O sucesso das telenovelas globais se deve a um nome em especial: Jenete Stocco Emmer ou simplesmente Janete Clair, a grande dama ou maga das novelas das oito da noite na televisão brasileira, que a partir de 1969, quando escreveu “Véu de Noiva” para a emissora carioca, provocou um grande abalo na teledramaturgia tupiniquim.
A grande novelista na década de 40 na Rádio Tupi Difusora |
Nascida em uma pequena cidade, Conquista, no interior de Minas Gerais, há exatos 90 anos, Janete descobriu o que queria fazer na vida quando a família se mudou para a cidade de Franca, no interior de São Paulo, e ela conheceu a carreira artística no rádio, cantando em francês e árabe em uma emissora local.
Mas foi ao passar em um teste para ser rádioatriz e locutora na Rádio Tupi-Difusora, na capital paulista, em 1943, que ela começou uma brilhante carreira artística. Foi nos corredores da Rádio Tupi que ela conheceu o rádioator Alfredo Dias Gomes com quem se casou em 1948, se transferindo para o Rio de Janeiro e para a Rádio América, onde Dias Gomes foi ser diretor de rádioteatro.
Incentivada pelo marido ela começou a escrever radionovelas e mudou seu nome artístico para Janete Clair. O sucesso na Rádio Nacional com suas radionovelas a tornou muito conhecida no Rio de Janeiro, mas não foi o suficiente para que lhe dessem uma oportunidade na televisão, e ela só venceu o preconceito em 1964, quando a TV Tupi do Rio aceitou realizar a novela “O Acusador”, com direção de Fábio Sabag e Jardel Filho no papel principal.
Com "Selva de Pedra" bateu todos os recordes de audiência |
Mas foi somente quase três anos depois que, em 1967, Janete recebeu um convite de José Bonifácio de Oliveira, o Boni, para tentar salvar uma novela que custava muito para a emissora mas não dava audiência. Era “Anastácia, A Mulher Sem Destino”, uma daquelas adaptações totalmente fora da nossa realidade que dona Gloria Magadan tanto gostava naquela época.
O público a conheceu em "Anastacia, A Mulher Sem Destino" |
Janete Clair não se fez de rogada e provocou um grande furacão que devastava a ilha em que a história era passada, eliminava grande parte do elenco e quase que começava de novo, agora dando um pulo de 20 anos e com um elenco bem reduzido. E essa “revolução” mostrou para a emissora que aquela autora não brincava em serviço e poderia trazer grandes trabalhos para a emissora.
E foi justamente Janete Clair quem provocou um furacão ainda maior na teledramaturgia da emissora, dois anos depois, junto com o diretor Daniel Filho, ao decretarem o fim do reinado de Glória Magadan com a estréia da primeira novela das oito com temática nacional e diálogos contemporâneos: “Véu de Noiva”, que entraria para a nossa teledramaturgia também por marcar a estréia de Regina Duarte na emissora.
A consagração chegaria para a novelista em 1970, quando ela escreveu seu trabalho mais longo (foram mais de 320 capítulos), a saga de “Irmãos Coragem”, um sucesso absoluto de audiência e de crítica. Logo em seguida, já que Janete Clair nunca foi de tirar longas férias do vídeo, ela viria com o misticismo de “O Homem que Deve Morrer”, onde ela e o ator Jardel Filho voltariam a se encontrar. Mas foi em 1972 que ela conseguiria a proeza de escrever uma novela que conquistaria quase 100% de audiência em um capítulo, “Selva de Pedra”, outro marco da nossa teledramaturgia, estrelada por Francisco Cuoco, Regina Duarte e Dina Sfat.
Com o marido Dias Gomes revolucionou as novelas da TV Globo |
A partir daí, os sucessos às oito da noite na TV Globo estavam garantidos se a autoria da novela fosse de Janete Clair. E viriam “O Semideus”; “Fogo Sobre Terra”; “Pecado Capital”; “Duas Vidas”; “O Astro”; “Pai Herói”; “Coração Alado” e “Sétimo Sentido”.
Ela escreveu ao todo 18 novelas para a TV Globo |
Ela também escreveria uma novela para o horário das 19h, que foi “Bravo”, em 1975, e outra para o das 22 horas, “Eu Prometo” que acabou sendo seu último trabalho, já que logo no início da confecção da novela Janete descobriu um câncer no intestino que a levou com a novela ainda no ar e com apenas 58 anos de idade, deixando o viúvo Dias Gomes e três filhos: Alfredo, Guilherme e Denise.
Com "Irmãos Coragem" se tornou a grande dama das oito da noite |