Colunistas - Rodolfo Bonventti

Eterna Memória: Zuzu Angel

11 de Abril de 2014
Zuzu Angel foi uma estilista de sucesso internacional

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

No momento em que comemoramos os 50 anos da implantação de uma ditadura militar no País que tantos estragos trouxe para a cultura brasileira, cabe aqui lembrar de uma mulher que como uma leoa não teve medo de desafiar essa ditadura. Trata-se da estilista Zuzu Angel, nascida Zuleika de Souza Netto na pequena cidade de Curvelo, no interior de Minas Gerais.

Zuzu chegou no Rio de Janeiro em 1947, aos 25 anos de idade, e nos anos 50 começou a se destacar como costureira até abrir uma loja de roupas em Ipanema. Com um estilo diferente e que misturava nas suas confecções temas regionais e do folclore brasileiro, Zuzu começou a se destacar e no final dos anos 60 já era uma estilista conhecida nacionalmente.

Zuzu em suas criações divulgava a cultura brasileira

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Foi ela também quem trouxe para a moda nacional a utilização de pedras brasileiras e de fragmentos de bambu e madeira. Casada com o americano Norman Angel Jones, ela se transformou em Zuzu Angel Jones e ganhou espaço nos Estados Unidos, onde fez muito sucesso nos anos 60, realizando vários desfiles de moda na terra do Tio Sam.

Conhecida internacionalmente, Zuzu Angel curtia o sucesso do seu trabalho inovador como estilista de moda quando seu filho Stuart Jones, então estudante de Economia, se envolveu com o MR-8, grupo guerrilheiro socialista que combatia o golpe militar de 1964.

Stuart Jones foi preso em abril de 1971 e torturado e morto no Centro de Informações da Aeronáutica, no Rio de Janeiro. Considerado como desaparecido político pelas autoridades militares da época, que nunca reconheceram a tortura e a morte dele, o acontecimento transformou a vida de Zuzu Angel, que a partir daí se tornou uma defensora da verdade e que lutou com todas as suas forças contra o regime militar e a violência que imperou no País naquela primeira metade dos anos 70.

Ela enfrentou a ditadura militar na década de 1970

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Zuzu entrou em guerra aberta contra o regime militar brasileiro e foi para os Estados Unidos procurar ajuda de políticos, artistas e da sociedade americana para poder pelo menos recuperar o corpo do filho no Brasil. Ela passou a criar coleções estampadas com muitas manchas vermelhas e motivos bélicos, sempre tendo um anjo ferido e amordaçado como símbolo da sua marca.

Sua batalha pela verdade e pela recuperação do corpo do filho ganhou espaço na imprensa internacional, principalmente na americana, onde ela chegou a ser manchete do jornal Chicago Tribune: “A mensagem política de Zuzu está nas suas roupas".

Em 1976, semanas antes da sua morte em um trágico acidente, Zuzu entregou pessoalmente ao secretário de Estado norte-americano, Henry Kissinger, um dossiê com todos os fatos que envolviam a morte do seu filho.

Também mãe da jornalista Hildegard Angel, Zuzu agia sem qualquer temor para denunciar a violência e as torturas dos primeiros anos do regime militar, até morrer na madrugada de 14 de abril de 1976, num acidente de carro na saída do Túnel Dois Irmãos, que liga a Estada da Lagoa à Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, ao derrapar na pista e se chocar contra uma mureta de proteção, caindo de uma altura de quase cinco metros. Um acidente que sempre foi considerado “muito suspeito”, já que segundo duas testemunhas ouvidas anos mais tarde, ela foi fechada por outro carro propositadamente para ser jogada fora da pista.

 A vida dela foi retratada no filme Zuzu Angel, com Patricia Pillar

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Zuzu Angel nunca conseguiu o corpo do filho para realizar um enterro decente, desejo que ela sempre manifestou aqui e no exterior, mas deixou a marca de uma mulher que usou a sua arte e a sua posição na sociedade para lutar bravamente contra a violência da ditadura militar.

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