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Canto das Ditas -Ellen, Lua, Thábata e Luara |
Foto de Areta Padma |
O espetáculo Canto das Ditas - Fragmentos Afrografados de Cidade Tiradentes, montagem do núcleo Filhas da Dita, tem apresentações gratuitas em teatro da zona no Teatro Alfredo Mesquita nos dias 13, 14 e 15 de maio (sexta e sábado, às 21h, e domingo, às 19h), na zona leste paulista.
Com direção e dramaturgia de Antonia Mattos, a montagem entrelaça a força ancestral de orixás femininas com a força de mulheres negras na construção do bairro Cidade Tiradentes. Essas apresentações integram o projeto Insistência Periférica: Uma Possibilidade Teatral de Reparação História, contemplado pela 35ª edição do Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo.
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Para refletir sobre como a África se manifesta no dia a dia das moradoras de Cidade Tiradentes, as Filhas da Dita encararam o desafio de ‘afrografar’ o bairro - referência ao termo ‘afrografias’ da poetisa e ensaista Dra. Leda Maria Martins, que coloca em evidência e consciência a nossa herança africana. O trabalho do grupo mapeou esse legado ancestral por vários ângulos: ao próprio redor, junto a parentes, pessoas próximas e até mulheres desconhecidas que caminham pelo bairro.
Canto das Ditas coloca em cena histórias de mulheres pretas de Cidade Tiradentes que se entrecruzam com histórias de Yabás (orixás femininas). A montagem busca o reflexo das histórias do cotidiano em um espelho ‘mítico’ das personagens sagradas. A diretora explica que “a narrativa espiralada procura se relacionar com um tempo mítico, da memória e da ancestralidade. As personagens reais correspondem a arquetípica das personagens míticas. Recorremos ao ‘espírito ancestral feminino’, às ‘grandes mães da humanidade’, às yabás para contar as histórias dessas mulheres, as Ditas, que fundaram Cidade Tiradentes”.
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As atrizes que interpretam as quatro mulheres - Bendita/Nanã, Marta/Iemanjá Maria/Iansã, e Joana Nega Su/Obá - são Ellen Rio Branco, Lua Lucas, Luara Iracema e Thábata Wbalojá, respectivamente. Segundo Antonia, “a poética cênica é atravessada por elementos e saberes ancestrais, dentro de um tempo/espaço que aponta para as reminiscências de um passado sagrado, buscando fortalecer o presente e deslumbrar o futuro”. A origem da humanidade na África e a fundação de Cidade Tiradentes são contadas simultaneamente: o passado sagrado se revela no presente e no passado recente.
A origem do bairro passa pela força dessas mulheres negras que alí chegaram, se instalaram e fizeram a história local. E são delas as histórias encenadas em Canto das Ditas - Fragmentos Afrografados de Cidade Tiradentes, onde a música tem papel fundamental, trazendo a voz e o canto dessas mulheres em um cenário que se estabelece entre o ritual e o urbano contemporâneo. “Tempos e lugares diferentes mostram que, apesar da repressão sofrida, as mulheres sempre se reuniram em grupos para buscar alternativas, desafiar o sistema patriarcal e mudar sua condição, seja na sociedade secreta africana de Eleko, seja na Casa Anastácia (Centro de Defesa e Convivência da Mulher) em Cidade Tiradentes”, reflete Antonia Mattos.
FICHA TÉCNICA - Direção e dramaturgia: Antonia Mattos. Elenco: Ellen Rio Branco, Lua Lucas, Thábata Wbalojá, Luara Iracema e Cláudio Pavão. Direção musical: Jonathan Silva. Concepção de luz: Antonia Mattos e Fernando Alves. Cenário e figurino: Eliseu Weide. Contrarregra: Gley Santos. Fotógrafa: Sheila Signário. Assessoria de Imprensa: Verbena Comunicação. Produção executiva: Dandara Kuntê. Assistência de produção: Ariel Muniz. Idealização: Filhas da Dita. Estreou: 12/07/2019. Realização: Secretaria Municipal de Cultura, por meio do Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo.
O grupo - Filhas da Dita nasceu em Cidade Tiradentes, em 2007, e vem mantendo contínuo processo de criação artística. Em seu repertório estão os espetáculos: Os Tronconenses (2007), A Guerra (2013), Sonho de Tatiane - Uma Poética Sobre Juventudes (2017) e Canto das Ditas - Fragmentos Afrografados de Cidade Tiradentes (2019). Em 2015, brotou a faísca de um desejo: a construção do fazer artístico novo, mas que mantivesse a memória progenitora. “Afinal, se somos Filhas, nossas mães têm cara, voz e corpo nos nossos processos. Dessa constatação desembocam estudos aprofundados sobre a feminilidade e suas subjetividades com recorte de raça/etnia”, relatam as integrantes do grupo. Em sua montagem mais recente, Fragmentos Afrografados de Cidade Tiradentes, buscam visibilizar narrativas que sempre foram e ainda são negligenciadas. Em 14 anos de trabalho é evidente o aprofundamento de uma prática artística com e no território, além da articulação em rede com outras coletividades periféricas.
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Espetáculo: Canto das Ditas - Fragmentos Afrografados de Cidade Tiradentes
Com: Filhas da Dita
13, 14 e 15 de maio
Sexta e sábado, às 21h | Domingo, às 19h
Teatro Alfredo Mesquita
Av. Santos Dumont, 1770 - Santana. SP/SP. Tel: (11) 2221-3657.
Ingressos: Grátis. Gênero: Drama. Duração: 70 min. Classificação: 14 anos.