Dia da Língua Portuguesa. Dia da morte de Camões. Dia Nacional de Portugal
*Luiz Cláudio Jubilato
“Minha pátria é a língua portuguesa”. Fernando Pessoa(s) – afirmou: Língua de trapo, língua de sogra, língua de trato... Língua de tomar café, cachaça, dinhangoa, sura de fazer cafuné. Língua de comer calulu, bacalhau, pastéis de Belém, gonguenha, mucapata, de sofrer de calundu. Língua de branco, de índio, de negro, de mulato, de tribo, de imigrante, de levar um tranco. Língua de trovador, fado, samba, rapper, de cantar a dor. Língua de xingamento e contentamento, de paixão e maldição, de canção e sermão, de modernidade e tradição...
“Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Camões”. Caetano Veloso – poetizou. Cecília Meireles: “Amor é fogo que arde sem se ver”; Machado: “É ferida que dói e não se sente”; Mário Quintana: “É um contentamento descontente”; Florbela Espanca:“É dor que desatina sem doer”; Adélia Prado: “É um não querer mais que bem querer”; Clarice Lispector:“É solitário andar por entre a gente”; Manoel Bandeira “É nunca contentar-se de contente”; Cora Coralina: “É cuidar que se ganha em se perder”; Jorge de Lima:“É querer estar preso por vontade”; Drummond:“É servir a quem vence, o vencedor”; Mário de Andrade:“É ter com quem nos mata lealdade”. Camões:“Mas como causar pode seu favor, nos corações humanos amizade/ Se tão contrário a si é o mesmo Amor?”
“Tupi or not Tupi – that is the question”, Oswald – questionou.
A Estação Primeira de Mangueira – carnavalizou. “Caravelas ao mar partiram / Por destino encontrara / Brasil... / Nos trazendo a maior riqueza / A nossa língua portuguesa / Se misturou com o tupi, tupinambrasileirou / Mais tarde o canto do negro ecoou / E assim a língua se modificou”. Carnavalizei.Idioma de Campos, Prado, Ramos, Barros, Castelo Branco, Patativa, Lima, Rosa, Florbela, Anjos, Machado...Teresa Salgueiro, Amália Rodrigues; Miguel Araújo e António Zanbujo; Paulo Kabonda e KuenoAionda;GitoBaloi e Isabel Navella...MV Bill, Chico, Caetano e Gil... João Coutinho, ÉlioGaspari, Eliane Brum, Boechat, Dora Kramer...
“Última flor do Lácio, inculta e bela /És, a um tempo, esplendor e sepultura/ Ouro nativo, que na ganga impura / A bruta mina entre / os cascalhos vela”, Olavo Bilac – historiou. Idioma de Guimarães Rosa: “O sertão é o mundo”; Eça de Queirós: “O Brasileiro é o Português – dilatado pelo calor.”; Mia Couto: “A nossa língua comum foi construída por laços antigos, tão antigos que por vezes lhes perdemos o rasto”; Pepetela: “O português. A que tribo angolana pertence a língua portuguesa? ”Aqualusa: “Um povo que deixa o seu idioma degradar-se, aceitando todo o tipo de estrangeirismos, contributos desnecessários, em breve estará de joelhos”.
Idiomatermo: celebremos, afinal falamos Português, pensamos em Português, sonhamos em Português e nos comunicamos em Português. Nosso mundo de palavras, palavras só em português, expressão máxima da nossa nacionalidade, da nossa identidade, da nossa similaridade. Filho do Latim, nascido onde Rômulo e Remo fincaram Roma. Conquistadores, soldados romanos misturaram camas, espermas, bocas, trapos, farrapos com o povo ibérico, assim gestaram reis, rainhas, cristãos-novos, pagãos, judeus, plebeus. Depois se espalhou pelo mundo, “navegou por lugares nunca dantes navegados”. Deu de cara com o índio, o negro e o imigrante. Transmutou-se no maior instrumento de unificação dos povos do mundo lusófono. Comemoremos o nascer deste ser camaleônico com seus mil dialetos, mil sabores, mil odores, mil cantares, mil falares, mil poetares, mil proseares... Cantemos Camões e seus sonetos, verdadeiras canções. Louvemos Os Lusíadas.
Professor de Língua Portuguesa, diretor e fundador do Criar Redação.