Mesclando referências da literatura de Hilda Hist e Simone de Beauvoir, da pintura de Frida Kahlo, da dança de Lia Rodrigues e até do cinema de David Lynch, Na Companhia das Meninas reestreia o espetáculo de teatro-dança Ser Outra no sábado, 22 de novembro às 20h30 no Ateliê das Meninas (sede Cia situada na Rua Motuca, 35 - Aclimação). Com atuação e direção de Ana Paula Lopez e Paty Jaia, a montagem explora a questão do corpo feminino como objeto em diversas culturas. Pesquisas de campo em delegacias da mulher e em grupos de ajuda a mulheres vítimas de violência física e psicológica foram utilizadas para dar mais vivacidade ao processo de imersão que durou três anos.
Na trama, uma lâmpada acende no sótão do inconsciente de uma mulher e ilumina seus móveis antigos, suas memórias, loucuras e incertezas. O encontro entre uma cadeira, uma mulher e seu avesso resulta em uma interface entre o teatro, a dança, a poesia e a performance. Trata-se de uma reflexão crítica sobre a violência e a midiatização do corpo feminino. A peça faz curta temporada de quatro apresentações, sendo três aos sábados (22 e 29 de novembro e 13 de dezembro) e uma no domingo (7 de dezembro).
Para construir o espetáculo, foram incorporadas diversas inspirações no campo artístico. Sonetos que Não São, da escritora Hilda Hist, traz a aflição da mulher sobre a obrigação imposta pela sociedade como o casamento e ser mãe. A pintora Frida Kahlo transformava suas dores pessoais em obras de arte. O quadro As Duas Fridas é um dos principais espelhos para as personagens em cena.
“Tratamos de um tema relevante para uma reflexão atual: a espetacularização do corpo e todas as neuroses causadas pela sexualização da imagem feminina. É um tema relevante também para os homens que sofrem com a crescente necessidade de uma imagem que não se tem. Os modelos de beleza ditados não refletem a realidade brasileira, são corpos com altura, peso, textura de cabelo e cor de pele mais parecidos com os padrões germânicos do que com os padrões nacionais. O teatro, a dança e a poesia tornam a montagem híbrida e proporciona uma multiplicidade de leituras”, conta Ana Paula Lopez.
A performance de dança Aquilo De Que Somos Feitos, de Lia Rodrigues, dialoga com a concepção de Ser Outra, pois o corpo é centro de todas as ações deste espetáculo, assim como a pesquisa do duo. “A inspiração foi para a criação dos movimentos, o corpo é onde se manifestam a violência física e psicológica, é o enfoque central”, diz Paty Jaia.
Já as palavras da escritora francesa Simone de Beauvoir também funcionaram como propulsores para a encenação. “Esta influência fica clara mais no sentido de união e sobre o futuro. Que mulher quero ser? Qual é o papel dela na sociedade? São estes os principais questionamentos que a escritora aborda, e nós inserimos em cena”, fala Ana Paula Lopez.
O cenário simboliza o vazio, um sótão que funciona com uma espécie de subconsciente, efeito enfatizado pela iluminação. São características que evidenciam o lado cinematográfico do cineasta David Lynch para a história e criam uma atmosfera lúdica com devaneios na narração fragmentada, focando em uma experiência mais sensorial e não linear. O figurino se baseia nas pin-ups, belas mulheres com ar clássico e retro que fizeram sucesso em pôsteres com soldados americanos dos 40 e 50. Na palco, a cadeira se transforma, ganha outros significados e faz uma analogia ao tema mulher como objeto.
Na pesquisa, Ana Paula Lopez e Paty Jaia visitaram delegacias da Mulher e grupos de ajuda a mulheres e conferiram de perto as vítimas. “Em cena, falamos da mulher que sofre na Rocinha, daquela que é apedrejada no Oriente Médio, aquela que deseja ter os padrões da Barbie. Procuramos atingir uma universalidade no tema e deixá-lo atemporal”, enfatiza Ana Paula Lopez.
Ser Outra é o primeiro trabalho da trupe Na Companhia das Meninas. Ana Paula Lopez e Paty Jaia já trabalharam juntas em outras cias e resolveram unir seus universos artísticos focados no teatro e na dança.
Na Companhia das Meninas
Somos um grupo de artistas que trabalha com a pesquisa e criação de espetáculos de Teatro, Dança e Teatro-Dança. Nossa missão é compartilhar com o público o nosso olhar sobre o ser humano.
Sobre Ana Paula Lopez
Cursa a EAD – Escola de Artes Dramáticas da USP. É Bacharel pelo Curso Superior de Dança da Universidade Anhembi Morumbi. Fez o intensivo de interpretação para cinema no Estúdio Fátima Toledo. Estudou canto com Flavia Campos e Madalena Bernardes. Foi bailarina e dramaturgista nas CAOS! Cia de Artes. Suas obras coreográficas foram realizadas em vários festivais como a Bienal SESC de Dança (Santos), Festival Internacional da NovaDança (Brasília), Seminário Senac Corpo & Tecnologia (São Paulo), Laboratorio de Improvisación del Mercosur (Santiago del Estero / Argentina), Sexta na Tomada - Estúdio Nova Dança (São Paulo), Teorema - Estúdio Nave (São Paulo). Fez o solo de dança-teatro CASA! Se apresentando no evento Feminino na Dança (Centro Cultural Vergueiro) e Noites de Dança (Sesc Santo André ). Como atriz participou do FRINGE- Festival de Curitiba com o espetáculo Perséphones,sob direção de André Bortolanza com a Dharma Cia de Artes. Adaptou a obra Memórias Póstumas de Brás Cubas e trabalhou como atriz no Porão de Memórias – do finado Brás Cubas, dirigido por André Bortolanza, com a ‘na Companhia das Meninas’ ficando em cartaz no teatro Anhembi-Morumbi – São Paulo. Integrou o exercício VoraZcidade dirigido por Silvana Garcia e Mônica Montenegro, participando da Mostra Universitária do TUSP, 2013. Paticipou do espetáculo Eleutheria, texto de Samuel Backett, dirigido por Bel Teixeira, ficando em cartaz no Teatro Laboratório da USP em julho de 2013. Apresentou o espetáculo Cimbeline ao Vivo, texto do William Shakespeare e direção de Carla Candiotto, ficando em cartaz no Teatro Laboratório da USP em dezembro de 2013.
Sobre Paty Jaia
Formação: UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas – 1995 a 1999. Bacharelado e Licenciatura em Dança. Integrou a Cia Domínio Público com direção de Holly Cravell (1999 a 2001) onde dançou nos seguintes trabalhos: “Subsolo”, apresentado no Semanas de Dança do Centro Cultural Vergueiro; “s[AE]lig”- Evento Feminino na Dança (CCSP) e “Paper House” na II Bienal de Dança SESC Santos – Santos – SP. Trabalhou com Lara Pinheiro (2002) em “Paisagens Secretas – Uma Instalação Coreográfica”- SESC Consolação – SP e com Gabi Imparato no Laboratório de Criação IV – grupo de pesquisa em dança como forma de conhecimento, onde estreou o trabalho “veja este poema” apresentado no CCSP. Em 2006 estreia o trabalho “À Flor da Pele” com direção e concepção própria e dramaturgia e produção de Paula Lopez no Teatro Fábrica em SP. Entre 2005 e 2011 integra a Dharma Cia de Artes, formada por bailarinos e atores, produzindo espetáculos infantis e adultos de dança e teatro. Surgem criações como o espetáculo “PERSEPHONES” que estreou no Fringe – Festival de Curitiba 2011, “JOGOS DE MAYA” que estreou no CEU Quinta do Sol (setembro 2011). Atualmente, trabalha “Na Companhia das Meninas” em dois processos de criação: “SER OUTRA” em parceria com a bailarina e atriz Paula Lopez e “COMO TUDO O QUE É SIMPLES” com a bailarina convidada Denise Passos, onde aprofunda a pesquisa entre as linguagens da dança e teatro.
Para Roteiro
Ser Outra – Espetáculo de teatro-dança com o grupo Na Companhia das Meninas. Reestreia sábado, 22 de novembro, às 20h30 noAteliê das Meninas. Endereço: Rua Motuca, 35 – Aclimação, São Paulo. Temporada: De 22 de novembro a 13 de dezembro, sábados às 20h30 (*exceção para o terceiro fim de semana, quando o espetáculo será apresentado no domingo, dia 7 de dezembro). Telefone: 979724070. Preço: R$30 (Inteira), R$15 (Meia) e R$25 (antecipado) *para compras antecipadas mandar e-mail para patyjaia@gmail.com.Capacidade: 40 Lugares.
Ficha Técnica
Concepção, criação e interpretação: Ana Paula Lopez e Paty Jaia. Orientação Geral: Wesley D'Alessandro. Orientação Coreográfica: Prem Mukti Mayi. Poesia: Hilda Hilst. Figurinos: Maha Lakshami Store. Trilha Sonora: Paty Jaia e Ana Paula Lopez.Iluminação: Lucas Brandão e Roberto Setton. Operação de Som: Gabriel Moreira Operação de Luz: Shaya Lambert. Arte: Ângela Ribeiro e Lucas Brandão. Edição de Trilha: Márcio Garcia. Fotos: Murillo Basso e Felipe Stucchi. Produção: Na Cia das Meninas.