Da ideia à criação, da concepção ao “primeiro levantar da cortina”, o espetáculo teatral – em suas variadas linguagens contemporâneas – exige um rigor de estrutura que permite a organização das etapas de pré e pós-produção. Quem sabe sobre os bastidores? Profissional fundamental no processo de criação, execução e exibição, o diretor de cena promove a “gestão da criatividade” do material artístico, garantindo seu funcionamento e sucesso na arte com o público e, consequentemente, com a crítica especializada.

Para ampliar a discussão e levantar questões inerentes à teoria e à prática do ofício, Elisete Jeremias, Rafael Bicudo e Victor Gallypromovem, durante os meses de junho, julho e agosto, o projeto Minha Mão Sabe Mais do Que Eu: Uma Imersão de Diretores de Cena Brasileiros. A iniciativa surge da experiência dos três diretores em reconhecidas companhias e trabalhos no Brasil e no exterior a partir da necessidade em verticalizar suas pesquisas e fomentar a formação de novos profissionais no Brasil. Entre as atividades previstas, será promovido um Ciclo de Encontros com artistas convidados na SP Escola de Teatro, na Praça Roosevelt, todas as segundas-feiras de agosto, às 20h, e uma imersão dos idealizadores do projeto em companhias teatrais brasileiras e estrangeiras.

 

O lançamento deste projeto ocorreu no dia 25 de maio, na SP Escola de Teatro, para o público em geral e aprendizes do curso de Técnica de Palco da instituição (matriculados e egressos). Com a presença dos idealizadores, o evento contou ainda com a participação de artistas da classe teatral, como JC Serroni e Viviane Ramos.

 

Uma imersão pelos palcos do Brasil e da Europa

 

Na primeira etapa - que acontece nos meses de junho e julho deste ano – Rafael Bicudo visitará, além de cidades como Berlim e Madri, festivais e companhias, como a Mostra Brasileira na Quadrienal de Praga: Espaço e Design da Performance, e o backstage do Teatro Volksbühner, no qual entrevistará a equipe. Em território brasileiro, os idealizadores “mergulham” nos bastidores de criação e produção de espetáculos encenados nas unidades do Sesc de Santana, Consolação, Vila Mariana e Belenzinho, Fuerza Bruta Wayra, Teatro Municipal de São Paulo, Teatro Martim Gonçalves – Escola de Teatro da UFBA Salvador/BA e Grupo Armazém de Teatro – Fundição Progresso Rio de Janeiro/RJ.

 

Na Europa, por exemplo, é comum o público agendar visitas guiadas aos bastidores das principais casas de espetáculos. Conhecido como backstage tour, o “passeio” descortina o fazer teatral para além daquilo que aparece em cena, revelando os complexos mecanismos e a estrutura exigida para a produção de uma encenação.

 

Alicerce deste edifício, que é a obra teatral, o diretor de cena é aquele que possui um arcabouço teórico e prático para executar o que lhe é esperado – no que diz respeito ao palco – mas, também, resolver as questões administrativas e operacionais que incluem diversos serviços gerais ou, nas palavras do teórico português Pedro António Soares, no artigo A Direção de Cena, um Cargo de Subtileza Artística, ele deve se colocar “(...) numa posição preferencial para ter uma visão 360º mais alargada e precisa de todo o projeto”.

 

“A imersão servirá para mapear os diretores de cena no Brasil e lá de fora, entender possíveis desdobramentos pedagógicos e práticos. Desejamos mostrar que existe um grupo de pessoas que se interessa em unir e juntar essa classe, realizar o contato ‘corpo a corpo’, ouvir suas histórias e experiências, como eles planejam, operam e desmontam um espetáculo”, antecipa uma das idealizadoras, Elisete Jeremias, que integra as companhias Grupo Uzyna Uzona do Teat(r)o Oficina e o Grupo Pândega ao lado dos atores Maria Alice Vergueiro e Luciano Chirolli.

 

Última premiada na categoria Direção de Cena pelo espetáculo Os Sertões, do Grupo Uzyna Uzona, no Pêmio Shell de 2005, Elisete conta que, além da escassa formação no Brasil para estes profissionais, não existe um mapeamento da profissão, um espaço para troca de ideias e compartilhamento das experiências. O objetivo das imersões dos três realizadores em companhias, festivais e teatros no Brasil e no exterior é perceber a real situação dos artistas dos bastidores, como a camareira, o contra-regra e o cenotécnico etc, analisar a agenda de trabalho, conhecer os mecanismos de produção e estreitar laços com os profissionais dos espaços visitados. Em suma, o projeto busca o reconhecimento e a valorização do trabalho deste profissional.

 

Ciclo de encontros promove reflexão interdisciplinar

 

A segunda etapa do projeto soma-se às percepções trazidas da imersão na primeira fase e a pluralidade de visões de artistas das artes cênicas em encontros no Ciclo de Encontros. Aberto ao público em geral, o objetivo é, principalmente, atrair jovens estudantes dos cursos na área e profissionais das companhias de teatro de São Paulo. Previsto para todas as segundas-feiras de agosto, sempre às 20h, com entrada gratuita, na SP Escola de Teatro, na Praça Roosevelt, o Ciclo de Debates pretende estimular a reflexão, abrir perspectivas de trabalho e pedagogias e, ainda, apontar novos caminhos.

 

Com artistas como Aury Porto, Luciano Chirolli, Ivam Cabral, JC Serroni, Simone Mina, Cibele Forjaz e Guilherme Bonfanti, entre outros, as atividades abordarão temas como a relação entre o encenador, o ator, o cenógrafo, o figurinista, o iluminador, o sonoplasta e o diretor de cena. No último dia, 24 de agosto, a Mesa 4, com mediação do ator e fundador da Cia. de Teatro Os Satyros, Ivam Cabral, se dedicará à troca de experiências compartilhadas com importantes nomes da direção de cena brasileira.

 

O projeto Minha Mão Sabe Mais do Que Eu: Uma Imersão de Diretores de Cena Brasileiros possui parceria com o Governo do Estado de São Paulo, SP Escola de Teatro, Associação Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona, Mundana Companhia, Teatro da Vertigem, Estúdio Lusco-Fusco e Baobá Comunicação Cultura e Conteúdo.

 

O público poderá acompanhar o projeto via fanpage no Facebook e no site, que permitirá a interação entre o visitante da página e os artistas durante as imersões nacionais e internacionais, além dos convidados no Ciclo de Debates.

 

 

 

    SOBRE OS IDEALIZADORES

 

Elisete Jeremias

 

Diretora de Cena, Produtora Executiva e Técnica de Efeitos Especiais. Atuante nos últimos

20 anos em grupos de teatro, assina a direção de cena de mais de 30 espetáculos com longa

temporada por todo o Brasil. Participou das montagens de Os Sertões, em Berlim; Boca de Ouro,

em Moscou; Bacantes, na Bélgica e em Portugal, e As Três Velhas, em Cuba. Circula pelas

companhias Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona, Cia Livre, Cia dos Prazeres e Grupo Pândega.

Recebeu o Prêmio Shell pela direção de cena Os Sertões.

 

 

Rafael Bicudo

 

Diretor Artístico, Diretor de Cena, Professor e Pesquisador. Formado em Direção Teatral pela

SP Escola de Teatro, é responsável pela direção de cena do espetáculo A Dama do Mar,

com direção de Robert Wilson, Bom Retiro 958m, e Patronato 999m, do grupo Teatro da Vertigem.

É assistente de direção e diretor de cena do Estúdio Lusco-Fusco. Atualmente, responde pela pesquisa

curatorial da Mostra Nacional Brasileira da Quadrienal de Praga 2015; coordenação da área de design de

aparência no projeto Fábrica de Cultura; e é orientador convidado da SP Escola de Teatro.

 

 

Victor Gally

 

Diretor de Palco, Contra-Regra, Produtor Executivo e Ator. Formado pela Escola de

Teatro da UFBA, possui experiência em diferentes campos das artes cênicas. Desde a atuação,

passando pela contra-regra, direção de cena, produção executiva. Produções e montagens

teatrais também fazem parte da sua carreira. Participou de festivais nacionais e internacionais

de teatro, atua na produção de eventos e festas e, no cinema, participou em curtas e

longas como ator.