Cultura - Teatro

Carol Duarte estreia A Visita, solo que expõe a decadência e o adoecimento do pensamento conservador

27 de Junho de 2024

Espetáculo faz temporada no Teatro Firjan SESI Centro, de 1 de julho a 6 de agosto, e traz time de criação composto por Murillo Basso na direção e Aline Klein estreando na dramaturgia

Créditos: Murillo Basso

Em sua dramaturgia de estreia, Aline Klein apresenta ao público uma mulher solitária em seu minúsculo apartamento e nos faz refletir sobre o adoecimento psíquico coletivo e o avanço de movimentos ultraconservadores. A Visita, que estreou em novembro de 2023 no SESC Belenzinho com sessões esgotadas, em São Paulo, desembarca no Rio de Janeiro para uma nova temporada entre 1 de julho e 6 de agosto, com apresentações às segundas e terças-feiras, às 19h.

O espetáculo conta com a direção de Murillo Basso, diretor de Agnes de Deus e assistente de direção de Lady Tempestade, e marca a estreia da atriz Carol Duarte em seu primeiro solo.

O conto que inspirou a peça foi escrito durante a pandemia e condensa de maneira crítica e bem-humorada o reacionarismo que deu tom ao cenário político brasileiro nos últimos anos. Para além do já conhecido ódio às diferenças, os artistas se viram invadidos por uma avalanche das mais diversas retóricas intolerantes, até então restritas aos círculos mais radicalizados. 

As mídias digitais, com a disseminação de correntes de mensagens e ausência de filtros, deram voz e poder de coesão aos execradores da pluralidade e produziram visões ensimesmadas e conspiratórias da realidade. "É muito complexo elaborar os fatos históricos que estamos vivenciando, e parece que caímos todos num estado de consternação e incredulidade diante do absurdo", comenta Aline Klein sobre o contexto que inspirou a criação da peça.

Dialogando criticamente com esse quadro, o espetáculo metaforiza o processo de “saída do armário” de personagens ultraconservadores, situando a ação num pequeno e caótico apartamento, cuja conexão com o mundo se dá, sobretudo, por meio do aparelho celular.

No espetáculo, a mulher confinada recebe uma visita inesperada do trabalho. Ao tentar justificar sua situação, e atormentada por uma estranha presença, ela começa a falar ininterruptamente e se deixa levar por uma torrente de pensamentos até romper com a realidade e mergulhar num discurso ressentido, persecutório e delirante de superioridade. O público se depara a princípio com uma figura complexa, multifacetada, carismática e abjeta, difícil de capturar, difícil de definir, mas que pouco a pouco descortina um pensamento radical e conservador.

"A peça traz para a cena uma figura que embarca num processo de radicalização e fanatismo, levando sua narrativa ao limite entre ficção e realidade. A protagonista vai pouco a pouco vomitando um ressentimento típico da elite decadente paulista, que sonha, pateticamente, ser algo que não é", diz Carol Duarte sobre a personagem que interpreta.

A direção de Murillo Basso aposta numa imagem-síntese ao enraizar a figura no palco, limitando suas possibilidades de movimento. Desse modo, ele desloca a atenção da plateia para o trabalho minucioso da atriz Carol Duarte, que mobiliza seus recursos para navegar o sofisticado labirinto dramatúrgico criado pela autora. O espetáculo aposta no humor como chave para lidar com a aridez e a violência do discurso da figura central, deixando o público o tempo todo em estado de atenção.

"Sabemos da complexidade e da densidade dos temas que estamos abordando neste espetáculo, mas acreditamos plenamente no potencial da arte e do teatro como plataforma para se discutir a realidade e imaginar novos futuros. Depois destes últimos anos sob ameaça constante, celebremos a liberdade democrática de fazer arte e sigamos em frente com olhos e ouvidos bem abertos!", diz o diretor da montagem.

Sinopse

Uma mulher confinada em seu pequeno apartamento, em estado de abandono, recebe inesperadamente uma visita do trabalho. Ao tentar justificar sua situação, e atormentada por uma estranha presença, entrega-se à torrente de seus pensamentos e rompe com a realidade, mergulhando em um transe delirante. 

Sobre Carol Duarte

A atriz Carol Duarte protagonizou o filme A Vida Invisível, dirigido por Karim Aïnouz e vencedor da mostra Um Certain Regard no Festival de Cannes, em 2019.  O filme foi exibido em mais de quinze países, e foi selecionado para representar o Brasil no Oscar 2020. Com esse trabalho ganhou os prêmios de melhor atriz da Associação Paulista dos Críticos de Arte 2019 (APCA), melhor atriz ibero-americana no festival Valladolid na Espanha, melhor interpretação feminina no prêmio Platino Del Cine Iberoamericano. Em 2023, Carol Duarte voltou ao Festival de Cannes com seu segundo longa-metragem, desta vez em um filme italiano chamado La Chimera, de Alice Rohrwacher (diretora de "Lazzaro Felice" e "As Maravilhas") atuando ao lado de grandes nomes como Isabella Rossellini e Josh O'Connor. Carol é coprotagonista do filme que concorreu à Palma de Ouro, principal prêmio do festival. Em 2024 lançou também o filme "Malu", de Pedro Freire, no Festival de Sundance, e atualmente está rodando o novo filme do diretor Eduardo Nunes, como protagonista. 

Estreou na televisão em 2017 com o personagem Ivan, na novela A Força do Querer, que lhe rendeu alguns prêmios, dentre eles Revelação do Ano Prêmio F5 (Folha de São Paulo), Atriz Revelação Melhores do Ano da Rede Globo. Em 2018 foi escolhida para integrar o elenco da novela O Sétimo Guardião interpretando a prostituta Stefânia. Em 2019 estreou a série Segunda Chamada, de Joana Jabace, sua personagem é Solange, uma mãe solo. Em 2021 estreou o curta-metragem de Nina Kopko Chão de Fábrica interpretando Renata, filme vencedor na categoria melhor curta metragem no Prêmio ABRACCINE 2021, no Festival Internacional de Cinema de Fribourg na Suíça e no Festival de Havana, em Cuba.

Carol tem 32 anos e sua formação como atriz é na Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo. Iniciou seus estudos teatrais aos 15 anos nas oficinas culturais de São Bernardo do Campo, fez teatro adolescente na Fundação das Artes de São Caetano do Sul, e Humor SP- Escola de Teatro, e foi uma das integrantes da companhia Teatro da Transpiração. Desde então Carol se dedica inteiramente às artes cênicas, e atuou em mais de 20 espetáculos, como Ensaio Sob(r)e Angústia, direção Lucienne Guedes Fahrer, O Quarto Rosa e A visita da Velha Senhora, direção Celso Frateschi, Ópera na Vila, direção Paulo Celestino.  É atriz e idealizadora, ao lado de Carla Zanini, do espetáculo As Siamesas - Talvez eu Desmaie no Front. Em 2023 cumpriu temporadas em quatro capitais brasileiras no Centro Cultural Banco do Brasil com o espetáculo "Babilônia Tropical - a nostalgia do açúcar", com direção de Marcos Damigo. Em novembro de 2023, Carol Duarte realizou seu primeiro espetáculo solo chamado "A Visita", texto de Aline Klein com direção de Murillo Basso.

Sobre Murillo Basso

Ator formado pela Escola de Arte Dramática (EAD-USP) e bacharel em Direção Teatral pela USP (CAC-ECA), Murillo Basso é integrante-fundador da companhia Teatro do Osso, que começa sua trajetória com o espetáculo "Canto Para Rinocerontes e Homens" (MIT Plataforma BR, Feverestival). Fortemente engajado na cena teatral paulistana, trabalhou com artistas como Yara de Novaes, Isabel Teixeira, Miriam Rinaldi, Kenia Dias, Grace Passô, Rogério Tarifa, Carolina Bianchi, entre outros. Desde 2016, transita entre Brasil e Alemanha, tendo uma colaboração artística constante com a atriz e bailarina polonesa Anita Twarowska - "For The Two Of Us. For Us All"(2018), "Let Us Stay"(2019) e "Dançaremos A Distância" I e II (2021) e "Here We Are"(2023). 

Em 2022, dirigiu os espetáculos "Produtos", de Fernanda Rocha (Teatro do Osso), com temporada no Espaço Mezanino do SESI Paulista, e "Um Arco-Íris Colorindo o Céu", de Eloisa Elena, com codireção com Carlos Gradim e estreia no SESC Ipiranga. Em janeiro de 2023, foi coreógrafo e performer do espetáculo "HERE WE ARE", que estreou no Festival Made In Potsdam (Potsdam, Alemanha). Foi assistente de direção e diretor de movimento no espetáculo "Teoria King Kong" (Sesc Copacabana, Rio de Janeiro, 2023); diretor do espetáculo "Agnes de Deus" (Teatro Aliança Francesa, São Paulo, 2023), destacada como uma das 10 melhores peças de 2023 em São Paulo pelo Estadão; diretor de "A Visita", solo com a atriz Carol Duarte (Sesc Belenzinho, São Paulo, 2023); e assistente de direção do espetáculo "Lady Tempestade", com Andrea Beltrão (Teatro Poeira, Rio de Janeiro, 2024). 

Sobre Aline Klein 

Aline Klein é escritora e tradutora. Foi editora-chefe da revista Jacobin Brasil (2018-2022). Militante socialista há duas décadas, atua junto aos movimentos operário, popular e de moradia em São Paulo e Osasco. Estreou, em 2023, como dramaturga com a peça "A Visita".

Ficha Técnica

Atuação: Carol Duarte

Direção: Murillo Basso

Dramaturgia:  Aline Klein

Assistência de Direção: João Victor Toledo

Direção de Produção: Canafístula 

Assistência de Produção: Gabs Ambròzia

Iluminação: Dimitri Luppi

Assistência de Iluminação: Felipe Fly

Cenografia: Stéphanie Fretin

Composição/Trilha Sonora: Muep Etmo

Técnica de áudio: Viviane Barbosa

Técnico de palco: Iuri Wander 

Operador de Luz: Tiago D'Avila 

Operação de Som: Gabriel Reis

Figurino: Vive Almeida

Assistência de Figurino/Acervo: Cay Minutti

Designer/Identidade Visual: Fernanda Zotovici

Assessoria de Imprensa: Pombo Correio

Serviço

A Visita, de Aline Klein

Temporada: 1 de julho a 6 de agosto de 2024

Segundas e terças, às 19h. (12 apresentações)

Teatro Firjan SESI Centro – Av. Graça Aranha, 1 - Centro, Rio de Janeiro 

Ingresso: R$ 40,00 (inteira) e R$ 20,00 (meia)

Vendas online pelo Sympla e bilheteria local.

Capacidade: 338 lugares

Classificação: 14 anos 

Duração: 50 minutos

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