Cultura - Teatro

Domingos Montagner: O espetáculo não para

25 de Abril de 2022
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Atendente de bar, assistente de almoxarifado, jogador de handebol, professor de educação física, cenógrafo, trapezista... Domingos Montagner trilhou um caminho improvável até chegar à televisão aos 46 anos. Mas entre as muitas atividades que exerceu, nada lhe dava mais orgulho do que ser palhaço e ter o circo como seu palco principal. Escrita pelo jornalista Oswaldo Carvalho, a biografia Domingos Montagner – O espetáculo não para (Editora Máquina de Livros) narra a trajetória de Domingos desde a infância no Tatuapé, em São Paulo, até se consagrar como um dos maiores atores brasileiros deste século. O livro teve patrocínio da Harsco Environmental e da Secretaria de Cultura e de Economia Criativa do Estado do Rio de Janeiro e projeto da Sábios.

A história de Domingos se confunde com o renascimento do circo no Brasil entre o fim dos anos 1980 e os 1990. Oswaldo traz o leitor para o dia a dia de Mingo – como era chamado na infância – e sua inquietação até descobrir o mundo artístico. As primeiras experiências no teatro amador, o talento para criar e manipular bonecos, as aulas na Circo Escola Picadeiro, as dificuldades enfrentadas como artista de rua e as viagens pelo mundo em festivais, tudo é contado em detalhes, recheado de diálogos, situações inusitadas e episódios nunca revelados.

Oswaldo também reconstrói histórias do cinema e da TV, quando Domingos se tornou pivô de disputas ferrenhas entre diretores, ao mesmo tempo em que encantava colegas pela humildade e generosidade num meio habituado a estrelismos. Sua morte no Rio São Francisco, nos últimos dias de gravações de “Velho Chico”, em que interpretava o protagonista da trama, chocou e comoveu o país.

O espetáculo não para foi escrito a partir de vasta pesquisa documental e de entrevistas com mais de 80 parentes, amigos, artistas, diretores e profissionais que participaram de todas as fases da carreira de Domingos. Desde o inseparável parceiro Fernando Sampaio e o saudoso Luiz Gustavo (que fez um texto especialmente para Domingos, reproduzido no livro) até estrelas com quem contracenou, como Antônio Fagundes, Lilia Cabral, Ingrid Guimarães, Cauã Raymond, Maria Fernanda Candido, Gabriel Leone, Camila Pitanga e muitos outros. O texto da orelha é da atriz Denise Fraga, amiga que conviveu de perto com Domingos.

– A trajetória do Domingos parece uma sinopse de filme: um palhaço trapezista que vira galã de novelas prestes a completar 50 anos. Durante as pesquisas e as entrevistas, ficou claro que ele foi um dos protagonistas da virada na história do circo. Graças a artistas como Domingos, voltamos a assistir espetáculos circenses inovadores – conta Oswaldo, que levou três anos trabalhando no livro.

O espetáculo não para traz mais de 150 fotos, muitas delas inéditas, do acervo pessoal do ator, cedidas pela esposa Luciana Lima e pelo irmão Francisco Montagner. O leitor ainda tem a chance de conhecer o talento de Domingos como desenhista (outra das atividades que exerceu), a partir de ilustrações que fez ao longo da vida. O resultado é uma biografia repleta de imagens, narrada como se fosse um romance, com reviravoltas, surpresas e passagens emocionantes.

Domingos Montagner – O espetáculo não para chega às principais livrarias e sites do Brasil no formato impresso e também em e-book, disponível em mais de 20 plataformas digitais.

ALGUMAS CURIOSIDADES DO LIVRO:

Designer

Domingos foi responsável pelo material gráfico dos dois primeiros espetáculos que participou, ainda de forma amadora: “Adolescentes”, em que dirigiu seus alunos de educação física na Escola Pacaembu, em 1987; e “Maroquinhas Fru-Fru”, encenado pela diretora Myrian Muniz em 1989 e que marcou sua estreia nos palcos.

Aulas na França

Entre 1995 e 1996, Domingos estudou em uma das mais importantes escolas de circo do mundo, fundada há quase cinco décadas: a Académie Fratellini, em Saint-Denis, cidade vizinha de Paris, na França.

Mestres palhaços

Domingos aprendeu a arte da palhaçaria em 1989 com Roger Avanzi, o lendário Picolino II, e teve duas temporadas de treinamento com Leris Colombaioni, descendente de famílias de saltimbancos medievais, os Delacqua e os Travaglia. O pai de Leris, Nani Colombaioni, referência do teatro cômico mundial, prestou consultoria técnica para o filme “I clowns”, do diretor italiano Federico Fellini.

Estreia na TV

Antes de chegar às novelas da Globo, numa participação no seriado “Força-tarefa” em 2010, Domingos já tinha feito dois trabalhos para a TV: o seriado “Mothern”, da GNT, em 2007, e o telefilme “Paredes nuas”, de Ugo Giorgetti, da TV Cultura, em 2008.

Surpresa no camarim

Quando convidou Domingos para fazer o teste que o levou para a Globo, Zeca Bittencourt, pesquisador de elenco da emissora, procurava atores cômicos e foi assisti-lo em um espetáculo de palhaçaria. Ao vê-lo tirar a maquiagem no camarim, Zeca ficou espantado com aquele novo galã: “Você no palco parecia uma criança grande e agora estou vendo o nosso Russell Crowe”.

Peça de museu

Os collants das primeiras apresentações da La Mínima, em que Domingos e Fernando Sampaio faziam duas bailarinas atrapalhadas, estão guardados como relíquias no Centro de Memória do Circo, no Largo do Paissandu, em São Paulo.

Luzes, câmera, ação!

As gravações de “Cordel encantado”, primeira novela de Domingos, eram dignas dos filmes de ação de Hollywood. A mula que o ator montava o derrubou longe e ele só não se machucou porque aprendera a cair em pé no circo. Mais tarde, teve ferimentos leves com seu figurino, um pesado gibão de couro cravejado de adornos em metal, numa cena de luta entre o Capitão Herculano e Jesuíno, vivido por Cauã Raymond.

Professor de trapézio

Foi o próprio Domingos que treinou Ingrid Guimarães para as cenas de trapézio no filme “Um namorado para minha mulher”, de 2016. A atriz morre de medo de altura, mas se acalmou com as aulas que recebeu.

Shazan e Xerife

Domingos estava cansado de ser chamado apenas para papéis de galã na TV. No início de 2016, meses antes de morrer, ele tinha acertado com o diretor Maurício Farias o seu primeiro papel cômico na Globo, no remake de “Shazan, Xerife & Cia”, infantil estrelado por Paulo José e Flávio Migliaccio em 1972.

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