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Allan Oliver fala de projeto que inclui nomes de Papa Francisco e Mandela

25 de Junho de 2025

Produtor ressalta a importância de evidenciar vozes apagadas culturalmente no nosso país

Créditos: Rafa Marques

Depois de trazer aos palcos paulistas “Marighella – O Homem que Não Tinha Medo”, que fez temporada até 22 de junho no Teatro Paiol Cultural, o produtor Allan Oliver prepara dois espetáculos que completam a “Trilogia dos Insubmissos”, com três figuras de origens, ideologias e trajetórias distintas, mas que têm em comum a coragem de desafiar estruturas opressoras. Depois de Marighella, os outros dois escolhidos foram Papa Francisco e Mandela.

“Bergoglio ou Francisco – Chame Como Quiser, mas Escute o Que Ele Diz” se passará em um tribunal simbólico onde três personagens – um ateu, uma beata e um jovem ativista – analisam os discursos e atitudes do Papa Francisco. A partir de cartas, entrevistas e falas reais, sua trajetória é costurada desde os tempos de Buenos Aires até o Vaticano, expondo suas contradições, coragens e reflexões. Já “Mandela – O Homem que Esperou” acompanha a juventude de Nelson Mandela até o momento em que ele deixa a prisão. Um Mandela humano, que erra, que ama, que cansa, mas não desiste. O foco está menos no herói e mais no homem que não parou de sonhar mesmo entre grades. Ambos espetáculos estão em estágios avançados de desenvolvimento criativo.

“Papa Francisco representa uma liderança espiritual e política extremamente singular na história moderna. Escolhi retratá-lo porque ele consegue transitar entre fé, justiça social e humanidade de forma rara. Já Nelson Mandela é uma das maiores figuras do século XX. Um homem negro que passou 27 anos preso por lutar contra o apartheid e, ao sair da prisão, se recusou a agir com ódio. Falar sobre Mandela é falar sobre resistência, perdão e construção coletiva. É essencial que novas gerações conheçam o Mandela real, com suas contradições e profundidade humana”, diz Allan.

A previsão é que “Bergoglio ou Francisco” estreie ainda em 2025, com temporada em São Paulo e possível circulação posterior em outros estados do Brasil. “Mandela – O Homem que Esperou” tem previsão de estreia para o primeiro semestre de 2026.

“Marighella – O Homem que Não Tinha Medo”, traçava a trajetória de Carlos Marighella, que foi um político, escritor e guerrilheiro, além de um dos principais organizadores da luta armada contra a ditadura militar brasileira, chegando a ser considerado o inimigo "número um" do regime. O espetáculo foi protagonizado por Pietro Cadete e Fábio Neppo, com direção de Graça Cunha, e teve direção geral, produção e idealização de Oliver.

“Criar o espetáculo foi um processo visceral. Eu queria romper com o retrato engessado e sempre maduro do Marighella e trazer a juventude dele à cena. A recepção tem sido emocionante. O teatro lotado, a plateia aplaudindo de pé e, mais que isso, emocionada. Ver jovens chorando ao ouvir pela primeira vez quem foi Marighella já justifica tudo. Tivemos sessões extras e a presença de artistas e ativistas que eu admiro imensamente — como o Emicida, que nos deu um abraço de reconhecimento que levarei pra sempre. É uma peça que não passa batido. Ela cutuca,” explica o produtor.

O espetáculo nasceu de uma urgência pessoal e política de Allan, após ter sido vítima de uma falsa acusação que o expôs e quase destruiu sua trajetória. Mesmo após provar sua inocência na justiça, ele afirma ter sentido na pele o quanto corpos pretos seguem sendo criminalizados, silenciados e descartáveis. Ao olhar para a história de Carlos Marighella, viu não apenas um símbolo da resistência, mas um espelho da sua própria dor. O texto, surgido da sua indignação com o apagamento de figuras negras e revolucionárias, se tornou uma celebração da resistência.

A peça escancarou a criminalização dos corpos pretos, o silenciamento das vozes dissidentes e o racismo estrutural que ainda define quem é inocente ou culpado antes mesmo do julgamento, e questionava as mentiras contadas pela história oficial e convida o público a enxergar por outras lentes. Para o produtor, o espetáculo foi sua forma de “respirar depois de quase me afogarem, e me manter de pé depois de ser injustamente atacado”.

Allan é produtor cultural nascido e criado em São Paulo, e encontrou na arte uma forma de transformar dor em potência desde muito novo, quando começou no teatro. Aos 26 anos, já integrou a tradicional lista Forbes Under 30 pelo seu destaque nos ramos de atuação com sua produtora Dagnus Produções e foi reconhecido pela Academia Paulista de Letras. Sua principal missão como artista é democratizar o acesso à cultura e contar histórias que o país tentou calar.

“Sendo um produtor jovem e negro, o mercado é mais desafiador, sem dúvida. O racismo estrutural ainda dita quem pode ou não ocupar certos espaços. É mais difícil conseguir apoio, patrocínio e visibilidade quando se é um corpo negro fora do estereótipo da subalternidade. Mas é por isso mesmo que insisto: ocupar é preciso. Produzir, criar, contar nossas histórias com autonomia é um ato de resistência. E eu não vou parar”, afirma.

Além da “Trilogia dos Insubmissos”, Allan encaminha outros projetos no teatro, como um espetáculo profissionalizante sobre Machado de Assis e um musical sobre Frida Khalo, além de “Manual Prático Para Amar Errado”, uma comédia romântica de repertório mais íntimo, também em desenvolvimento. Junto disso, segue com os cursos e experiências profissionalizantes voltadas para formar artistas potentes de forma acessível por meio da Dagnus Produções, com direção de Graça Cunha.

Instagram: https://www.instagram.com/allanoliver_produtor/

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