Com direção de Zé Pereira e Luiza Magalhães, solo retrata uma mulher que procura resgatar sua identidade. Trancada em seu apartamento à espera de um homem que nunca chega, ela passa a observar os vizinhos pela janela, roubando suas histórias
Crédito: Mia Shimon |
Uma reflexão sobre o papel da mulher na sociedade é o que propõe o solo Sonhos Roubados, protagonizado pela atriz Mariana Loureiro, que estreia no dia 6 de maio na Casa Teatro de Utopias. A peça, com direção de Zé Pereira e Luiza Magalhães, segue em cartaz até o dia 21 do mesmo mês, com apresentações aos sábados, às 20h, e aos domingos, às 18h.
A trama acompanha a longa espera de uma mulher por seu amante. Enquanto aguarda trancada em seu apartamento, ela observa seus vizinhos pela janela - e passa a inventar e encenar suas histórias no espaço do seu confinamento, vivenciando situações de solidão e violência, mas também de erotismo, sarcasmo e humor ácido, em um jogo que a seduz e a absorve.
Nesse jogo de espelhos com os vizinhos, ela começa também a refletir sobre os papéis da mulher em nossa sociedade, percebendo que não é só o relacionamento que a aprisiona, mas também as estruturas, as expectativas, as culpas e os medos que a acompanham. Afinal, o que é ser mulher?
A partir dessas histórias, a personagem busca se desvencilhar das máscaras que veste como defesa ou fuga, abrindo mão dos modelos copiados, dos sonhos roubados como se fossem dela própria. Mas quem é ela sem esses sonhos? Em sua jornada de descoberta, ela irá antes se perder nesse caldeirão que mistura realidade e fantasia, desconstruindo tudo que ela é, ou pensa que é. Essa viagem será também curiosa, bem-humorada, excitante, reflexiva e, por fim, catártica.
O foco da encenação é explorar o trabalho da atriz e a atmosfera lúdica na composição desses diversos “personagens dentro da personagem” e a relação com o público, que se torna uma espécie de voyeur, como se também ele estivesse observando essa mulher sem ser notado. A peça propõe ao público questões como: quem está observando quem? Não estaríamos todos nós vivendo sonhos roubados?
Sobre a encenação
Apesar da simplicidade aparente (apenas uma atriz, um único cenário), Sonhos Roubados é uma peça de muitas vozes e muitas camadas. Sem uma marcação clara de onde começa ou termina cada camada, o espetáculo nos convida a experimentar a confusão mental da personagem e a embarcar em uma atmosfera de sonho e delírio.
Existe uma primeira camada, mais imediata, que mostra a rotina da personagem em seu isolamento. A esta se sobrepõe uma segunda, da história desse romance abusivo; e a esta uma terceira, com as histórias dos vizinhos, espiadas ou inventadas. E sobre estas se revela uma outra, quase imperceptível, com os comentários e reflexões da própria atriz Mariana Loureiro.
Luz, som e projeções serão usadas para evocar lembranças e delimitar mudanças e passagens, mas o foco da encenação está na interpretação e nas transformações corporais da atriz, às vezes recorrendo ao naturalismo, às vezes flertando com o grotesco e o surreal. Ainda que o tom principal da peça seja dramático, a encenação irá explorar a riqueza do jogo proposto pelo texto, permitindo momentos de humor, erotismo e absurdo.
Os elementos cenográficos e figurinos são minimalistas, servindo de suporte para a interpretação, mas acrescentando detalhes sutis que contribuem para a atmosfera de sonho. A ideia é distribuir o público de forma que a atriz caminhe entre os espectadores, favorecendo uma comunicação mais direta e intimista.
Sobre Mariana Loureiro
Formada em Artes Cênicas pela ECA-USP. Foi integrante do CPT, dirigido por Antunes Filho, realizando temporada do espetáculo “Drácula e outros Vampiros”, no Brasil e Espanha. Em Londres, atuou em três espetáculos junto com a companhia teatral do Riverside Studios. Também, atuou na peça “Rua do Medo”, de Leonardo Cortez (texto indicado ao prêmio Shell), com direção de Marcelo Lazzaratto e, entre outros espetáculos, protagonizou “Bem-Vindo, Estranho”, da autora britânica Angela Clerkin, realizando turnê no Brasil e Portugal.
No cinema e na TV, trabalhou com os diretores Fernando Meirelles (Felizes Para Sempre – Rede Globo), Walter Salles (Abril Despedaçado), Carlos Reinchenbach, Ricardo Elias, entre outros. Protagonizou "Carmo – Hit The Road", longa-metragem de Murilo Pasta, vencedor do prêmio de público da Mostra Internacional de Cinema de SP e presente na seleção oficial do Festival de Sundance. Participou de séries de TV na BBC de Londres (Casualty), na Fox Brasil (9mm) e na MTV (Copa do Caos). Atualmente, pode ser vista no filme “Chorar de Rir” (HBO) de Toniko Melo.
Sobre Zé Pereira
Zé Pereira é dramaturgo, escritor, diretor de teatro e curta-metragens e crítico musical. Seu último texto teatral, “Construção”, foi vencedor do 9o. Prêmio Nacional de Dramaturgia Carlos Carvalho (Porto Alegre, 2022), Foi diretor do curta-metragem “São Paulo nos pertence”, premiado em diversos festivais nacionais. É também autor das peças teatrais “A Diferença Que Um Dia Faz”, “Sonhos Roubados” e “Pulp Love”, e dirigiu as encenações de “O Colecionador” (adaptado por ele mesmo do romance de John Fowles), “Kathie e o Hipopótamo” (Mario Vargas Llosa) e “Jacques e seu Amo” (Milan Kundera). Como escritor, integrou a antologia de contos “Da substância dos sonhos e outras periferias”. Foi fundador e editor do site de música Lineup Brasil, parte da rede de conteúdo da MTV, no qual fazia a cobertura de shows e festivais musicais no Brasil e exterior. Foi também colunista musical da revista Follow. Cursou a Faculdade de Artes Cênicas da ECA/ USP e a Escola Superior de Propaganda e Marketing.
Sobre Luiza Magalhães
Atriz, bailarina e diretora de movimento. Atriz formada pelo Centro de Artes e Educação Célia Helena e bacharel em Letras pela FFLCH-USP. Foi atriz integrante do Núcleo Experimental de Artes Cênicas do SESI e é co-fundadora do grupo teatral trupe à grega. Foi aluna da Escola de Dança do Theatro Municipal de SP. Bailarina do projeto “Ateliê de solos”, orientado pela bailarina Beth Bastos, criando o solo de dança-teatro Cecília (Oficinas Culturais Oswald Andrade) contemplado pelo Fomento a Dança.
Como atriz, participou de diversas montagens como a ópera AIDA (2022), direção de Bia Lessa e coreografia de Lili De Grammond, no Theatro Municipal de São Paulo, O Dragão Dourado (2017-2019), de Roland Schimmelpfennig, direção de Dagoberto Feliz, A Dama (Sesc Campinas), de Thiago Richter, Barba Azul (Galpão do Folias), direção de Luciana Schwinden. Diretora de movimento de projetos como Dora, com direção e atuação Sara Antunes, na Cúpula do Theatro Municipal de São Paulo, composto no projeto Teatro no Theatro, e em clipes como de Jaloo, Francisco el Homebre, Sebastianismo, Ju Strassacapa (Lazuli).
Atualmente está como atriz na nova montagem da peça O Dragão Dourado, de Roland Schimmelpfennig, com direção de Dagoberto Feliz, idealizado pelo seu grupo trupe à grega, contemplados pelo edital Múltiplas Linguagens da Secretaria de Cultura de São Paulo (2023).
Sinopse
“Sonhos Roubados” é a história de uma mulher que espera seu amante, trancada em seu apartamento por muito tempo. Enquanto espera, ela observa seus vizinhos pela janela - e passa a inventar e encenar suas histórias no espaço do seu confinamento, vivenciando situações de solidão e violência, mas também de erotismo, sarcasmo e humor ácido, em um jogo que a seduz e a absorve. Nessas histórias ela vai encontrar fragmentos de si própria, iluminando também territórios ocultos do relacionamento abusivo em que ela se descobre.
Ficha Técnica
Idealização: Zé Pereira e Mariana Loureiro
Direção: Zé Pereira e Luiza Magalhães
Elenco: Mariana Loureiro
Dramaturgia: Zé Pereira com colaboração de Mariana Loureiro
Direção de movimento: Luiza Magalhães
Figurino: Camila Bueno
Cenografia: Bruno Fernandes
Design de luz: Felipe Stucchi
Design de som: Bruno Fernandes
Vídeo e fotos: Mia Shimon
Arte gráfica: Claudia Furnari
Produção: Cotiara Produtora - Ana Elisa Mello e Samya Enes
Assistência de Produção: Letícia Rodrigues
Assessoria de Imprensa: Pombo Correio
Serviço
Sonhos Roubados
Temporada: 6 a 21 de maio, aos sábados às 20h, e aos domingos às 18h
Casa Teatro de Utopias – Rua Duílio, 46, Lapa*
Ingressos: R$80 (apoiador) R$40 (inteira) e R$20 (meia-entrada)
Vendas online pelo site Sympla
Classificação: 18 anos
Duração: 75 min
Capacidade: 60 lugares
Acessibilidade: Sim
Informações e reservas: (11) 941093191
*A casa abre uma hora antes do início do espetáculo