Colaboradores - Valéria Calente

A Morte de Natália Cavanellas e os Perigos dos Padrões Estéticos Implacáveis

10 de Julho de 2025

A morte precoce de Natália Cavanellas, uma amiga que chegou em minha vida há pouco mais de um ano, ser humano maravilhoso, mulher vibrante e profissional admirada, escancarou de forma dolorosa um debate urgente: até que ponto os padrões estéticos impostos às mulheres podem ser nocivos — e fatais?

Natália Cavanellas

Foto: Divulgação

 

Natália faleceu aos 40 anos, recém completados, durante uma cirurgia plástica. Deixou uma filha de apenas três anos, familiares devastados e amigas que ainda tentam compreender como a busca por uma imagem — supostamente ideal — terminou em uma tragédia irreparável, já que Natalia era lindíssima.

Quando conheci Natalia logo me encantei com sua alegria contagiante, sua ousadia generosa e sua capacidade rara de reunir mulheres e fortalecê-las. Ela acreditava na potência feminina. Criava redes, nutria amizades, promovia encontros que deixavam marcas. Era intensa. Viva. Presente. Uma mulher com um brilho que não passava despercebido.

É justamente por isso que sua morte nos choca tanto.

Mas, tristemente, Natália não está sozinha nessa estatística dolorosa.

Em 2022, a influenciadora Liliane Amorim, de apenas 26 anos, morreu após complicações de uma lipoaspiração. Em 2023, a empresária Lorrayne Menezes, de 27 anos, também perdeu a vida após um procedimento estético. Mais recentemente, em 2024, a assistente social Camila Oliveira morreu durante uma cirurgia combinada — prática cada vez mais comum que reúne múltiplos procedimentos em um único ato operatório, aumentando significativamente os riscos.

Essas mortes não são casos isolados. Segundo dados da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS), o Brasil é o segundo país que mais realiza cirurgias plásticas no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. E entre os procedimentos mais procurados, estão justamente aqueles com maior índice de complicações — como a lipoaspiração e o lifting de glúteos (conhecido como "BBL", do inglês Brazilian Butt Lift), considerado um dos mais perigosos do mundo.

Vivemos numa sociedade que desde cedo ensina às mulheres que seus corpos não lhes pertencem — são projetos a serem corrigidos, moldados, aperfeiçoados. A indústria estética se alimenta de inseguranças que ela mesma fabrica e vende como solução. Muitas vezes, sem limites. 

Não se trata de julgar escolhas individuais. Cada mulher tem o direito de decidir sobre o próprio corpo. E Natalia tinha todo o direito de fazer o procedimento estético e cirúrgico que bem quisesse. Mas é preciso denunciar o sistema que nos empurra para essas decisões como se fossem a única forma de sermos amadas, aceitas, visíveis.

A reflexão que fazemos é que toda cirurgia traz riscos.

Natália era linda. Linda de verdade. Por dentro e por fora. Mas o mundo nos faz duvidar disso todos os dias. E enquanto não questionarmos essa lógica cruel que aprisiona tantas mulheres, continuaremos perdendo vidas que jamais deveriam ser perdidas.

Que a história de Natália — e de tantas outras — nos convide à reflexão. Que o luto se transforme em voz. E que a memória dessas mulheres, que deveriam estar vivas, nos inspire a romper com padrões que matam, mesmo quando prometem beleza e felicidade.

Natalia você conectou tantas mulheres, ajudou tantas, iluminou tantos caminhos.

Você jamais será esquecida.

Natália Cavanellas e Valéria Calente

Foto: Divulgação

 

Cirurgias plásticas no Brasil – dados e alertas

2º país do mundo em número de procedimentos estéticos (ISAPS, 2023) - Mais de 2 milhões de cirurgias estéticas/ano.

Procedimentos com maior risco de complicações:

• Lipoaspiração;

• Abdominoplastia;

• “BBL” (Brazilian Butt Lift);

• Cirurgias combinadas (2 ou mais em um mesmo dia).

Riscos mais comuns:

Embolia pulmonar;

Infecção generalizada (sepse);

Tromboembolismo;

Complicações anestésicas;

Necrose de tecidos;

Especialistas alertam:

Evite procedimentos múltiplos em um só dia;

Desconfie de preços muito abaixo do mercado;

Pesquise se o cirurgião é membro da SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica);

Certifique-se de que o hospital/clínica tem estrutura de emergência.

Fontes:

ISAPS – International Society of Aesthetic Plastic Surgery

SBCP – Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica

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