Cacá Carvalho tem uma trajetória incomum, um percurso de vida artística único. Teatro, cinema, TV, tudo fez ou faz parte de seu cotidiano. Mas o que o interessa verdadeiramente é perscrutar o homem e sua crise em viver, esse é centro da questão para ele. Por isso agora, ineditamente, ele se debruça no texto Memórias do Subsolo, escrito por Fiódor Dostoiévski e estreia dia 14 de março de 2015 às 20h, no Sesc Santo Amaro, o seu novo espetáculo, 2 x 2 = 5 O Homem do Subsolo.
Há exatos 21 anos, Cacá Carvalho estreava seu primeiro Pirandello: “O Homem com a Flor na Boca” , depois vieram, “A Poltrona Escura” e “umnenhumcemmil” . Portanto, Pirandello sempre foi um autor que o motivou em suas digressões artísticas e filosóficas do fazer teatral. Agora, com Dostoiéviski em “2 x 2 = 5 O Homem do Subsolo”, Cacá Carvalho quer colocar em cena todo o universo subterrâneo de um homem que abandona o convívio social e tem como bem precioso (e também seu sofrimento), a consciência do significado de estar aqui, entre os vivos, entre os seres humanos.
A equipe com a qual Cacá Carvalho trabalha se mantém a mesma há 27 anos: na direção Roberto Bacci, no cenário e figurino Márcio Medina, na dramaturgia Stefano Geracci e na luz Fábio Retti.
Essa montagem de 2 x 2 = 5 O Homem do Subsolo é a primeira produção do Teatro della Toscana, uma junção da antiga nomenclatura Fondazione Pontedera com o atual Teatro de La Pergola, em Firenze, na Itália. Agora o Teatro Della Toscana é um patrimônio cultural em nível nacional, o que significa ser subsidiado pela cidade e ter mais e melhores condições de continuar a fazer as pesquisas cênicas, que há mais de um século realiza, caso do Teatro de la Pergola. Esse espetáculo é uma coprodução da Casa Laboratório para as Artes do Teatro com o Teatro della Toscana, estreou na Itália em fevereiro desse ano e agora faz sua estreia nacional no Sesc Santo Amaro.
Segundo o importante crítico italiano Andrea Porcheddu, “... o ator brasileiro [Cacá Carvalho em “2 x 2 = 5 O Homem do Subsolo”] não hesita em atirar-se no jogo de representar visceralmente: arrasta consigo sua máscara pelos abismos - não somente mentais - de Dostoiéviski. De fato, toca também nos extremos de uma “fisicidade” exposta desde o início, tornando-a a seu modo sacra. (...) Ali dentro daquele cenário, ele cava – espião humano desesperado – o protagonista na procura da memória de si, de algum trapo de felicidade, de alguma liberação social e pessoal da hipocrisia e da frustação. Ele está ali, com a sua barriga, com aquele seu corpo evasivo acertando com as contas com o seu passado.
Sinopse
Em cena um homem que, depois de passar a vida à procura de um pensamento consciente, aprofundou-se no subsolo de si mesmo. Ali, a luz da consciência transformou-se em escuro, transformou-se naquilo que de mais terrível possuímos. Ali está um homem cínico, um homem amargurado, um homem sem hipocrisias que gira, fazendo piadas sobre si mesmo. O que vemos em cena é um espetáculo-confissão, que não deixa espaço para a hipocrisia. O personagem de Dostoiévski é um homem amoral, que mergulha nas profundezas para encontrar o sagrado.
2 x 2 = 5 O Homem do Subsolo
Uma pessoa realmente consciente pode ter algum respeito por si? Pode-se ao menos com si mesmo ser absolutamente sincero sem ter medo de toda a verdade? Que coisa se pode esperar do homem, se na realidade ele é uma mistura de tantas estranhezas?
O espetáculo é resultado dessas questões ancoradas na literatura de Dostoiévski. É um espetáculo que balança o ânimo e obriga a reflexões. Estar de acordo com todo o discurso do personagem, deste homem que sofre de fígado, que grita contra o mundo verdades e não verdades, estar de acordo com tudo é difícil, porque significaria acabar com qualquer perspectiva de viver uma existência minimamente decente, porém, os pontos que ele toca, que nos revela, guia-nos na direção de uma descida escura na nossa consciência.
Dostoievski dizia, “Estou escrevendo um romance que me dá muito sofrimento”, em outra carta escreve, “Eu tenho nervos fortes, e não consigo ter domínio de mim mesmo”.
Este tormento interior que parece apertar o escritor Russo, em uma mordida na própria vida sem saída, revela-se inevitavelmente em todas as paginas deste texto, aparece como o espelho de sua alma, em um período de profunda reflexão diante do sofrimento de sua mulher na cama, mas ao mesmo tempo, de muita lucidez e de grande ironia intelectual.
Nunca, como neste conto, Dostoievski colocou-se tão a nu, colocou no papel o seu subsolo, o seu escuro e penetrante tête-à-tête, com sigo mesmo. Uma auto confissão, do protagonista-narrador que golpeia com a sua dissecante crueldade às dores de um anti-herói, como ele mesmo se define, e representa perfeitamente a crise do homem moderno, numa época de transição e de conflitos.
Neste romance Dostoievski apresenta-se como absoluto antecessor de Freud e da sua teoria da psicanálise, Dostoievski se analisa melhor do que em um leito de psicanálise. Com a consciência plena de que “precisamos se sinceros primeiramente com nós mesmos”, o autor persegue-se, indaga, sacode-se sem nenhuma piedade, a própria bagagem interior, o resultado final de tal análise.
Da parceria Brasil/Itália
No ano de comemoração dos 40 anos da Fondazione Pontedera Teatro, Cacá Carvalho, Roberto Bacci, Stefano Geraci, Marcio Medina e Fábio Retti estão ensaiando um novo espetáculo, baseados no livro “Memórias do Subsolo”, de Fiódor Dostoievski.
Il Cielo per Terra , foi o primeiro espetáculo em que o paraense Cacá Carvalho atuou, dirigido por Roberto Bacci. Sucessivamente, Cacá Carvalho tornou-se também colaborador, pedagogo e assistente de direção do Centro per la Sperimentazione e la Ricerca Teatrale, hoje Fondazione Pontedera Teatro.
Em 2004, fundaram na cidade de São Paulo a Casa Laboratório para as Artes do Teatro, fruto da parceria com o Teatro della Toscana e Roberto Bacci. Dos encontros entre Cacá Carvalho e Roberto Bacci [Brasil e Itália] surgiram diversos espetáculos. Entre eles: “O Homem com a Flor na Boca”, de Luigi Pirandello , “O Hóspede Secreto”, com Joana Levi e Cacá Carvalho , “A Poltrona Escura”, de Luigi Pirandello , “umnenhumcemmil”, de Luigi Pirandello . Todos sob direção de Roberto Bacci e dramaturgia de Stefano Geraci.
A Casa Laboratório para as Artes do Teatro, dirigida por Cacá Carvalho, tem no seu histórico os espetáculos: “A Sombra de Quixote”, “O Homem Provisório”, “Os Figurantes”, todos com direção de Cacá Carvalho, com atores formados no curso de 10 anos neste espaço de formação e pesquisa teatral.
Ficha Técnica
Direção: Roberto Bacci
Dramaturgia: Stefano Geracci
Elenco: Cacá Carvalho
Cenário e figurino: Márcio Medina
Desenho de luz: Fábio Retti
Musica Original: Ares Tavolazzi
Tradução para o português: Anna Mantovanni
Produção: Teatro della Toscana, Teatro Era Csrt e Casa Laboratório para as Artes do Teatro
Serviço
De 14 de março a 25 de abril de 2015
Quintas e sextas às 21h; Sábados às 20h
SESC Santo Amaro – Teatro
Rua Amador Bueno, 505, Santo Amaro – São Paulo
Telefone: (11)5541-4000
Duração: 80 min/ Recomendação: 14 anos/ Lotação: 279 lugares
Ingressos: R$ 20,00 (inteira/ público em geral), R$ 10,00 (aposentado, pessoa com mais de 60 anos, pessoa com deficiência, estudante e servidor da escola pública com comprovante) e R$ 6,00 (trabalhador do comércio de bens e serviços e turismo credenciado no Sesc e dependentes).