Cultura - Música

Dom Salvador, a lenda brasileira do samba-funk, lança o novo álbum “DOM SALVADOR JID024”

12 de Julho de 2025

Ouça o álbum aqui

Jazz Is Dead continua sua jornada de homenagear lendas musicais com Dom Salvador JID024, um álbum que revisita e revitaliza o espírito pioneiro de um dos músicos mais influentes do Brasil. Dom Salvador, o precursor que fundiu samba com jazz, funk e soul no final dos anos 60 e início dos 70, é a base de um movimento que moldou o som da música negra brasileira. Agora, em colaboração com Adrian Younge e Ali Shaheed Muhammad, ele retorna a essa essência de uma forma completamente nova.

A influência de Dom Salvador na música brasileira é imensurável. Como o idealizador do inovador álbum Som, Sangue e Raça (1971) e líder do grupo pioneiro Abolição, ele criou um espaço para a consciência negra na cena musical do Brasil, fundindo jazz e funk americanos com ritmos afro-brasileiros. Seu trabalho preparou o terreno para o surgimento de bandas como Black Rio, ampliando ainda mais a conexão entre os sons do Brasil negro e a experiência negra americana.

Com JID024, Younge e Muhammad criaram uma coleção de composições que dão continuidade às conversas sonoras e culturais iniciadas por Dom Salvador décadas atrás. Este projeto funciona tanto como uma homenagem quanto como um diálogo — uma extensão do som pioneiro dele, canalizado através da perspectiva da produção analógica moderna.

Honrando o passado, moldando o futuro: Adrian Younge descreve o álbum como um esforço consciente para se reconectar com o espírito das obras pioneiras de Salvador. “Queríamos voltar àqueles discos que tanto amávamos,” explica Younge. “Aqueles que mesclavam jazz, funk e samba de uma forma que refletia o movimento de consciência negra no Brasil.”

De muitas maneiras, JID024 é mais um convite do que uma simples colaboração — um convite feito a Salvador para participar de um projeto inspirado em seu legado. “Escrevemos este álbum na esperança de que ele quisesse gravá-lo conosco,” admite Younge. “E ele disse sim. Isso é parte do que torna tudo tão mágico. Alguém da sua idade e importância escolher fazer parte disso diz muito.”

Unindo os sons do Brasil negro e da América negra: Um dos temas principais de JID024 é a conexão histórica e musical entre o Brasil negro e a América negra. Younge destaca como o trabalho inicial de Salvador ajudou a moldar esse diálogo transcontinental. “Dom Salvador foi um dos primeiros a começar a misturar samba com jazz e funk de uma forma que ressoava com o movimento pelos direitos civis nos EUA,” explica ele. “Desde a forma como os músicos se vestiam até a maneira como tocavam, havia uma sinergia inegável.” Este álbum, portanto, é uma continuação dessa conversa. É uma celebração do impacto de Salvador, uma reafirmação do espírito revolucionário presente na música e uma demonstração de como essas ideias ainda podem ser ampliadas hoje.

Com um som atemporal reimaginado, cada faixa de JID024 representa uma faceta diferente da trajetória de Salvador, desde os grooves profundos do samba-funk até composições mais reflexivas e com influência do jazz. Embora Salvador permaneça uma figura humilde, sua presença neste álbum é um testemunho de seu legado duradouro. Como Younge diz, “Trata-se de estabelecer a base, de contar uma história que lembra às pessoas o quão importante Dom Salvador é.”

Refletindo sobre a experiência, Dom Salvador compartilhou: “Foi uma experiência maravilhosa, capturar um momento espontâneo. Entrar no estúdio sem saber o que ia acontecer, criar tudo ali mesmo no momento, e fazer tudo em analógico, sem edições, foi incrivelmente estimulante.”

Com JID024, o Jazz Is Dead não apenas celebra uma lenda — ele contribui ativamente para a evolução do som que ele ajudou a criar. Este álbum é mais do que uma gravação; é uma ponte entre o passado e o presente, uma reafirmação do poder da música negra através dos continentes e um momento de reconhecimento para um homem cuja influência continua a reverberar ao longo do tempo.

Sobre Dom Salvador: 

Dom Salvador, o discreto padrinho da música soul brasileira, deixou uma marca indelével por meio de sua fusão única de jazz, soul, funk, samba e ritmos brasileiros. Nascido Salvador da Silva Filho em Rio Claro, São Paulo, ele iniciou sua carreira na cena do samba-jazz, se apresentando no famoso Beco das Garrafas, no Rio, onde também despontaram lendas como Sérgio Mendes. Como figura fundamental na música brasileira, Salvador fundou o grupo Abolição, cujo álbum de 1971 Som, Sangue e Raça quebrou paradigmas ao mesclar tradições musicais brasileiras e afro-americanas. Orientando alguns dos melhores músicos afro-brasileiros do país, Abolição se tornou uma plataforma de lançamento para futuras estrelas, muitas das quais passaram a tocar com Tim Maia e formar a lendária Banda Black Rio.

Nos anos 60, Salvador ajudou a moldar as carreiras de artistas icônicos como Elis Regina e Jorge Ben, além de lançar alguns dos álbuns mais aclamados do samba-jazz com o Copa Trio, Rio 65 Trio e Salvador Trio. Seu álbum solo homônimo de 1969, produzido por Helcio Milito do Tamba Trio, marcou sua integração inicial do pop e soul em seu som, contando com futuros ícones como Ivan “Mamão” Conti (Azymuth) e Cassiano.

Após seu sucesso no Brasil, Salvador mudou-se para Nova York, buscando proximidade com seus ídolos do jazz. Lá, gravou um álbum solo pela Muse Records em 1976 e colaborou com luminares do jazz como Herbie Mann, Dom Um Romão, Lloyd McNeil e Charlie Rouse. Como líder da banda de Harry Belafonte, Salvador chegou a se apresentar para a Rainha Elizabeth. Em 1977, iniciou uma histórica residência de mais de 40 anos no River Café, no Brooklyn, consolidando seu lugar na cena jazzística de Nova York. Sua influência foi celebrada em 2015, quando se apresentou no Carnegie Hall com seu trio, comemorando 50 anos de samba-jazz.

Nos últimos anos, o legado de Salvador tem sido reintroduzido a novas audiências. Em junho de 2022, ele levou seu sexteto a Los Angeles para sua maior apresentação na Costa Oeste, que incluiu uma exibição especial de Dom Salvador & Abolição, um documentário que retrata sua vida e música, dirigido pelo cineasta Artur Ratton. Seu legado continua com Jazz Is Dead 024 - Dom Salvador, produzido por Adrian Younge. Refletindo sobre a experiência, Salvador compartilhou: “Quando Adrian me convidou para fazer o álbum, eu não sabia exatamente o que esperar, e acabou sendo uma experiência criativa totalmente imersiva. Tudo foi composto, arranjado e gravado em apenas dois dias no estúdio.” Previsto para lançamento em maio de 2025, Jazz Is Dead 024 homenageia o som pioneiro de Salvador, dando continuidade ao vibrante diálogo entre a música brasileira e americana e convidando os ouvintes a experimentar seu estilo rico e inovador.

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