O ator Cacá Carvalho apresenta três espetáculos ligados as obras de Luigi Pirandello. Com direção do italiano Roberto Bacci, os espetáculos “O Homem com a Flor na Boca”, “A Poltrona Escura” e “umnenhumcemmil”, trazem ao espectador uma experiência emocionante onde o ator apresenta de forma única e profunda sua sintonia com o autor.
Às sextas, Cacá Carvalho apresenta O Homem com a Flor na Boca, uma história que nasce a partir de um texto teatral. “Um homem consciente da finitude das coisas e de sua vida, fala sobre todos os particulares aparentemente comuns que compõem a existência, revelando a grandeza das coisas, a banalidade como são tratadas e a monotonia que torna a vida sem sabor. O gosto estranho do dia a dia preso no fundo da garganta.
Aos sábados, o público se delicia com A Poltrona Escura, resultado de um estudo das novelas “Os Pés na Grama”, “O Carrinho de Mão” e “O Sopro”, dos livros “Berecche e la guerra” e “Candelora”. No espetáculo, vemos as histórias de três homens irreverentes, poéticos e cheios de uma cruel consciência da nossa finitude. Numa novela, um filho não sabe o que fazer em casa com o pai viúvo. E por fim, em uma situação quase metafísica um homem entediado com a vida, grotescamente acaba com tudo e todos, chegando ao ponto de acabar consigo mesmo mergulhando em um espelho. Segundo o diretor Roberto Bacci, “a peça mostra como é inquietante o olhar divertido, lúcido e cruel de Pirandello sobre a condição humana.” Em 2004, o espetáculo foi considerado pela Associação Paulista de Críticos de Artes um dos cinco melhores do ano e rendeu o Prêmio Shell ao seu intérprete.
Aos domingos, finalizando a viagem à Trilogia de Pirandello, Cacá mergulha no universo dos romances. umnenhumcemmil vem do romance homônimo, último escrito por Pirandello. Nele vemos Gengé, que depois de um pueril comentário de sua mulher sobre o seu nariz que cai para a direita, descobre-se um outro e decide cancelar sua identidade, família e cultura para tornar-se nenhum, um nenhum entre cem mil.
A Trilogia Pirandello foi produzida pela Fondazione Pontedera Teatro (Itália) em parceria com a Casa Laboratório de São Paulo.
Este convite tem a produção de Iza Marie Miceli.
Anotações do Diretor Roberto Bacci
O número três na história da cultura humana assume um significado que vai além da conotação numérica. Três são os movimentos de cada ação, as três forças que compõem cada realização feita por nós, a força ativa, a força passiva que contrasta com a primeira e a força neutralizante que expressa o resultado dos dois primeiros movimentos. Assim, por exemplo, se eu trabalho com madeira, as coisas que executo como carpinteiro serão a força ativa, a madeira é o passivo e a mesa a força neutralizante, ou seja, o resultado das duas primeiras. Na trilogia feita por Cacá, acontece de certa forma a mesma operação. "O Homem com a Flor na Boca" pôs em movimento o nosso caminho para Pirandello, "A Poltrona Escura" foi o trabalho que nos levou à "resistência" literária do dramaturgo italiano e, finalmente, "umnenhumcemmil" é o resultado das obras dramáticas e filosóficas dos dois primeiros. A reflexão ulterior que podemos fazer é que o mesmo processo das três forças em ação pode ser encontrado em cada espetáculo, por exemplo, no primeiro se vê o ator como força ativa, no segundo o autor como material ativo do texto e reagindo ao ator, ou seja carpinteiro e matéria agindo e reagindo, e, no terceiro, a mesa, o resultado do trabalho dos dois primeiros. Não há propósito. Em "umnenhumcemmil", o personagem se abandona, fica passivo a contemplar a existência.
Então a Trilogia de Cacá/Pirandello para nós, não é um "repertório", mas sim a possibilidade de co-dividir pela primeira vez com os espectadores um novo sentido de trabalho de ator e teatro.
O número três, uma trilogia de um ator sobre um mesmo autor, assume na cultura do teatro, um significado que vai além da conotação numérica.
Roberto Bacci
O Teatro e o Tempo, Reflexões de Cacá Carvalho
São passados vinte anos desde o nosso primeiro Pirandello. Naquela época, o mundo era maior, a “banda larga” não havia diminuído as distancias, os tempos eram maiores. Sim e não.
Me vejo, passados esses 20 anos, evocando durante este tempo todo os discursos de Pirandello, repetindo publicamente a mim mesmo diante dos outros os textos de um mesmo autor por vinte anos.
Nunca havia pensado sobre isto. Não sei se é novo, ou raro, mas para mim, é perturbador.
Tudo começou com Roberto Bacci, que viu a necessidade de fazer um espetáculo que me servisse à independência produtiva. Pode-se dizer hoje que era coisa muito técnica, um expediente, uma estratégia tentando aliar sobrevivência e qualidade.
Anos depois, o olhar do herdeiro Alessandro D’Amico, em Roma, foi fundamental. Nos presenteou com as “novelas malditas”, que deu n’A Poltrona Escura, abrindo fisicamente a percepção do grandioso em Pirandello. Então todo o discurso sobre o homem contemporâneo, a maquinização da vida, o espelho sobre o qual nossas imagens se refletem, a vida que não se vive... tudo isto que é discurso, resultado de estudos e análises, começa a medida que o tempo passa, a ganhar um corpo em todo o trabalho. Um eco dentro, diferente da identificação com que nós atores, trabalhamos no teatro normalmente. Todos, Roberto, Stefano, Márcio, Fábio e eu, começamos a ver a ação do discurso e do tempo sobre o trabalho e o ator.
Vejo agora, concretamente o quanto o tempo e a constância das relações no teatro são importantes. O quanto é importante um mestre e um lugar, Roberto e Pontedera. Os caminhos vão se escrevendo, as dificuldades e oportunidades são os elementos de ação e reação. O sentido das coisas aparece no fim. São passados vinte anos.
Não sei dizer se o que nasceu em Pontedera, e vive há vinte anos por teatros da Europa e do Brasil é “Pirandello”, mas sei que esta experiência é como um espetáculo que se escreve ao longo de vinte anos, com companheiros que fui ganhando pelo caminho (o SESC, a BR Cultural, a Funarte são alguns) e eles fazem a escritura de um grande pedaço da minha vida no teatro, que prova que é coletivo, mesmo quando se está, aparentemente, só em cena.
Cacá Carvalho
SERVIÇO:
Trilogia Pirandello:
Cidade Tiradentes
Dos dias 15 à 27 de abril
Horário:
Sextas 20h / sábados e domingos 19h
[Entrada Gratuita]
Sextas - O Homem com a Flor na Boca
Sábados - A Poltrona Escura
Domingos - umnenhumcemmil
Local:
Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes
Rua Inácio Monteiro, 6.900 - Cidade Tiradentes
São Paulo - SP Tel. 2555-2840
Galerida Olido
Dos dias 29 de abril à 04 de maio
Horário:
Sextas e sábados: 20h / domingo: 19h
[Entrada Gratuita]
De terça à sexta haverá Oficina para a população local.
De sexta à domingo fará Apresentação da Trilogia Pirandello durante 1 semana.
Sextas - O Homem com a Flor na Boca
Sábados - A Poltrona Escura
Domingos - umnenhumcemmil
Local:
Av. São João, 473 - Centro
São Paulo - SP
Tel. 3331-8399 / 3397-0171
Teatro Cacilda Becker
Data: 06 de maio à 08 de junho
Horários
Sextas e sábdos às 21h sexta e sábado / Domingo às 19h
De terça à sexta haverá Oficina para a população local durante 5 semanas
De sexta à domingo fará Apresentação da Trilogia Pirandello durante 5 semanas [Temporada a preços populares]
Sextas - O Homem com a Flor na Boca
Sábados - A Poltrona Escura
Domingos - umnenhumcemmil
Local:
Teatro Cacilda Becker
Rua Tito, 295 - Lapa
São Paulo - SP
Tel. 3864-4513
Mais informações em facebook.com/TrilogiaDePirandello
Gênero: Drama
FICHA TÉCNICA
Trilogia Pirandello
COM: Cacá Carvalho
Direção: Roberto Bacci
Dramaturgia: Stefano Geraci
Cenário e figurino: Márcio Medina
Iluminação: Fábio Retti
Fotos: Lenise Pinheiro
Produção: FondazionePontedera de Teatro
Realização: CASA LABORATÓRIO PARA AS ARTES DO TEATRO, FONDAZIONE PONTEDERA DE TEATRO / Italia
Gestão: Marlene Salgado
Produção: Iza Marie Miceli
Assessoria de Imprensa :MCAtrês Assessoria de Comunicação e Marketing - Renata E Battaglia
Técnico de Luz: Yuri Cumer
Tradução: Cacá Carvalho
Todos os espetáculos foram criados pela mesma equipe
O Homem Com a Flor na Boca
Tradução: Cacá Carvalho
Duração: 65 minutos
Classificação etária: 16 anos
A Poltrona Escura
Tradução: Anna Mantovani / Cacá Carvalho
Duração: 90 minutos
Classificação etária: 16 anos
umnenhumcemmil
Composição Musical: Ares Tavolazzi
Tradução: Cacá Carvalho
Colaboração para a tradução: DavideCongionte e Maria Lisomar Silva
Duração: 80 minutos
Classificação etária: 16 anos
A Casa Laboratório para as Artes do teatro é um grupo filiado à Cooperativa Paulista de Teatro.