Colunistas - Rodolfo Bonventti

O polêmico cineasta que ganhou o mundo

26 de Janeiro de 2015

O baiano Glauber de Andrade Rocha foi alfabetizado pela mãe e criado de acordo com os preceitos da Igreja Presbiteriana. Nascido em Vitória da Conquista, mudou-se com a família para Salvador quando tinha oito anos.

Glauber Rocha começou como crítico de cinema
 

Foi no colégio em Salvador que começou a mostrar o seu talento escrevendo e atuando em uma peça. Fez o curso de Direito na capital baiana, mas largou o mesmo no início do terceiro ano e resolveu investir no trabalho de crítico de cinema. 

A nova opção foi um passo para entrar definitivamente no mundo cinematográfico e se transformar em um dos nomes mais importantes do Cinema Novo, uma fase que viveu o nosso cinema em toda a década de 60. Glauber começou como documentarista e fez, em 1958, com poucos recursos, sua primeira fita, “O Pátio”. Para sobreviver, se tornou repórter no “Jornal da Bahia” e logo se tornou o responsável pelo Suplemento Literário do jornal.

O segundo filme ele nunca acabou, o curta-metragem “Cruz na Praça”, baseado em um conto seu. Nessa época se casou com a atriz iniciante Helena Ignez, que ele conheceu na faculdade de Direito e que foi a estrela de “O Pátio”. Com ela Glauber teve sua primeira filha, Paloma, mas o casamento não durou três anos.

 

"Barravento" com Antonio Pitanga foi o primeiro longa
 

Glauber nunca foi uma unanimidade, mas com certeza ninguém pode lhe tirar o título de criador de uma nova identidade para o cinema brasileiro daquela época. Para fazer frente às chanchadas musicais ou ao filmes de cangaço, ele deu início a uma reformulação total com o filme “Barravento”, realizado em 1961 e que ele finalizou com a ajuda de Nelson Pereira dos Santos.

Glauber foi também repórter e editor literário
 

Nascia ali o princípio de "uma câmera na mão e uma idéia na cabeça", que perseguiria Glauber pelo resto da sua vida e, de uma forma simples, tentava explicar a filmografia inquietante do cineasta, que começou a ganhar o mundo e a fazer barulho aqui no Brasil em 1964, quando ele lançou “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, premiado no Festival de Cinema Livre de Porreta, na Itália.

Se no Brasil os críticos e o público ainda se assustavam com o impacto que a linguagem desse filme provocou, três anos depois, em 1967, Glauber cravava definitivamente o seu nome no cinema nacional e mundial com “Terra em Transe”, uma grande alegoria sobre um líder político em um país imaginário e estrelado por grandes atores como Paulo Autran, Jardel Filho, Paulo Gracindo, José Lewgoy e Glauce Rocha. O filme ganhou o troféu Luís Buñuel no Festival de Cannes e o prêmio da Federação Internacional de Imprensa Cinematográfica.

Othon Bastos em "Deus e o Diabo na Terra do Sol"
 

Dois anos depois Glauber volta a agitar o Festival de Cannes e conquista mais um prêmio importante: o de melhor direção com “O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro”. Seus filmes sempre tiveram problemas com a censura no Brasil, e em 1970 ele filma no Quênia e na Espanha, produzindo os longas “O Leão de Sete Cabeças” e “Cabeças Cortadas”. Em 1971, em plena radicalização do regime militar, Glauber resolveu partir para o exílio e viajou pelo mundo, estudando em Nova York, realizando um documentário no Chile e um filme em Cuba.

Ele só voltou para o Brasil em 1976 e aqui fez um curta metragem que também provocou muita polêmica, “Di Cavalcanti", que ganhou um prêmio especial do júri do Festival de Cannes. Sofreu um baque forte com a trágica morte da irmã, a atriz Anecy Rocha, que caiu no poço do elevador do prédio onde morava.

Paulo Autran no premiado "Terra em Transe" de 1967
 

Mesmo assim ainda fez o filme “A Idade da Terra”, seu último longa metragem, em 1980, e algum tempo depois do lançamento do mesmo, foi morar em Sintra, uma cidade de veraneio portuguesa. Começou a passar mal em julho de 1981 quando se preparava para iniciar mais um filme e ficou 18 dias internado em Lisboa. Veio transferido para a Clínica Bambina, no Rio de Janeiro, onde morreu em 22 de agosto de 1981, com apenas 42 anos, vítima de septicemia e de problemas bronco pulmonares.

Glauber nas filmagens de "O Dragão da Maldade" em 1969
 

Era o fim de um cineasta controvertido e muitas vezes incompreendido, mas premiado internacionalmente por suas idéias e pelos seus filmes.

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