Cultura - Teatro

Com ingressos gratuitos, Cia São Jorge de Variedades reestreia Fausto no Teatro João Caetano

6 de Novembro de 2014

 

Comemorando 15 anos a Cia São Jorge de Variedades leva aos palcos o espetáculo FAUSTO, que, após temporada no Sesc Pompeia reestreia dia 12 de novembro, quarta-feira, às 20h30, no Teatro João Caetano, onde faz 10 apresentações com ingressos gratuitos. A curta temporada é contemplada pelo edital Funarte Myriam Muniz 2013.

A adaptação da Cia São Jorge de Variedades para o texto de Goethe, que lhe deu repercussão universal, está sendo feita por seis mãos: Georgette Fadel e Claudia Schapira, diretoras da montagem, com colaboração e consultoria de Alexandre Krug, presente no elenco. Os atores Edgar Castro, Marcelo Reis, Patrícia Gifford, Paula Klein e Pedro Felício e os músicos Luiz Gayotto, Lincoln Antônio e Felipe Massumi também contribuíram para a adaptação final.

Para Georgette Fadel, a Cia São Jorge de Variedades pretende trazer FAUSTO para a arena do teatro para debater as formas e relações da modernidade e do contemporâneo. “Em um momento muito especial de comemoração de 15 anos de trabalho, a São Jorge recebe dessa obra gigante autorização para um salto de compreensão e de expressão da condição humana atual. Diante de sua limitada visão, mas ainda assim, visão, a Cia olha com um pouco mais de abrangência para o mundo e o que temos visto, sentido e pensado oferecemos em forma de espetáculo”, conta ela.

A busca pelo essencial

Fausto, além de ser a obra simbólica da vida de Goethe, adquire também significado universal por materializar o mito do homem moderno, o homem que busca dar significado a sua vida, que precisa tocar o eterno e compreender o misterioso. Na obra, pode-se dizer, o poeta expressa a experiência de toda sua existência. 

A dupla Fausto e Mefistófeles, o homem e seu diabo realizador de desejos é conhecida há mais de cinco séculos. Goethe a torna uma espécie de epopeia da modernidade (se epopeia fosse um termo que pudesse se aplicar aos tempos modernos em diante). Trabalhando poeticamente no terreno das contradições, ele as torna a própria essência da obra e a própria força propulsora da história. 

“Para nós a essência da obra está na contradição e na ideia de que o homem quis e obteve mais conhecimento, evolução tecnológica, para evoluir socialmente e viver bem. Mas o não reconhecimento da alteridade, a cegueira para a natureza e existência do outro, torna tudo o seu oposto. A busca do trabalho dramatúrgico é a síntese. Aliás, a pesquisa em todas as frentes da concepção do espetáculo é a busca do que é indispensável, sem floreios, para que tudo o que está em jogo fique claro. Cenografia, luz, figurinos e interpretação buscam o cerne, o essencial”, explica Georgette.

O coro

FAUSTO tem na palavra, no som, na musicalidade um de seus pontos fortes de composição. As experimentações nesse sentido estão sendo feitas junto ao elenco numa criação muito orgânica com o texto e intenções da cena, onde grande parte do texto é trabalhado em coro.

“Nesse encontro da Cia São Jorge de Variedades com Fausto, todos do elenco passam pelos principais personagens. Com a intenção de ampliar forças, os atores, em algumas cenas, são apenas corpos enquanto outros são as vozes”, diz a diretora.

A música é outro elemento presente na montagem com três músicos em cena e cinco instrumentos (piano, violoncelo, guitarra, baixo e bateria). A ideia é ter um contraponto entre instrumentos mais clássicos e modernos, pois existem cenas musicais que remetem a uma opereta e outras com pegadas mais modernas, onde o grupo atualiza o texto com suas vozes.

Visual impactante

Assinada por Rogério Tarifa, a cenografia traz elementos fortes, mas sintéticos. Andaimes, mesas, escadas com rodas e muitas cadeiras fazem parte do cenário, que dialoga a partir do segundo ato com vídeo. “Usamos o vídeo de duas maneiras durante a encenação, uma como elemento teatral expandindo a narrativa e outra como uma mídia diferente do teatro, quando Margarida e Fausto não conseguem se encontrar”, adianta Georgette Fadel.

Sobre a Cia São Jorge de Variedades

Projeto coletivo, criado em 1998, com integrantes da Escola de Arte Dramática e da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. O grupo visa estabelecer, por meio de investigações permanentes, um processo de lapidação da cena bruta, se utilizando de artifícios e procedimentos simples e artesanais. A base estética da companhia se apóia em referências múltiplas, de acordo com as necessidades de cada espetáculo, mas principalmente nas manifestações ritualísticas de canto e dança, mantendo como referência paralela as religiões afro-brasileiras. A dramaturgia tem como tema principal a discussão de questões éticas inerentes à diversidade e os paradoxos da cultura brasileira, desde sua formação, da colonização à contemporaneidade.

Pedro o Cru, de 1998, uma montagem do poema dramático do escritor português António Patrício, é o primeiro espetáculo  da Cia. Em 1999, montam Um Credor da Fazenda Nacional, resgatando a obra do autor José Joaquim de Campos Leão Qorpo-Santo. A partir de 2001, o grupo reforça seu vínculo com a cidade, ocupando por dois anos o Teatro de Arena, local em que, em parceria com o Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, o Grupo Teatral Isla Madrasta e a Companhia Bonecos Urbanos, desenvolve o projeto Harmonia na Diversidade. Nesse ano, encena Biedermann e Os Incendiários, de Max Frisch.

O grupo se preocupa com a função social da arte e suas possibilidades, e se envolve com iniciativas públicas para pessoas em situação de rua, como a Oficina Boracea e o Albergue Canindé, entre 2002 e 2004. Nesse contexto, nasce As Bastianas, a partir da coletânea de contos de Gero Camilo, sob direção de Luís Mármora. Em 2007 realizam a montagem de O Santo Guerreiro e o Herói Desajustado (vencedor do Prêmio Shell de melhor figurino) com direção de Rogério Tarifa e 20 atores em cena. Em 2009 monta o espetáculo Quem Não Sabe Mais Quem é, o Que é e Onde Está, Precisa se Mexer, ganhador da categoria especial do Prêmio Shell de Teatro pela pesquisa e criação. A companhia também produz, desde 2003, o fanzine, São Jorges - canal de interlocução de uma geração que deve ser estimulada a contracenar com a cidade de outra maneira.

Em 2010 a Cia é contemplada pelo Programa Petrobras Cultura e em 2012 estreia o espetáculo Barafonda, com quatro horas de duração e um percurso de dois quilômetros pelo bairro da Barra Funda. O espetáculo foi vencedor nas categorias Dramaturgia, Direção e Trabalho apresentado em Rua do Prêmio Cooperativa Paulista de Teatro, além de receber indicações ao Prêmio Governador do Estado de São Paulo como melhor espetáculo e Prêmio Shell 2012 na categoria especial pela montagem e criação. Em 2014 a Cia se aventura pela primeira vez numa experiência artística voltada para as crianças e seus familiares e estreia o espetáculo infantil São Jorge Menino, texto de Ilo Krugli.

Para roteiro:

FAUSTO – Reestreia dia 12 de novembro, quarta-feira, às 20h30, no Teatro João Caetano. Texto – Johann Wolfgang von Goethe. Dramaturgia – Georgette Fadel, Claudia Schapira e Alexandre Krug – livre adaptação a partir das traduções de Cristine Röhrig, Jenny Klabin Segall e João Barrento. Direção – Claudia Schapira e Georgette Faddel. Elenco – Alexandre Krug, Edgar Castro, Marcelo Reis, Patrícia Gifford, Paula Klein e Pedro Felício. Músicos – Luiz Gayotto, Lincoln Antonio e Filipe Massumi. Assistentes de Direção – Vicente Ramos e Rafael Guerche. Direção Musical e Música Original – Luiz Gayotto e Lincoln Antonio. Cenografia – Rogério Tarifa. Figurino – Claudia Schapira e Rogério Tarifa. Preparação Corporal – Renata Melo. Treinamento Vocal – Luis Päetow. Desenho de Luz – Aline Santini.  Engenheiro de Som – Ernani Napolitano. Direção de Vídeo – Bianca Turner. Direção de Produção – Carla Estefan. Assistente de Produção – Isabel Soares.Fotos e Vídeo – Cacá Bernardes e Bruna Lessa. Design Gráfico – Sato e Murilo Thaveira – Casadalapa. Duração – 140 minutos. Temporada – Quarta-feira a sábado às 20h30 e domingo às 19 horas. Espetáculo recomendado para maiores de 16 anos. GRÁTIS – Retirada de ingressos com uma hora de antecedência na bilheteria do teatro. Até 23 de novembro.

TEATRO JOÃO CAETANO – Rua Borges Lagoa, 650 – Vila Clementino. Telefone: (11) 5573-3774. Acesso para deficientes físicos. Capacidade do Teatro – 438 lugares.

 

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