Toda semana, jornais estampam notícias sobre brasileiras que morrem ou ficam hospitalizadas, vítimas de cirurgias plásticas malsucedidas. As histórias se repetem: as pacientes confiaram em procedimentos inadequados e médicos desqualificados – nem sempre profissionais de verdade, com registro – e pagaram com suas vidas o sonho do corpo perfeito.
O Brasil é o segundo país onde mais se realizam cirurgias plásticas, perdendo apenas para os Estados Unidos. Mas a imposição do ideal de um corpo perfeito aliada às facilidades de realizar esses tipos de procedimento são também responsáveis pelas frequentes mortes de mulheres. Mas o que leva a arriscarem suas vidas em troca de seios, barriga chapada e glúteos?
No Brasil, a ditadura da beleza é um fenômeno que penaliza, mas que também banaliza, avalia o cirurgião plástico Fernando Bianco.
Dr. Fernando Bianco |
“Existe uma preocupação excessiva com o corpo, que está naturalizada no cotidiano e cresce cada vez mais”, observa.
A necessidade de exibir um corpo perfeito e jovem acabou também por banalizar as cirurgias plásticas. Na maioria das vezes, as operações são vendidas como descomplicadas e rápidas.
“Cirurgia não é você fazer no meio da semana e já poder ir pra uma festa no sábado. Infelizmente tem público que acredita nessas promessas. Existe todo um cuidado no pós-operatório, que pode durar semanas ou até meses. E é preciso seguir à risca, para que a cirurgia tenha o resultado esperado”, ressalta o cirurgião.
Nem procedimentos na vagina escapam e o número desse tipo de cirurgia aumentou. A Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (Isaps) aponta que 13 mil labioplastias foram realizadas em 2016 no Brasil, com um aumento de 39% em relação ao ano anterior. Segundo especialistas, a maioria desses procedimentos não é realizada por uma questão funcional, mas puramente estética.
“O Brasil é o país onde mais se realizam cirurgias estéticas íntimas, seja para estreitar o canal vaginal, diminuir os grandes lábios ou retirar gordura do púbis”, conta o médico.
Segundo ele, mesmo que o padrão de beleza no Brasil tenha evoluído no imaginário da sociedade, o bumbum ainda continua sendo preferência nacional. No entanto, ela lembra que as exigências do corpo perfeito mudam de acordo com as classes sociais.
“Geralmente, entre as classes média e alta, o padrão valorizado é o do corpo bem definido, mais magro. Já entre as classes populares, o estereótipo da ‘gostosona’, com coxas, bumbum e peitos grandes, é mais valorizado”, lembra.
De acordo com dados da Isaps, 86,2% das cirurgias plásticas no mundo são realizadas por mulheres. O aumento de seios continua sendo a cirurgia plástica mais realizada (15,8%) entre os 2,5 milhões de procedimentos por ano, seguidos da lipoaspiração (14%) e da cirurgia de pálpebra (12,9%).