Com direção de André Garolli, a montagem de As Moças, de Isabel Câmara, é uma releitura deste clássico da dramaturgia brasileira dos anos 60.
Mineira, de Três Corações, Isabel escreveu um único texto para o teatro: “As Moças: O Último Beijo”. Ficou conhecida como uma das principais autoras do grupo de jovens dramaturgos de 69, ao lado de José Vicente, Leilah Assumpção, Consuelo de Castro e Antônio Bivar. Uma geração de autores que compõe um retrato existencial e subjetivo daquela época marcada pela revolução sexual e a repressão política.
Como característica os textos apresentam diálogos que beiram ao absurdo além da autenticidade e sinceridade, num tom confessional, que aparecem na relação das personagens e no jogo cênico
O texto As Moças, surgiu em 1969, foi encenado em São Paulo, com direção de Maurice Vaneau, e em 1970, no Rio de Janeiro, no Teatro Ipanema, com direção de Ivan Albuquerque, rendendo a Isabel o Prêmio Molière de melhor autor de 1970.
Angela e Fernanda, duas atrizes de gerações diferentes e apaixonadas por seu oficio, procuravam há algum tempo um texto para montar e iniciar uma parceria artística e de produção. Conheceram-se no “II Festival de Peças de Um Minuto” dos Parlapatões e logo perceberam grande afinidade. Um amigo, o diretor Marcos Loureiro as apresentou ao texto As Moças. A partir daí foram em busca da realização do espetáculo. Depois de aprovar o projeto em leis de incentivo, inscrever em editais e procurar patrocinadores, resolveram “arregaçar as mangas”, apostar e investir recursos próprios e montar o espetáculo. Convidaram André Garolli para a direção. Elas o conheceram quando ele as dirigiu em algumas peças do II Festival de Peças de Um Minuto. Convidaram Branco Mello para criar a trilha sonora e Cassio Brasil para criar o cenário e figurinos. Contaram com o apoio e parceria de amigos e empresas também apaixonadas pelo teatro como: Parlapatões, Morente Forte Comunicações, Espaço Horizon, Cabelaria, Spazio e a Casa 5.
Garolli conta que “estava terminando de elaborar as diretrizes do Projeto Homens à Deriva, no qual a proposta é discutir o período da ditadura militar quando a Fernanda e a Angela me convidaram para dirigir As Moças, um texto que conheci através das mãos do saudoso Fauzi Arap. Daí para frente achei que o interessante seria discutir que sociedade e que momento era esse do Brasil que permitiu a consolidação desse golpe. Nos confinamos em uma pequena sala de ensaio, que poderia ser um conjugado, um alojamento, um camarim, uma cela, um “entre quatro paredes” qualquer, afim de tentar reinventar a vida (que pretensão!!). Recebemos visitas de companheiros que trouxeram ideias e estratégias surpreendentes. E assim, passo a passo, lutamos com nossas diferenças, com nossos ideais, com nossas vaidades, com nossos sonhos e através da convivência, da negociação, do desapego conseguimos nos libertar para dar luz a essas Moças.”
O espetáculo tem a trilha sonora de Branco Mello, criada a partir de trechos de diversas obras musicais, clássicos dos anos 60 e 70. “Pra fazer a trilha do espetáculo, pensei muito no Brasil e na música do final dos anos sessenta. Me aprofundando na loucura da relação das personagens Tereza e Ana, achei que a história delas poderia ter acontecido tanto num conjugado em Copacabana no Rio de Janeiro, quanto em qualquer outro lugar do mundo.Lembrei de Jimi Hendrix, Chet Baker, Jim Morrison, John Coltrane, The Who, Mile Davis e Mutante... Está tudo aqui”, afirma Branco.
Por se tratar de um texto intimista o palco do Teatro do Espaço Parlapatões é perfeito para a montagem, pois a ação se desenrola próxima aos espectadores desvendando a relação entre estas duas mulheres. Responsável pelo cenário e pelos figurinos, Cassio Brasil comenta que foi a relação de valor presente em toda a peça que motivou seu raciocínio. “O tempo todo é isso que discute, - quanto você vale se tem dentes faltando na boca? - e um reloginho de pulso, ainda que sem corrente, preso ao pulso por uma fita? Esses valores são instáveis, difusos. Quem controla as oscilações dos valores de nossas vidas? O que vai ser joia hoje, pra amanhã retornar a condição de miçanga?”.
Se existe uma peça na história do teatro brasileiro do século XX cuja fortuna crítica merece uma revisão é As Moças, texto que costuma ser analisado por manuais que pretendem dar conta da dramaturgia brasileira escrita a partir dos anos 60 e por estudos que visam debater o lugar da mulher na sociedade no contexto histórico da ditadura militar.
A proposta desta montagem é envolver o público de maneira direta e explosiva, partindo da construção realista das cenas, com linguagem contemporânea e interpretação naturalista, além de cenários e figurinos com personalidade, porém sucintos.
Ficha Técnica:
Autora: Isabel Câmara
Direção: André Garolli
Elenco: Angela Figueiredo e Fernanda Cunha
Cenógrafo e Figurinista: Cássio Brasil
Trilha Sonora: Branco Mello
Desenho de Luz: André Garolli e Reynaldo Tomaz
Realização projeção: Zeca Rodrigues
Projeto Grafico: Vicka Suarez
Fotografia: Ricardo Martins
Direção de Produção: Fernanda Cunha e Angela Figueiredo
Coordenação de Produção: Angela Figueiredo
Produção executiva: Fernanda Moura
Pesquisa trilha sonora: Bento Mello
Realização: Casa 5 e Fernanda Cunha
Angela Figueiredo - atriz e produtora cultural, estreou no teatro amador em 1974 na peça “A Megera Domada”, dirigido por Carlos Wilson do Tablado (RJ) e em 1983 estreou na TV na novela em “Guerra dos Sexos” com a personagem Analú. Seus últimos trabalhos foram no “Festival de Peças de Um Minuto, textos portugueses e brasileiros”, realizado em Lisboa durante o ano do Brasil em Portugal, em 2013 e a novela Saramandaia, tv Globo. Faz produção cultural desde o ano 1998, realizou inúmeros trabalhos ligados a música, teatro, tv e cinema. Seus últimos trabalhos foram: a produção executiva do CD da peça de teatro “Jacinta”, a produção da trilha sonora da peça “Parlapatões Revistam Angeli”, a direção de produção do “Festival de Peças de Um Minuto” em Lisboa, a produção executiva do documentário “Bonde do Simão” para o Canal OFF (Globosat) e a direção de produção do espetáculo “Serpente Verde, Sabor Maçã”, direção de Lavínia Pannuzio. Entre os trabalhos de produção, vale destacar produção do documentário “Titãs, a vida até parece uma festa”, que foi lançado em 2009.
Fernanda Cunha - atriz e produtora cultural, formada em Interpretação pelo Departamento de Artes Cênicas da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) e pós-graduada em Gestão Cultural pelo CELLAC/ ECA-USP. Em 2013 esteve em cartaz no teatro com “A Casa de Bernarda Alba” de García Lorca sob direção de Elias Andreato e “Mulheres” de Charles Bukovski com direção de Fernanda D´Umbra. Também se apresentou no “Festival de Peças de Um Minuto, textos portugueses e brasileiros”, realizado em Lisboa durante o ano do Brasil em Portugal, do Grupo Parlapatões, grupo com o qual a atriz já realizou inúmeros trabalhos, entre eles: “O Papa e a Bruxa” de Dario Fo (2009/2010), “U Fabuliô” de Hugo Possolo (2009/2010) e “Um Chopes, Dois Pastel e Uma Porção de Bobagens” de Mário Viana(2010), todos com direção de Hugo Possolo. Em 2012 atuou no espetáculo “Equus” de Petter Shafer sob direção de Alexandre Reinecke e no espetáculo infantil “A Famylia Monstro” sob direção de Pamela Duncan. Recentemente, em 2014, estreou o espetáculo “Dentes Guardados” de Daniel Galera com direção de Mário Bortolotto e fez uma participação especial como a personagem Claudia Ferrati na novela Chiquititas do SBT.
André Garolli - Diretor artistíco da Cia Triptal há 22 anos, dentre seus principais trabalhos estão: Dois Perdidos numa Noite Suja, de Plínio Marcos; e o projeto Homens ao Mar, baseado em textos de Eugene O’ Neill; premiado no APCA e premio Shell, tendo participado do Festival Internacional de Chicago e o projeto infantil Maria Clara Clareou, agraciado com os prêmios Coca Cola, APETESP e Mambembe. No teatro atua no Grupo TAPA há mais de 20 anos, tendo como principais espetáculos, dirigidos por Eduardo Tolentino: Credores, Doze Homens, Vestir os Nus, Cloaca, A Mandrágora, Ivanov, A Serpente, Vestido de Noiva, Megera Domada, além de trabalhar com nomes como Bibi Ferreira, Fauzi Arap, Juca de Oliveira, Roberto Lage, Fulvio Stefanini, entre outros. Na televisão, destaca-se junto ao núcleo de dramaturgia da TV Globo, atuando nas novelas Amor a Vida, Fina Estampa, Guerra dos Sexos, e nas miniséries: Lara com Z, Cinquentinha e Na Forma da Lei , com direção de Wolf Maya e Mauro Mendonça Filho. Ministra aulas de interpretação para TV e Teatro desde 1996, atualmente trabalhando na Escola Wolf Maya de São Paulo e do Rio de Janeiro.