A peça inédita nos palcos traz o universo imaginoso de uma tragédia sertaneja com direção de Fernando Neves
Estreia no dia 25 de janeiro, 18h30, no Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo, Uma Mulher Vestida de Sol. A peça inédita de Ariano Suassuna com direção de Fernando Neves e apresentada pela Cia Vúrdon de Teatro Itinerante, fica no CCBB SP para curta temporada, de quarta a domingo, até 12 de fevereiro.
O drama que conduz o enredo está nas disputas de terra, em uma trama familiar de amor e sangue. Esta obra trágico-lúdica de Suassuna apresenta uma estética sertaneja que se une ao romanceiro ibérico.
O universo imaginoso dessa tragédia sertaneja conta com telões “armoriais” pintados por Manuel Dantas Suassuna (filho de Ariano), cenografia de Guryva Portela, figurino e visagismo de Leopoldo Pacheco e Carol Badra e trilha sonora original, incluindo os arranjos de canto, em criação assinada por Renata Rosa. No elenco, Guryva Portela, Marcello Boffat, Jorge de Paula, Bruna Recchia, Kátia Daher, William Amaral e Carlos Ataíde.
Uma Mulher Vestida de Sol traz uma atmosfera épica de amor e violência, permeada por elementos como sede de sangue, palavra de honra, amor e assédio paterno nas exatas medidas dramáticas e trágicas. Não realista, parte de um drama humano para falar da grande tragédia coletiva do sertão: a luta do homem com a terra queimada de sol. Disputas por terra, briga de famílias, feminicídio e ameaças de morte são temas latentes na peça.
Uma cerca que divide duas propriedades é o epicentro do conflito. De um lado, Joaquim Maranhão (Guryva Portela), violento e sanguinário, fazendeiro, criador de gado e pai de Rosa (Bruna Recchia); do outro, Antônio Rodrigues (Marcelo Boffat), agricultor pacífico e pai de Francisco. Como pano de fundo, a história do amor impossível entre os primos Rosa e Francisco (Jorge de Paula) que deveriam ser inimigos, mas se apaixonam profundamente.
“O texto de Suassuna vai muito além do tema. Trata-se da realidade do sertão elevada à tragédia. A terra é o que menos interessa no contexto geral. A cerca é a razão, simboliza os sentimentos, a vida, a falta de espaço”, argumenta o diretor. Ele explica que esta cerca se naturaliza em cena, movimentando-se em diferentes sentidos e direções. “Esta cerca existe dentro das personagens, elas estão cercadas. A cerca é a peça”, diz.
Uma Mulher Vestida de Sol é um texto importante não só pelos valores próprios, mas também por ser a primeira grande tragédia produzida no Nordeste, ainda inédita nos palcos brasileiros. Escrita em 1947, para um concurso promovido pelo Teatro do Estudante de Pernambuco, e classificada em primeiro lugar, deu início também à carreira de autor teatral de Ariano Suassuna.
O diretor Fernando Neves ressalta a relevância desse texto, “o primeiro de um advogado, um filósofo que, vendo o circo, se apaixona pelo teatro”. Ele destaca a qualidade da dramaturgia e as possibilidades que ela oferece, tendo claras as camadas clássicas de tempo, espaço e ação. “O texto é enxuto, trata de uma tradição familiar, sem viés psicológico, exigindo o aprofundamento do ator”, comenta.
Sobre a concepção da montagem, Fernando Neves, mestre no ofício da reinterpretação do circo-teatro há quase duas décadas, explica que “a estética parte do arquétipo, da tipologia circense, mas retrabalhada na delicadeza, na precisão do domínio da linguagem”. O espírito onírico, a música e os cânticos estão presentes no espetáculo, entoados pelo elenco, performando momentos lúdicos no decorrer da história, que se passa em apenas 24 horas. A encenação de Neves traz também momentos de humor como respiros no trágico enredo.
Segundo Suassuna, Uma Mulher Vestida de Sol foi sua primeira tentativa de recriar o romanceiro popular nordestino. “Salientei, na época, a semelhança existente entre a terra da Espanha e o sertão, o romanceiro ibérico e o nordestino. Tomei um romance popular do sertão e tratei-o dramaticamente, nos termos da minha poesia - ela também filha do romanceiro nordestino e neta do ibérico. Procurei conservar na minha peça o que há de eterno, de universal e de poético no nosso riquíssimo cancioneiro onde há obras primas de poesia épica, especialmente na fase denominada pastoreio”, palavras do autor sobre sua obra.
Ao receber este espetáculo, o Centro Cultural Banco do Brasil oferece ao público contato com a obra de um dos maiores artistas do país, reafirmando seu compromisso com a promoção da arte e ampliação da conexão dos brasileiros com a cultura.
FICHA TÉCNICA
Texto: Ariano Suassuna
Direção: Fernando Neves
Elenco / personagens: Guryva Portela (Joaquim Maranhão), Marcello Boffat (Antônio Rodrigues), Jorge de Paula (Juiz e Francisco), Bruna Recchia (Rosa), Kátia Daher (Cícera e Inocência), William Amaral (Delegado, Gavião e Martim) e Carlos Ataíde (Manuel e Donana).
Pinturas e desenhos originais: Manuel Dantas Suassuna
Cenografia: Guryva Portela
Figurino e visagismo: Leopoldo Pacheco e Carol Badra
Assistência de figurino: Bruna Recchia
Trilha sonora original: Renata Rosa
Criação de luz: Rodrigo Bella Dona
Produção executiva: Tati Nohr
Produção: Daiana Arruda - DAIA Produção e Comunicação
Idealização e produção geral: Cia Vúrdon de teatro itinerante.
Realização: Centro Cultural Banco do Brasil, Governo do Estado de São Paulo por meio do ProAC - Programa de Ação Cultural da Secretaria de Cultura e Economia Criativa
SERVIÇO:
Espetáculo: Uma Mulher Vestida de Sol
Local: Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo
Estreia: 25 de janeiro, quarta-feira, 18h30
Temporada: 25 de janeiro a 12 de fevereiro de 2023
Horários: Quarta a sexta, 18h30 | Sábados e domingos, 17h
Ingressos: 15,00 (valor único) - Na bilheteria do CCBB e no site bb.com.br/cultura
Capacidade: 120 lugares
Classificação: 14 anos | Duração: 1h40 | Gênero: Drama
Endereço: Rua Álvares Penteado, 112 – Centro Histórico, São Paulo – SP
Funcionamento CCBB SP: Aberto todos os dias, das 9h às 20h, exceto às terças
Informações: (11) 4297-0600
Entrada acessível: Pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida e outras pessoas que necessitem da rampa de acesso podem utilizar a porta lateral localizada à esquerda da entrada principal.
Estacionamento conveniado: O CCBB possui estacionamento conveniado na Rua da Consolação, 228 (R$ 14 pelo período de 6 horas - necessário validar o ticket na bilheteria do CCBB). O traslado de van é gratuito para o trajeto de ida e volta ao estacionamento. As vans funcionam entre 12h e 21h.
Van Gratuita: O CCBB oferece serviço de van gratuito. Ponto de partida e retorno, Rua da Consolação, 228. No trajeto de volta também há uma parada no Metrô República. As vans saem conforme demanda, das 12h às 21h.
Transporte público: O Centro Cultural Banco do Brasil fica a 5 minutos da estação São Bento do Metrô. Pesquise linhas de ônibus com embarque e desembarque nas Ruas Líbero Badaró e Boa Vista.
Táxi ou Aplicativo: Desembarque na Praça do Patriarca e siga a pé pela Rua da Quitanda até o CCBB (200 m).