Cultura - Educação

Aumento de casos de violência entre jovens evidencia importância de debater ações de saúde mental

13 de Abril de 2022

Se antes do confinamento imposto pela crise sanitária o debate sobre saúde mental nas escolas já era algo pouco discutido, hoje a necessidade de tornar esse assunto central é urgente. Recentemente, foram noticiados casos de violência e bullying entre estudantes, comportamento muitas vezes decorrentes de sentimentos de inadequação ou questões de saúde emocional, como ansiedade e depressão. Uma pesquisa Datafolha encomendada pela Fundação Lemann, Itaú Social e BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), em julho de 2021, apontou que 94% das crianças ou adolescentes tiveram alguma mudança de comportamento na pandemia. Dados da Secretaria de Educação de São Paulo apontam que os casos de agressões físicas nas unidades escolares aumentaram 48% nos dois primeiros meses do ano em relação ao mesmo período de 2019, último ano sem pandemia.

O levantamento “Boas práticas de saúde mental nas escolas: um olhar para oito países”, realizado pelo Vozes da Educação, com apoio da Fundação Lemann, analisa práticas nacionais e internacionais com foco no desenvolvimento de programas de saúde mental de alunos e educadores, sobretudo após a pandemia de Covid-19. A partir das iniciativas analisadas pelo levantamento, foram identificados dez fatores essenciais para que projetos e políticas de saúde mental em escolas sejam bem-sucedidos: ancoragem legal e orçamento específico; intersetorialidade; comunicação e combate ao estigma; equipe dedicada; formação dos envolvidos; material estruturado; integração com o currículo; intervenção precoce; processos claros de encaminhamento; e envolvimento da comunidade.

“O levantamento elucida alternativas para que redes públicas e particulares no Brasil possam colocar em prática iniciativas que promovam a saúde mental e o bem-estar de estudantes e educadores, sempre a partir de um olhar voltado para a realidade local. A escola é o primeiro lugar onde as crianças e os jovens vão ser observados. É onde poderemos olhar para essa agressividade e acolher, não brigar, sabendo que se trata de um sintoma de algo de ruim que está acontecendo com daquele aluno”, explica Carolina Campos, fundadora e diretora-executiva do Vozes da Educação.

Finlândia e Reino Unido merecem destaque no levantamento, contemplando nove dos dez critérios estabelecidos. Em seis países identificou-se a existência de parceria entre a escola e organizações externas, governamentais ou não -- na Finlândia e no Chile, inclusive, essa parceria é estabelecida em lei. Cabe ressaltar que, de todas as iniciativas mapeadas, apenas em três países (Brasil, Chile e Singapura) foram identificadas estratégias exclusivas para lidar com o pós-pandemia.

No Brasil, foram mapeadas iniciativas importantes de atendimento psicológico nas escolas em contexto de pandemia. Além disso, vale destacar o projeto da Secretaria Municipal de Educação de Londrina (PR), que atende a oito dos dez fatores de sucesso. No início de 2020, a rede lançou o Programa V.I.D.A (Valores, Inclusão, Desenvolvimento Humano e Afetividade) envolvendo alunos, professores e servidores da secretaria. Com base em três leis municipais, o programa foi proposto para estabelecer uma cultura de paz, trabalhar habilidades, atitudes, valores sociais de convivência e competências socioemocionais. O programa é voltado a todos os alunos da rede e já alcança mais de 38 mil estudantes.

“O aprendizado acontece quando crianças e professores se sentem seguros e saudáveis. Não podemos esperar resultados educacionais positivos sem olhar para os aspectos socioemocionais e psicológicos da comunidade escolar. Em 2022, que é um ano de retomada após muitos desafios, as redes de ensino vão precisar mais do que nunca ter estratégias efetivas de acolhimento, tanto para alunos quanto para educadores”, explica Camila Pereira, Diretora de Educação na Fundação Lemann.

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