Cultura - Teatro

A escola dos Amantes, de Mozart, que lança olhar sobre fidelidade e amor livre

22 de Março de 2023

Reconhecida tardiamente como uma obra-prima por conta de seus temas espinhosos como fidelidade das mulheres, o orgulho e o lugar do amor na sociedade, a ópera será apresentada entre os dias 24/03 e 01/04. A obra conta com Roberto Minczuk na direção musical, Julianna Santos na direção cênica, André Cortez na cenografia e Olintho Malaquias no figurino

Crédito: Stig de Lavor

Quando lançada em 1790, Così Fan Tutte (Assim Fazem Todas): A Escola dos Amantes, obra em dois atos de Wolfgang Amadeus Mozart, com libreto de Lorenzo da Ponte, causou certa relutância em parte do público por trazer temas como sexualidade, fidelidade e amor. Na época, os críticos mais equivocados ligados ao romantismo a descreveram como “ultrajante, improvável, imoral e indigna para um músico como Mozart”. A história e sucesso crescente ao passar dos anos os provaram errados.

Sendo uma daquelas obras que provoca incessantemente uma nuvem de discursos críticos sobre si a cada nova montagem, a ópera italiana foi o clássico escolhido como abertura da temporada 2023 do Theatro Municipal, com participação da Orquestra Sinfônica Municipal e Coro Lírico Municipal. Ela será apresentada entre os dias 24/03 e 01/04, tem duração de 170 minutos com intervalo e ingressos de R$ 12 a R $158 (inteira).

Apaixonados por suas respectivas noivas, as irmãs Fiordiligi e Dorabella, damas de Ferrara, os jovens oficiais Guglielmo e Ferrando confiam nelas incondicionalmente. Mas, provocados pelo velho filósofo Don Alfonso, decidem testar a fidelidade delas. A trama se desenvolve em um jogo de desentendimentos, inseguranças e dúvidas dos personagens, principalmente por parte dos homens. A obra trata dos temas da infidelidade, questionando a instituição do amor romântico, o que fez com que só fosse reconhecida como uma obra-prima tardiamente, no século XX. A música de Mozart dá ao libreto de Lorenzo da Ponte uma dimensão de forte realismo e um olhar cuidadoso de investigação da natureza humana.

A nova montagem de Così Fan Tutte terá Roberto Minczuk com direção musical, Julianna Santos na direção cênica, André Cortez na cenografia e Olintho Malaquias no figurino. Nos dias 24, 26, 29 e 01, o elenco será composto por: Laura Pisani (Fiordiligi), Josy Santos (Dorabella), Anibal Mancini (Ferrando), Michel De Souza (Guglielmo), Saulo Javan (Don Alfonso) e Chiara Santoro (Despina).

Já nos dias 25, 28 e 31, a obra será encenada pelo elenco 2, com Gabriella Pace (Fiordiligi), Juliana Taino (Dorabella), Luciano Botelho (Ferrando), Fellipe Oliveira (Guglielmo), Daniel Germano (Don Alfonso) e Carla Domingues (Despina).

Em seu processo de pesquisa, a diretora cênica Julianna Santos conta que partiu do estudo do libreto para construção da nova montagem da ópera. O libreto de Da Ponte de Così Fan Tutte, diferente de outras obras, não tem um ponto de partida originário claro. Segunda a diretora, algumas teorias dos anos 1950 dizem que ela é baseada no mito de Céfalo e Prócris. Fez parte do processo de elaboração dessa montagem um mergulho nas interpretações ao longo dos séculos sobre sua origem misteriosa. “Geralmente começamos a trabalhar em uma ópera muito antes. Mas meu primeiro contato foi diretamente com o libreto, deixando a música como um fundo de estudos, pensando como ela pulsa junto do texto”, explica.

Segundo a diretora, a ideia da nova montagem é misturar o realismo e ambiguidade do texto original ao sonho e o delírio do olhar individual e das incertezas das personagens. “Ela é uma obra que Mozart não deixa ficar banal. Então a música vem para dar um profundidade quase que filosófica, sobre o que são as relações e a pulsão humana, sem colocar no lugar do vulgar, dando até um lugar da beleza”.

“Na ópera tentamos criar um espaço que não fosse necessariamente realista, mas que se alargasse como uma pulsão, em jogo de espelhos entre os personagens e uma simetria do texto e do espaço, que existe na música também. No segundo ato, focamos em individualidade e como os temperamentos das personagens divergem”, pontua Julianna.

A apresentação trará um Mozart de sonoridade alegre, cômica e satírica, com uma certa leveza para abrir a temporada. Para Roberto Minczuk, regente da Orquestra Sinfônica Municipal e quem assina a direção musical do espetáculo, a escolha por essa obra envolveu longa concepção e processo criativo construído por anos. “Essa ópera seria encenada em 2015, então é um desejo do público de São Paulo há muitos anos. O processo de construção dessa ópera passou por muitas audições para cantores, além de um debate de como seria a cara dada a ela”, explica. “A cidade de São Paulo tem um público enorme e ávido por óperas e para as produções do Theatro Municipal. A expectativa é grande. Vamos abrir com uma ópera leve e bem humorada, que os solistas adoram tocar e o público adora ouvir”, continua o regente.

A obra estreou pela primeira vez no Municipal de São Paulo em 23 de setembro de 1957, com Orquestra Sinfônica Municipal, Coro Lírico Municipal, com regência do maestro Roberto Kinsky e direção cênica de Martin Eisler. Na temporada, além de Così fan Tutte, o público de São Paulo viu pela primeira vez Der Fliegende Holländer (O Navio Fantasma). Curiosamente, em 2023, sessenta e seis anos depois, assim como em 1957, Cosi fan Tutte volta ao palco do Theatro Municipal na mesma temporada lírica que O Navio Fantasma, de Richard Wagner, prevista para novembro.

Seu reconhecimento chegou apenas no século XX, por conta de suas personagens repletas de mulheres volúveis e seus homens postos em um lugar de insegurança. Seu humor foi melhor compreendido anos depois, justamente por tratar-se de um ópera considerada por alguns como buffa, mas de final melancólico, cheia de vividez e, consequentemente, de ironia.

Esses elementos são frutos dessa fusão com Da Ponte, que permitiu a Mozart produzir uma obra mais cômica, gênero que vinha em alta desde a década de 1760. A parceria que se iniciou nas óperas Le Nozze di Fígaro e Don Giovanni, o que leva certa especulação de que esse não seria o último trabalho dos dois se não fosse a morte do compositor dois anos após a estreia. “Cosí Fan Tutte faz parte de uma trilogia de Mozart com o libretista Da Ponte, ao lado de Le Nozze di Figaro e Don Giovanni. Entre as três, Così Fan Tutte de fato não tem os trechos musicais mais famosos dessa parceria, mas é extraordinária e genial e isso foi reconhecido através do tempo”, pontua Minczuk.

A parceria dá a obra uma multiplicidade de sentidos, que vai desde emaranhado desejos, desentendimentos e inseguranças da personagem, até uma verdadeira crítica de costumes e a própria natureza humana, marcada por melodias leves e divertidas.

Em concordância com a direção musical, pensando na questão de como ler o texto para os dias de hoje, Julianna Santos afirma que a montagem vai lançar olhar para questões anacrônicas. “O que tem de mais contemporâneo no texto é seu olhar para as pulsões humanas, da impulsividade, ciúme, fidelidade e amor”, explica. “O nome dela (Così Fan Tutte ou Assim Fazem Todas) é uma questão que se discute muito. Mas o que mais me interessa nessa montagem é o subtítulo que é A Escola dos Amantes. Não quero que seja entendida como uma guerra dos sexos”, finaliza.

Justamente por trazer reflexão profunda sobre a sexualidade humana, algo que em muito conversa com o debate contemporâneo sobre não-monogamia e amor livre, sem esquecer da dicotomia base da filosofia humana entre razão e emoção, que Così Fan Tutte teve sua trajetória marcada por críticas e ressalvas da sociedade europeia na época, até chegar mais potente que nunca nos dias de hoje. Algo que só um clássico seria capaz.

Récitas 26/03 e 01/04 patrocinadas pelo Bradesco.

SERVIÇO

Così Fan Tutte (Assim Fazem Todas): A Escola dos Amantes

Ópera em 2 atos de Wolfgang Amadeus Mozart com libreto de Lorenzo da Ponte.

ORQUESTRA SINFÔNICA MUNICIPAL

CORO LÍRICO MUNICIPAL

Roberto Minczuk, direção musical

Julianna Santos, direção cênica

André Cortez, cenografia

Olintho Malaquias, figurino

Dias 24, 26, 29 e 01

Laura Pisani, Fiordiligi

Josy Santos, Dorabella

Anibal Mancini, Ferrando

Michel De Souza, Guglielmo

Saulo Javan, Don Alfonso

Chiara Santoro, Despina

Dias 25, 28 e 31

Gabriella Pace, Fiordiligi

Juliana Taino, Dorabella

Luciano Botelho, Ferrando

Fellipe Oliveira, Guglielmo

Murilo Neves, Don Alfonso

Carla Domingues, Despina

24/03/2023 • 20h

25/03/2023 • 17h

26/03/2023 • 17h

28/03/2023 • 20h

29/03/2023 • 20h

31/03/2023 • 20h

01/04/2023 • 17h

Duração aproximadamente 170 minutos com intervalo

Classificação indicativa -- Não recomendado para menores de 12 anos -- Pode conter histórias com agressão física, insinuação de consumo de drogas e insinuação leve de sexo.

Ingresso de R 12 a R 158 (inteira)

Para assistir a este espetáculo recomendamos seguir os protocolos estipulados em nosso Manual do Espectador (acesse aqui).

Programa sujeito a alteração.

SOBRE O COMPLEXO THEATRO MUNICIPAL DE SÃO PAULO

O Theatro Municipal de São Paulo é um equipamento da Prefeitura da Cidade de São Paulo ligado à Secretaria Municipal de Cultura e à Fundação Theatro Municipal de São Paulo.

O edifício do Theatro Municipal de São Paulo, assinado pelo escritório Ramos de Azevedo em colaboração com os italianos Claudio Rossi e Domiziano Rossi, foi inaugurado em 12 de setembro de 1911. Trata-se de um edifício histórico, patrimônio tombado, intrinsecamente ligado ao aperfeiçoamento da música, da dança e da ópera no Brasil. O Theatro Municipal de São Paulo abrange um importante patrimônio arquitetônico, corpos artísticos permanentes e é vocacionado à ópera, à música sinfônica orquestral e coral, à dança contemporânea e aberto a múltiplas linguagens conectadas com o mundo atual (teatro, cinema, literatura, música contemporânea, moda, música popular, outras linguagens do corpo, dentre outras). Oferece diversidade de programação e busca atrair um público variado.

Além do edifício do Theatro, o Complexo Theatro Municipal também conta com o edifício da Praça das Artes, concebido para ser sede dos Corpos Artísticos e da Escola de Dança e da Escola Municipal de Música de São Paulo.

Sua concepção teve como premissa desenhar uma área que abraçasse o antigo prédio tombado do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo e que constituísse um edifício moderno e uma praça aberta ao público que circula na área.

Inaugurado em dezembro de 2012 em uma área de 29 mil m², o projeto vencedor dos prêmios APCA e ICON AWARDS é resultado da parceria do arquiteto Marcos Cartum (Núcleo de Projetos de Equipamentos Culturais da Secretaria da Cultura) com o escritório paulistano Brasil Arquitetura, de Francisco Fanucci e Marcelo Ferraz.

Patrocinadores do Complexo Theatro Municipal de São Paulo - Sustenidos: Nubank, Bradesco e Visa.

SOBRE A SUSTENIDOS

A Sustenidos é a organização responsável pela gestão do Conservatório Dramático e Musical de Tatuí e do Theatro Municipal de São Paulo, dos programas Musicou, Som na Estrada, e MOVE (Musicians and Organizers Volunteer Exchange); e pelos festivais Ethno Brazil e Imagine. Foi responsável pela gestão do Projeto Guri, programa de ensino musical, no litoral e no interior do Estado de São Paulo, incluindo os polos da Fundação CASA, de 2004 a 2021. Além do Governo de São Paulo, a Sustenidos, eleita a Melhor ONG de Cultura de 2018, conta com o apoio de prefeituras, organizações sociais, empresas e pessoas físicas. Instituições interessadas em investir na Sustenidos, contribuindo para o desenvolvimento integral de crianças e adolescentes, têm suporte fiscal da Lei Federal de Incentivo à Cultura e do Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (FUMCAD). Pessoas físicas também podem ajudar. Saiba como contribuir no site da Sustenidos.

Quem apoia nossos projetos: Nubank, Visa, Bradesco, CTG Brasil, CCR, Sabesp, Grupo Maringá, SulAmérica, Microsoft, Bayer, CSN, Novelis, Blau, Cipatex, Eixo SP, Rodovias do Tietê, Faber-Castell, WestRock, SKY, BTP, CNH Industrial, Supermercados Tauste e Castelo Alimentos.

Patrocinador do projeto Municipal Circula: Nubank.

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