Colunistas - Rodolfo Bonventti

O maior sambista da música brasileira

8 de Dezembro de 2014

Angenor de Oliveira, o nosso Cartola, é até hoje considerado como o maior sambista da história da música nacional. Ele nasceu no bairro do Catete, mas passou a infância em Laranjeiras.

Cartola é considerado nosso maior sambista
 

Filho mais velho de uma família muito humilde, ele tinha sete irmãos e descendia de escravos do Barão de Carapebus. Cresceu torcendo pelo Fluminense e fã dos ranchos carnavalescos. Foi um dos fundadores do rancho “Arrepiados” e do Bloco dos Arengueiros, que em 1928 deu lugar à escola de samba Estação Primeira de Mangueira.

Começou tocando cavaquinho no "Arrepiados", mas precisa ganhar dinheiro e foi se empregar como pedreiro. E foi lá, entre uma construção e outra que ganhou o famoso apelido porque usava uma espécie de chapéu coco que os companheiros de trabalho chamavam de “cartolinha”. 

Com 19 anos se casou com uma vizinha do seu barraco, Deolinda, que era sete anos mais velha, e na sua casa se abrigava gente como Noel Rosa, por exemplo. No Morro da Mangueira se tornou amigo de Carlos Cachaça, com quem fez sambas antológicos e criou a Estação Primeira.

Cartola cumprimenta João Nogueira
 

O primeiro samba enredo foi "Chega de Demanda", e em 1930, foi procurado por Mário Reis para compor canções para ele e para Francisco Alves. O primeiro sucesso com o Rei da Voz foi “Que Infeliz Sorte", e depois vieram outros como “Perdão, Meu Bem"; “Divina Dama” ou “Tenho Um Novo Amor", que ele compôs com Noel Rosa e foi gravado por Carmen Miranda.

Em 1940, Cartola recebe um convite do maestro Heitor Villa-Lobos para formar um grupo de sambistas que fariam apresentações para convidados e o maestro norte-americano Leopold Stokowski, a bordo do navio Uruguai. O sucesso chegou e ele foi para a Rádio Cruzeiro do Sul onde criou o programa “A Voz do Morro”.

Com a morte da mulher no final da década de 40, Cartola deixou o Morro da Mangueira e sumiu por um período de cerca de sete anos. Nessa época ele conheceu Dona Zica, com quem voltou a morar no Morro e o casal criou uma fórmula que os tornou respeitados em todo o Rio de Janeiro: um ponto de encontro de sambistas de toda a cidade, o “Zicartola”, onde além de uma boa cozinha administrada por Dona Zica, Cartola fazia as vezes de mestre de cerimônias, propiciando o encontro entre sambistas do morro e compositores e músicos de classe média.

Cartola e Dona Zica na década de 70
 

Foi nessa época, década de 60, que surgiram clássicos como “Alvorada”; “O Sol Nascerá” e “Nós Dois”. O sambista também experimentou uma rápida carreira como ator, atuando nos filmes “Orfeu Negro”; “Ganga Zumba” e “Os Marginais”.

Em 1974, aos 66 anos, ele teve a oportunidade de gravar o seu primeiro disco solo, “Cartola”. Pelo disco recebeu vários prêmios e, a partir dele, o compositor e intérprete Cartola conseguiu fama e prestígio com músicas como “As Rosas Não Falam” e “O Mundo é um Moinho”.

Foi homenageado em 1977, pela TV Globo, que fez um programa “Brasil Especial" dedicado exclusivamente a ele e sua obra. Diagnosticado com câncer na tireoide em 1979, ele ainda teve tempo de gravar um quarto LP, “Cartola – 70 anos” e de conceder uma entrevista de horas para a Rádio Eldorado, que acabou se tornando mais um LP que foi lançado na década de 80.

Na avenida defendendo a sua Estação Primeira de Mangueira
 

 

 

Cartola foi derrotado pelo câncer em 30 de novembro de 1980, aos 72 anos de idade, e seu corpo foi velado na quadra da Estação Primeira de Mangueira, com a bandeira do Fluminense cobrindo o caixão.   

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