Colunistas - Rodolfo Bonventti

O diretor que conquistou Cannes

16 de Março de 2015

Nascido no interior de São Paulo como Victor Lima Barreto, em 1906, ele se transformou em um dos nomes mais importantes do cinema brasileiro na década de 50.

O cineasta começou  realizando curtas metragens

Autodidata, o cineasta e roteirista Lima Barreto tinha quase 40 anos quando resolveu que o seu caminho era o cinema e começou a rodar curtas metragens, mesmo sem nunca ter frequentado um curso para tal. Dessa época são os curtas “O Caçador de Bromélias” e “Fazenda Velha”.

O filme "O Cangaceiro" venceu o Festival de Cannes em 1954

Mas foi no início da década de 50, quando foi contratado para dirigir e escrever roteiros cinematográficos para a Companhia Vera Cruz, que Lima Barreto ganhou prestígio e se tornou um nome conhecido.

Dirigindo o ator Milton Ribeiro no clássico "O Cangaceiro"

Seu primeiro filme como diretor foi o premiado documentário “Painel”, um retrato das artes plásticas no Brasil e, em especial, um retrato do quadro “Tiradentes”, uma obra prima do artista mineiro Cândido Portinari.

Mas foi em 1953 que Lima Barreto realizou seu grande sonho, o filme de aventura “O Cangaceiro”, baseado em um roteiro dele mesmo, inspirado nas lendárias figuras de Lampião e Maria Bonita. Para escrever boa parte dos diálogos ele foi buscar a ajuda da escritora Rachel de Queiroz, uma profunda conhecedora do sertão brasileiro e da vida de cangaceiros e jagunços.

Considerada na época a maior e mais cara produção da Companhia Vera Cruz, “O Cangaceiro” foi um grande sucesso de bilheteria no Brasil e se tornou o nosso primeiro filme a ser exibido no exterior, concorrendo no Festival de Cinema de Cannes, na França, desde aquela época um dos mais importantes festivais do mundo.

Além de diretor foi roteirista de importantes produções

 

E para a glória de Lima Barreto, o filme conqustou dois prêmios: o de melhor filme de aventura e de melhor trilha sonora, com a música “Mulher Rendeira”, interpretada pela também atriz Vanja Orico e pelo grupo Demonios da Garoa.

Com a vitória em Cannes, “O Cangaceiro”  foi vendido para a Columbia Pictures que o distribuiu para vários países, contribuindo também para uma carreira internacional dos principais atores: Alberto Ruschel e Vanja Orico.

De gênio difícil e muitas vezes polêmico, Lima Barreto teve dificuldades para realizar outros projetos grandiosos no cinema, como filmar “O Sertanejo”.  Foi assim que enquanto esperava realizar mais essa obra, se dedicou a rodar os documentários “São Paulo em Festa” e “Arte Cabocla”.

O último grande filme que ele realizou foi em 1961, quando escreveu e dirigiu “A Primeira Missa”, estrelado por ele mesmo e Dionisio Azevedo. A partir daí sua participação no cinema foi como roteirista, escrevendo “Quelé do Pajeú” que em 1969 foi dirigido por Anselmo Duarte e “Pontal da Solidão”, realizado em 1978 pelo ator e diretor Alberto Ruschel, que havia feito “O Cangaceiro” com Lima Barreto.

Também foi dele o roteiro do filme “Inocência”, realizado em 1983 por Wálter Lima Junior e estrelado por Fernanda Torres e Edson Celulari. Ele foi casado com a atriz Arassary de Oliveira, mas após o divórcio passou a morar sozinho e se entregou à bebida e à boemia.

Vanja Orico atuou e interpretou a canção tema de "O Cangaceiro"
 

Vitimado por um enfarte, Lima Barreto morreu esquecido em um asilo da cidade de Campinas, aos 76 anos. Um triste fim para um nome tão importante do cinema brasileiro. 

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