Cultura - Teatro

Bárbara Freitas estreia solo Ethos na Funarte

23 de Setembro de 2015

Depois de residência artística no Senegal, bailarina Bárbara Freitas estreia solo Ethos na Funarte

Após convivência com a senegalesa Germaine Acogny, referência mundial da dança contemporânea africana, Bárbara volta ao Brasil com essa experiência na bagagem para apresentação do primeiro espetáculo solo. Ethos, que tem apoio de um Proac Primeiras Obras, recria sua trajetória artística com base em manifestações populares brasileiras e dança africana

 

Depois de dois meses no Senegal (julho e agosto passados), onde esteve para fazer uma residência artística na Ecole des Sables, fundada e dirigida por Germaine Acogny - referência mundial em dança contemporânea africana -, a bailarina Bárbara Freitas apresenta ETHOS. O espetáculo de dança estreia na Ocupação de Dança INQUIETOS da Sala Renée Gumiel, na Funarte, dia 30 de setembro e 1º de outubro, quarta e quintas-feiras, às 20 horas. Depois a bailarina apresenta- se na marquise da Praça do Patriarca (16 e 17 de outubro, às 17h) e em São Bernardo do Campo, interior de SP, no Teatro Elis Regina (6 de novembro, 20h; e 8 de novembro, 19h) e na praça Giovanni Breda (10 e 11 de novembro, ao meio-dia).

 

Cerca de 40 bailarinos participaram da residência intercontinental que propõe o engajamento e resistência da dança negra. Segundo a artista, a viagem foi o cumprimento da necessidade de visitar e viver a dança em diferentes contextos e reconectar suas fontes de inspiração com sua cultura, seu Ethos (palavra grega usada para descrever conjuntos de hábitos ou crenças pertencentes a uma comunidade). A cidade senegalense Toubab Dialaw fica à beira da rota marítima que levava cidadãos africanos para fora do continente a título de escravidão.  “Importante estar neste momento neste espaço e ter a oportunidade de conhecer de perto esse Ethos que nos caracteriza como um coletivo, uma comunidade”, complementa Bárbara.

 

Além de bailarinos do próprio continente, a residência - que acontece de dois em dois anos - também acolhe artistas vindos do mundo inteiro. A escola tem dois estúdios de dança (o principal deles com 400m² de chão coberto de areia). Os alunos residentes ficam em chalés oferecidos pela própria escola. Bárbara participou da atividade junto com alunos vindos da França, Espanha, Guadalupe, Cuba e Benin, Costa do Marfim, Filipinas entre outros países.

 

Sobre A Escola de Areia e a técnica Acogny

 

Fundadora da Ecole dês Sables (escola de areia em wolof, língua nígero-congolesa), localizada na cidade Toubab Dialaw, no Senegal, Germaine Acogny  coordena a companhia Jant-Bi (sol, em wolof), ao lado do marido Helmut Vogt. A técnica Acogny, criada por Germaine Acogny, é uma síntese de diversas danças tradicionais da África. O método trabalha o movimento a partir da coluna, considerada, nos termos da própria bailarina, como “a serpente da vida”. As torções e contrações, o balance elementos frequentes da dança moderna africana, são recorrentes na técnica.

 

“Ela traduz no corpo a energia e potência de diversos seres, como plantas e animais”, diz Bárbara, que tem a dança africana e a cultura popular como foco de pesquisa desde seu início na dança. Algumas das inspirações no movimento cotidiano marcaram a experiência da bailarina que pesquisa seu solo com o intuito de traduzir em seu corpo o cotidiano da cidade natal. Neste sentido, Uma curiosidade são os nomes de alguns movimentos da técnica Acogny que compõem dança e paisagem local, por exemplo, a estrela-do-mar, a palmeira e o baobá.

 

Ethos, uma relação contextualizada entre corpo e ambiente

 

Bárbara também utiliza diversos outros elementos para compor sua dança, muitos deles inspirados na cultura popular brasileira. Um deles é o caboclo de lança. No carnaval pernambucano, a emblemática figura é representada por homens com roupas coloridas e alegóricas. O personagem entra com um cravo branco entre os lábios, um símbolo de conexão e de permissão para se integrar aos demais presentes. É com este mesmo símbolo que a bailarina adentra o palco.

 

Além de conhecimento e prática das danças populares brasileiras, como o maracatu e o cavalo marinho, a bailarina também é conhecedora da dança contemporânea africana. O espetáculo não foi criado apenas para os palcos, podendo também ser apresentado em ambientes que “dialoguem” com o corpo da artista.

 

Em Ethos, Bárbara utilizou o conhecimento adquirido em Senegal para compor o espetáculo, mas a pesquisa começou bem antes da viagem. “Este trabalho é a maneira de contar meu percurso na dança”, explica a artista.

 

Ela ressalta que Ethos não é uma obra de improvisos, mas que há movimentos e “células” de coreografias que criam possibilidades poéticas no local em que ocorre a dança. A atenção ao que ocorre à sua volta também auxiliou outros aspectos do espetáculo: Olivier Kaminski, que assina a criação sonora da obra, caminhou diversas vezes com Bárbara para captar os sons da cidade. “A pesquisa foi ampla. Tentamos compreender a sonoridade dos fluxos de pessoas, da arquitetura e das rotinas”, complementa a artista que também acompanha as mudanças nas apresentações com uma cuíca.

 

A pesquisa resultou numa trilha fixa com sonoridade inspirada na cidade de São Paulo e em outras cidades visitadas pela intérprete, além de elementos que vão sendo adicionados durante os espetáculos, num jogo que depende da sensibilidade de Bárbara com o público e com Olivier.

 

A iluminação criada por Beto de Faria também responde aos fluxos de movimentos e sonoridades. “Tentamos traduzir na luz a possibilidade de um local ter muita potência ou ser inóspito”, diz Bárbara. Assim, ela também conta com a colaboração do artista Marcus Braga, que alimenta esse trânsito de informações com suas pesquisas, seus traços e novas imagens que surgem com a sobreposição das ações nesta dança.

 

Sobre Bárbara Freitas

Bárbara Freitas é bailarina e artista-educadora com experiência em diferentes projetos socioeducativos, como os Programas Piá e Vocacional, em SP, com uma abordagem nas pesquisas que iniciou em 2004 com as danças populares do Brasil. Atua como intéprete, co-criadora e assistente de direção em performances, parcerias e iniciativas de difusão e criação da dança dentro e fora dos palcos. Participou de grupos paulistanos vinculando suas referências e sua formação à arte contemporânea e trilhando um percurso em diálogo com as diversas linguagens artísticas na Cia Artesãos do Corpo, Núcleo Manjarra, Grupo Afro Ilu Obá de Min e Núcleo Pé de Zamba.

 

Ficha Técnica de Ethos

Concepção e interpretação: Barbara Freitas. Orientação: Andreia Yonashiro. Colaboradores: Laura Salvatore, Ana Brandão,Natália Fernades e Rodrigo Caffer. Criação sonora: Olivier Kaminski. Figurino: Maria Gomes. Arte Gráfica:Marcus Braga. Criação e operação de luz: Beto de Faria e Rafael Araújo. Registro Audiovisual: Felipe Teixeira e Francisco Reyer. Produção Executiva: Cais Produção Cultural. Direção de Produção: José Renato Fonseca de Almeida.Assistente de Produção: Larissa Verbisk.

 

Serviço de Ethos

Dias 30 de setembro e 1º de outubro, quarta e quinta-feira, às 20h. Endereço: Alameda Nothmann, 1.058 (perto do Metrô Santa Cecília). Capacidade: 53 lugares. Classificação Indicativa: Livre. Duração: Aproximadamente 35 minutos.Ingressos: R$20 (inteira) e R$10 (meia).

 

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