, o pai é comunicado, por exemplo. Tudo o que os alunos fazem fora da linha ou em casos de mudanças drásticas em seus comportamentos, o colégio comunica aos pais. O IBPI tenta evitar as punições ao máximo”, explica Lucia.

O trabalho em equipe é muito estimulado pelos educadores do colégio. Ao invés da competição, algo bem presente em várias escolas, oficinas criativas de trabalho colaborativo, oportunidade para aprofundar conteúdos abordados na sala de aula, como redação, física e matemática, conhecer outros que não fazem parte dessa rotina, como robótica, e aprender por meio de atividades lúdicas. “Esse é o caminho para o crescimento: o esforço conjunto. A escola é uma célula da vida. Na preparação para uma prova tão importante como a do Enem, não necessário e nem salutar incentivar a competição entre colegas de classe. Quando todos trabalham em equipe, todos se ajudam, crescem juntos e a chance de se alcançar o resultado esperado é maior. Saber que não se está sozinho é muito importante nesse período de incertezas e decisões e torna o trajeto muito mais prazeroso de caminhar”, finaliza a pedagoga.

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