Ele nasceu ainda no século 19, exatamente em 1897, como Humberto Duarte Mauro, em uma fazenda, em Volta Grande, no interior de Minas Gerais. Filho de um imigrante italiano com uma mineira, Humberto Mauro se tornaria uma lenda e seria um pioneiro e um dos maiores diretores do cinema nacional de todos os tempos.
"Sangue Mineiro", o mais intimista dos filmes dele |
O primeiro passo foi comprar uma câmara Kodak, em 1923, e junto com Pedro Comello, um italiano que era o principal fotógrafo da cidade, descobrir os segredos para registrar boas imagens. Os dois comprariam uma pequena filmadora de 9,5 mm e com elas realizaram um curta-metragem de aventura: “Valadião, o Cratera".
"Brasa Dormida" se tornou um clássico do cinema mudo brasileiro |
No início da década de 20 os dois conseguiram um financiamento e compraram uma filmadora 35 mm no Rio de Janeiro e centenas de metros de película. Surgia assim a Phebo Sul América Filmes, e o primeiro filme da nova companhia foi "Na Primavera da Vida", em 1926, e no qual Humberto Mauro dirigia, escrevia os roteiros, operava a câmera, colaborava nos cenários e na iluminação, além de também interpretar um dos principais papéis.
Ele fez curtas, longas e muitos documentários |
Em 1927, com o segundo filme, "Tesouro Perdido", Humberto Mauro conquistou o prêmio de melhor filme do ano. A partir daí sua empresa cresceu e passou a ter mais recursos financeiros e técnicos, e foi assim que surgiram duas obras primas: "Brasa Dormida", um clássico do cinema mudo brasileiro e um misto de aventura e romance, que chegou a ser distribuído no exterior pela Universal Pictures; e “Sangue Mineiro”, um filme intimista e que foi um grande sucesso de crítica e público.
Humberto Mauro na década de 20 em pleno cinema mudo |
O sucesso e o reconhecimento desses filmes o levaram para a Cinédia, onde foi dirigir filmes expressivos do início do cinema falado, como a comédia romântica "Lábios Sem Beijos"; o drama “Barro Humano”; “Mulher”, outra obra prima do nosso cinema que foi “Ganga Bruta”, um filme que retrata a vida brasileira nos anos 30, destacando o início da violência urbana e a questão da repressão sexual, estrelado por Durval Bellini, Lú Marival e Déa Selva, e o musical "A Voz do Carnaval", de 1933, co-dirigido por Adhemar Gonzaga e que lançou Carmen Miranda no cinema.
Considerado o pai do cinema brasileiro, ele também dirigiu vários documentários: "As Sete Maravilhas do Rio de Janeiro", "Inauguração da Sétima Feira Internacional de Amostras da Cidade do Rio de Janeiro", "General Osório" e "Pedro II".
Na década de 30 ele ainda dirigiria "Favela dos Meus Amores", com uma trilha musical de clássicos da MPB e "Cidade Mulher". Em 1936 ele entrou para o Instituto Nacional do Cinema Educativo e ainda filmaria os longas-metragens "O Descobrimento do Brasil", "Argila", e "O Canto da Saudade", este último de 1952.
Cartaz de "Ganga Bruta", um dos clássicos do nosso cinema |
Suas últimas realizações foram os curtas “A Velha a Fiar” e “Carro de Bois”, este de 1974. Ele inspirou uma geração de cineastas brasileiros, como Nelson Pereira dos Santos, Alex Vianny e Paulo César Saraceni. E no final da vida passou a viver em definitivo em seu sítio Rancho Alegre, no município de Volta Grande, onde morreu, aos 86 anos, quase que completamente cego, após uma forte pneumonia.