Viver - Saúde

Pandemia fez mulheres atrasarem ou abandonarem ideia de ter mais filhos, diz estudo

1 de Dezembro de 2021

Estudo feito nos Estados Unidos e publicado no JAMA Network Open no começo de setembro relata que quase metade das mães de Nova York que tentavam engravidar novamente antes da pandemia do coronavírus desistiu ou adiou as tentativas

De certa forma, a pandemia influenciou os desejos de se construir uma família de diversas formas. No mundo todo, algumas mulheres decidiram adiar a gestação, com movimentos crescentes na estratégia de congelamento de óvulos. Nos Estados Unidos, um novo estudo mostra que quase metade das mães de Nova York que tentavam engravidar novamente antes do início da pandemia do coronavírus parou nos primeiros meses do surto. A pesquisa, publicada no JAMA Network Open no começo de setembro, foi feita com 1.179 mães na cidade de Nova York e também descobriu que um terço das mulheres que estavam pensando em engravidar antes da pandemia, mas ainda não haviam começado a tentar, disseram que não estavam mais considerando isto. "As descobertas mostram que o surto inicial de Covid-19 parece ter feito as mulheres pensarem duas vezes antes de expandir suas famílias e, em alguns casos, reduzir o número de filhos que pretendem ter. No Brasil, houve um aumento no congelamento de óvulos, que é uma estratégia segura para adiar e preservar a fertilidade. Mas nem todas as mulheres que adiaram fizeram isso e, no futuro, caso mudem de ideia, elas podem ter problemas para engravidar", explica Dr. Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana e diretor clínico da Clínica Mater Prime, em São Paulo. “Este é mais um exemplo das consequências potenciais de longa duração da pandemia, além dos efeitos mais óbvios: econômicos e para a saúde”.

Fonte: Pixabay

No Brasil, com a pandemia de Covid-19, o ano de 2020 foi o que registrou o menor número de nascimentos no país desde 1994, segundo dados do Sistema de Informações de Nascidos Vivos (Sinasc), do Ministério da Saúde. Foram 2.687.651 recém-nascidos no ano passado, ante 2.849.146 em 2019, queda de 5,66%. Nos Estados Unidos, onde o estudo foi feito, as primeiras evidências já identificaram um declínio na taxa de natalidade durante a pandemia do coronavírus. Dados recentes mostraram que o país viu cerca de 300.000 nascimentos a menos em 2020 do que os especialistas esperavam com base nas tendências anuais de fertilidade, com uma queda particular nos últimos dois meses do ano, o que corresponde a menos concepções no início do surto em março. No entanto, até agora, poucas investigações exploraram as causas básicas por trás das decisões individuais dos pais de adiar a gravidez.Segundo o Dr. Rodrigo Rosa, a gravidez torna-se mais arriscada e difícil de conseguir à medida que as mulheres envelhecem, de modo que os atrasos provocados pela pandemia podem aumentar os riscos para a saúde da mãe e do filho, bem como a necessidade de tratamentos de fertilidade. Todas as mulheres no estudo já tinham pelo menos um filho de 3 anos ou menos. O estudo relata que, como resultado, é possível que os desafios de cuidar de uma criança pequena durante o pico do surto da cidade de Nova York e subsequente bloqueio possam ter influenciado sua hesitação em ter outro bebê.

Para a investigação, os pesquisadores analisaram dados de um estudo em andamento sobre gravidez e saúde infantil. Na pesquisa, que coletou dados a partir de meados de abril de 2020, as mães foram solicitadas a relembrar seus planos de gravidez antes da pandemia, bem como se ainda estavam avançando com seus planos no momento da pesquisa. Entre as descobertas, o estudo revelou que menos da metade das mães que pararam de tentar engravidar tinham certeza de que retomariam a tentativa de engravidar assim que a pandemia acabasse, sugerindo que elas podem abandonar em vez de apenas atrasar seus planos de expandir suas famílias.

Além disso, diz o estudo, aqueles com níveis mais altos de estresse e maior insegurança financeira eram especialmente propensos a adiar ou encerrar seus planos de ter mais um filho. De acordo com os autores do estudo, esta descoberta destaca a importância da saúde financeira nas decisões dos pais sobre a gravidez e sugere que pode ser necessário apoio financeiro adicional para as famílias. "Esses resultados enfatizam o tributo que o coronavírus tem exercido não apenas sobre os pais individualmente, mas talvez sobre as taxas de fertilidade em geral", diz o médico.

Agora, os autores do estudo planejam repetir a pesquisa com o mesmo grupo de mães e explorar o impacto potencial da vacinação, uma opção não disponível no momento da pesquisa.

FONTE:

DR. RODRIGO ROSA: Ginecologista obstetra especialista em Reprodução Humana e sócio-fundador e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo. Membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH), o médico é graduado pela Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Especialista em reprodução humana, o médico é colaborador do livro “Atlas de Reprodução Humana” da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana.

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