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Por que não conseguimos fazer cócegas em nós mesmos? Cientistas desvendaram o mistério

18 de Outubro de 2022

Estudo feito por instituto alemão mostrou que estímulos dados pelo próprio corpo são suprimidos por área do cérebro

 Você não consegue fazer cócegas em si próprio, nem apelando para a sola dos pés ou outras regiões mais sensíveis. O fato bem conhecido era um mistério intrigante para neurocientistas, mas estudiosos de um centro de pesquisa alemão afirmam ter chegado a uma resposta.

Estudo tentou compreender como o corpo reage quando recebe cócegas | Foto: David Shankbone (Sob Licença Creative Commons)

O estudo, publicado no periódico Philosophical Transactions of the Royal Society B, utilizou uma combinação de expressões faciais, respostas subjetivas e vocalizações para chegar a uma resposta.

Em um laboratório, os 12 participantes deveriam fazer cócegas em um parceiro num primeiro momento e depois em si próprios. Câmeras de alta precisão e microfones foram instalados para capturar qualquer alteração facial ou risadas nesses dois momentos distintos.

 Como esperado, as cócegas em si próprio geram resultados praticamente nulos em termos de risadas, mas vocalizações e expressões de humor intensos quando feitas por outra pessoa.

Nessa etapa preliminar, a pesquisa descobriu que as risadas causadas por cócegas demoram um pouco para ser ouvidas, em comparação com as risadas ao ouvir uma piada, por exemplo: em média 500 milissegundos, contra 320 milissegundos de expressões vocais normais.

Áreas distintas

De acordo com a neurociência, cócegas geram respostas em duas áreas distintas do cérebro. Uma delas no córtex cingulado anterior, que recepciona estímulos de prazer e emite respostas a eles; e a outra no córtex somatossensorial, que regula as respostas dos toques em si. A união dessas duas áreas cria a reação típica às cócegas feitas no corpo.

Isso era tudo. Até o momento, não se sabia por que algumas partes eram mais sensíveis às cócegas que outras, e o motivo de algumas pessoas rirem mais quando recebem cócegas.

"Essas perguntas são muito antigas, e depois de quase 2.000 anos, ainda não temos a resposta", afirmou Michael Brecht, neurocientista da Universidade Humboldt, em Berlim, e líder do estudo, em entrevista à revista Wired.

Além disso, segundo ele, há um provável preconceito com o riso e a brincadeira entre cientistas, mais focados em estudar comportamentos como o medo e a depressão.

Em uma segunda fase, o estudo juntou dados sobre esse ato, ao pedir para os participantes do estudo fazerem cócegas em si próprios enquanto os parceiros faziam em uma região próxima do corpo. Nessa situação, as risadas foram classificadas como 25% menores, e demoraram em média 700 milissegundos para ocorrerem.

Qual o motivo para essa diferença nos resultados?

Apesar de ser um estudo científico aprofundado, é difícil ter certeza do que ocorre exatamente no sistema nervoso de cada um. Mas cientistas concluíram que o cérebro possui um sistema de supressão de estímulos próprios, localizado no cerebelo.

Essa parte do cérebro filtra sensações do tipo para evitar que o corpo precise lidar com estímulos que poderiam ser chamados de "desnecessários".

Além disso, o estudo concluiu que os efeitos das cócega em si próprio dependem também de humor e contexto ambiental — em um momento de medo e raiva, elas nem são sentidas.

A equipe alemã agora pretende continuar a investigação neurológica das cócegas, provavelmente com mais de 12 participantes, para captar dados mais amplos.

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