Morreu, aos 66 anos, o cantor e compositor Arlindo Cruz, um dos maiores nomes do samba brasileiro. Ícone do pagode carioca, Arlindo estava internado desde maio no Hospital Barra D’Or, no Rio de Janeiro, tratando uma pneumonia. Sua luta, porém, começou muito antes, em março de 2017, quando sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC) hemorrágico que o afastou dos palcos e marcou sua trajetória nos últimos anos de vida.
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Foto: Reprodução/Internet |
Desde então, o artista enfrentou uma dura rotina de reabilitação, com momentos delicados, como infecções respiratórias recorrentes, internações prolongadas e, mais recentemente, uma parada cardíaca em julho que agravou seu estado de saúde. A notícia de sua morte foi confirmada por familiares nas redes sociais, gerando uma onda de comoção e homenagens de músicos, fãs e figuras públicas que exaltaram sua contribuição inestimável à cultura brasileira.
Além do lamento pela perda de um artista tão completo — cantor, compositor e mestre do cavaquinho — sua morte reacende o debate sobre os impactos do AVC, uma das principais causas de morte e incapacidade no Brasil e no mundo. Para compreender melhor as dimensões desse problema de saúde pública, conversamos com a neurologista Dra. Sheila Martins, presidente da Rede Brasil AVC e uma das maiores especialistas no tema no país.
De acordo com a médica, os fatores que levam a um AVC ainda são, em grande parte, evitáveis. “Mais de 90% dos casos de AVC estão associados a fatores de risco modificáveis, como hipertensão arterial, sedentarismo, tabagismo, diabetes e colesterol alto. O AVC não acontece por acaso — ele é o resultado acumulado de hábitos e condições que podem e devem ser controlados”, afirma.
No caso de Arlindo Cruz, embora os detalhes médicos completos não tenham sido divulgados, o tipo hemorrágico do AVC costuma estar ligado a picos de pressão arterial e a vasos frágeis no cérebro. Segundo a Dra. Sheila,
“o AVC hemorrágico, embora menos comum que o isquêmico, tende a ser mais grave. Ele ocorre quando há o rompimento de um vaso sanguíneo, levando a um sangramento cerebral que pode provocar sequelas severas ou levar à morte”.
Apesar da gravidade, o avanço da medicina tem possibilitado formas mais eficazes de tratar o AVC — desde que o atendimento seja rápido.
“Tempo é cérebro. A cada minuto sem atendimento, milhares de neurônios são perdidos. Por isso, o reconhecimento precoce dos sinais — como paralisia facial, dificuldade na fala e fraqueza em um dos lados do corpo — é fundamental. Quanto mais rápido a pessoa for levada a um hospital preparado, maiores as chances de recuperação”, alerta.
Arlindo Cruz, mesmo após o episódio de 2017, teve uma reabilitação impressionante para um caso tão severo. Com apoio da família, de profissionais de saúde e de terapias contínuas, chegou a aparecer em vídeos cantando e interagindo com fãs. A Dra. Sheila destaca que a recuperação após um AVC é possível, especialmente quando há suporte adequado e dedicação. “A reabilitação é um processo longo e exige paciência. Mas com estímulo certo, fisioterapia, fonoaudiologia e apoio emocional, muitos pacientes voltam a ter qualidade de vida. A história do Arlindo é também uma história de resistência”, diz.
Arlindo Cruz deixa um legado que vai muito além das rodas de samba. São mais de 500 composições registradas, parcerias históricas, clássicos como “O Show Tem Que Continuar”, “Meu Lugar” e “Ainda É Tempo Pra Ser Feliz”, e uma trajetória marcada por alegria, sensibilidade e talento puro. Com sua morte, o Brasil perde uma de suas vozes mais autênticas — e ganha uma oportunidade para reforçar a importância de cuidar da saúde cerebral e lutar contra o AVC com informação, prevenção e empatia.
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Nota de pesar: Arlindo Cruz
Cantor e compositor era um dos maiores nomes do samba no país
O Ministério da Cultura (MinC) recebe com pesar a notícia da morte do cantor, compositor e multi-instrumentista Arlindo Cruz, aos 66 anos, nesta sexta-feira (8), no Rio de Janeiro. Com mais de 700 canções gravadas, ele era um dos maiores nomes do samba no país. Em 2025, recebeu a Ordem do Mérito Cultural (OMC), a mais alta honraria para o setor cultural, e se tornou detentor da medalha Grã-Cruz.
Durante a carreira ele assinou músicas como Meu Lugar, Ainda É Tempo para Ser Feliz e Bagaço da Laranja, que ficaram conhecidas nas vozes de artistas como Beth Carvalho e Zeca Pagodinho. Também compôs sambas-enredo para a escola Império Serrano, além de Grande Rio, Vila Isabel e Leão de Nova Iguaçu.
Natural do Rio de Janeiro, Arlindo teve o primeiro contato com a música por meio dos pais, que tocavam pandeiro e cavaquinho – este último seria o seu primeiro instrumento.
Começou na vida artística como músico, participando de rodas de samba do Bloco Carnavalesco Cacique de Ramos, nos anos 1970, ao lado de nomes como Jorge Aragão, Beth Carvalho e Almir Guineto. Foi também nesse período que introduziu o banjo como instrumento de samba.
Na década de 1980, ingressou no grupo Fundo de Quintal após a saída de Jorge Aragão, onde emplacou sucessos como Só pra Contrariar e O Show Tem que Continuar.
Nos anos 1990, deixou a formação para se lançar em uma bem-sucedida carreira solo. Mais tarde desenvolveu uma frutífera parceria com o sambista Sombrinha.
O artista era casado desde 2012 com Barbara Cruz e pai de Arlindo Cruz, o Arlindinho, Flora Cruz e Kauan Felipe.
Neste momento de tristeza, o MinC se solidariza com os familiares, amigos e admiradores de Arlindo Cruz e enaltece sua contribuição para a música brasileira.