Espetáculo tem texto de Christian Prigent, tradução de Marcelo Jacques de Moraes e colaboração artística de Marcio Abreu
Foto de Dalton Valério |
“O que se vê é todo o esforço e todo o gozo de uma performer que faz de seu corpo um instrumento musical enquanto brinca com os sons da língua e passeia livremente entre os blocos de madeira dispostos pelo cenário, que evocam os blocos de palavras dispostos de formas sempre imprevistas na página de um poema concreto” (Trecho da crítica de Patrick Pessoa para O Globo)
Com 40 anos de carreira, a atriz e diretora Ana Kfouri estreia no dia 6 de março no Sesc Belenzinho o bem-sucedido monólogo Uma Frase Para Minha Mãe, pelo qual foi indicada aos prêmios Shell, Cesgranrio e Botequim Cultura de melhor atriz.
O espetáculo estreou em 2018 no Sesc Copacabana, teve uma temporada no Teatro Sergio Porto (ambos no Rio de Janeiro) e, naquele mesmo ano, e foi apresentado no Festival de Curitiba em 2019. Recentemente, a intérprete também foi premiada na 8ª edição do Questão de Crítica por sua trajetória dedicada à criação cênica e à formação de artistas, assim como por Uma frase para minha mãe.
A dramaturgia, assinada pelo escritor, poeta e crítico literário francês Christian Prigent, tem toques proustianos ao refletir sobre o despertar para a literatura e o nascimento de um escritor. O texto mobiliza sensações afetivas e corporais ligadas à figura da mãe e à língua materna, envolve afeto, filosofia, pensamento, visão de mundo, política e pesquisa de linguagem. A direção é da própria Ana Kfouri, com colaboração artística de Marcio Abreu.
Ana conta que, quando conheceu a obra de Prigent, sentiu quase imediatamente uma espécie de chamamento para levar à cena Uma frase para minha mãe, texto potente e poético. Foi assim que, depois de enveredar pelos universos de Valère Novarina e de Samuel Beckett, a artista elegeu ‘Uma frase para minha mãe’ para dar continuidade à sua pesquisa cênica, que pensa a palavra e o corpo como campos de forças em tensão e em relação.
“Prigent é um autor que trabalha fora do campo da representação”, explica Ana Kfouri. “Não há uma condução psicológica do que está sendo dito, então o ator/performer precisa se desapegar de um desejo de entender as palavras, no sentido de colocá-las como algo a ser controlado, decifrado e transferido para o outro (público). E continua: “Através de uma fala potente, poética, respirada, lúdica, desconcertante e rítmica, o desafio do ator é pôr em jogo também a própria linguagem”.
O tradutor e adaptador Marcelo Jacques de Moraes fez um recorte do texto integral de Uma frase para minha mãe, um longo “lamento bufo”, como diz o próprio escritor, em que o eu-narrador relata sua descoberta do mundo e da linguagem a partir de sua relação com a mãe. Como define Moraes, “foi na tensão entre o literário e o político, entre a experimentação da linguagem e a experiência do cotidiano, da vida comum, que se inscreveu, desde as primeiras publicações até hoje, a extensa obra de Christian Prigent. Em busca de uma língua, contra a língua, mas com a língua, eis uma fórmula que talvez sintetize com precisão o que seja o trabalho poético de Christian Prigent”.
O poeta costuma fazer leituras públicas de seus textos, cuja vocalização explicita o que ele chama de “voz do escrito”, uma espécie de “escultura sonora”, que se dirige ao ouvinte-espectador. “É um texto muito estilizado, com muitas aliterações e rimas internas. Que tem momentos mais fluidos e mais travados, que acelera e desacelera, que alterna momentos mais claros com outros enigmáticos. Tudo isso foi levado em conta na hora da tradução e da escolha do ritmo adequado”, acrescenta Marcelo Jacques de Moraes.
Foi a partir de um convite do próprio tradutor que Ana Kfouri conheceu Christian Prigent, durante o Colóquio Internacional Poesia e Interfaces, concebido em homenagem ao escritor, e realizado no Colégio Brasileiro de Altos Estudos, UFRJ, em setembro de 2015. Agora, o desejo é realizar um encontro entre os artistas envolvidos e o público como desafio de experimentarem juntos a palavra potente e desconcertante do autor.
Christian Prigent foi o vencedor do Grande Prêmio de Poesia 2018 da Academia Francesa, concedido pelo conjunto de sua obra.
SINOPSE
A peça encena o despertar para a língua e para a literatura, mobilizando sensações afetivas e corporais ligadas à figura da mãe. É também um convite ao público para transitar pela experiência da palavra, antes de tudo, e, portanto, um convite à escuta. A peça sugere um exercício de abandono do espectador, que ele se deixe estar ali não para ver alguém atuar, mas para se deixar tocar, afetar, rememorar, atravessar-se por palavras, ritmos e sentidos.
FICHA TÉCNICA
Texto: Christian Prigent
Tradução: Marcelo Jacques de Moraes
Direção e Atuação: Ana Kfouri
Colaboração Artística: Marcio Abreu
Cenografia: André Sanches
Iluminação: Paulo César Medeiros
Fotografia: Dalton Valério e Humberto Araújo
Assistência de Direção: Tainah Longras
Assistência de Iluminação: Gean Alves
Cenógrafa Assistente: Débora Cancio
Produção Executiva: Viviane Rayes
Direção de Produção: Ana Paula Abreu e Renata Blasi
Produção: Diálogo da Arte Produções Culturais
Idealização: Ana Kfouri e Cia Teatral do Movimento
SERVIÇO
Uma frase para a minha mãe, de Christian Prigent
De 6 a 29 de março de 2020. Sexta e sábado, 21h30. Domingo, 18h30
Local: Sala de Espetáculos I (90 lugares)
Ingressos: R$ 30,00 (inteira); R$15,00 (aposentado, pessoa com mais de 60 anos, pessoa com deficiência, estudante e servidor da escola pública com comprovante) e R$9,00 (credencial plena do Sesc - trabalhador do comércio de bens, serviços e turismo credenciado no Sesc e dependentes. Ingressos disponíveis pelo portal Sesc SP (www.sescsp.org.br) a partir de 18/2, às 12h, e nas bilheterias das unidades de Sesc a partir de 19/02, às 17h30. Limite de 4 ingressos por pessoa. Recomendação etária: 12 anos Duração: 60 minutos
Sesc Belenzinho Endereço: Rua Padre Adelino, 1000. Belenzinho – São Paulo (SP) Telefone: (11) 2076-9700 www.sescsp.org.br/belenzinho
Estacionamento De terça a sábado, das 9h às 22h. Domingos e feriados, das 9h às 20h. Para espetáculos pagos, após as 17h: R$ 7,50 (Credencial Plena do Sesc - trabalhador no comércio de bens, serviços e turismo). R$ 15,00 (não credenciados). Transporte Público Metro Belém (550m) | Estação Tatuapé (1400m)