Por Heródoto Barbeiro *
O Brasil nem foi notado no encontro internacional. Tudo girou em torno das potências mundiais. Os quatro grandes compareceram para dizer o que queriam e os demais fizeram papel de coadjuvantes. O presidente dos Estados Unidos era esperado com grande ansiedade, afinal era a primeira potência do mundo e ele era conhecido pelas declarações que fazia sobre os destinos da humanidade e que eram reproduzidos pela mídia mundial. Era, sem dúvida, uma liderança forte e por isso os trabalhos no encontro internacional deveriam ter forte dose de defesa dos interesses dos Estados Unidos. Sua chegada na sede da conferência foi amplamente noticiada e sua foto divulgada mundialmente. Não se sabia exatamente qual era a pauta do encontro, uns diziam que era a busca da paz, outros de acordos comerciais com outras potências, outros ainda um mero exibicionismo das nações mais fortes e ricas. A verdade é que os assessores não tiveram tempo suficiente para formular minutas de acordos para que os chefes de estado assinassem em cerimonias cheias de pomba e circunstância. O fato é que a reunião estava agendada e os líderes dos quatro grandes confirmados. O que iria sair dali ninguém se arriscava a prognosticar.
As negociações entre as potencias aliadas e rivais começaram no Ministério dos Negócios onde as nações estavam representadas pelos chefes de estado ou delegados. As reuniões eram extremamente complexas e as negociações conduzidas através de encontros periódicos. Alguns chefes de estado queriam terminar o mais rápido possível a conferência e voltar para casa onde outros problemas internos e externos os aquardavam. Era o caso da Itália com movimentos sociais e reicindicatórios violentos. Assim os encontros progrediram com os cinco grandes dando as cartas, Japão, Itália, França, Grã-Bretanha e Estados Unidos. A participação brasileira estava relagada a um segundo plano e tanto a Inglaterra como a França não concordavam com a participação do Brasil nas conferências preliminares e aceitavam apenas sua participação limitada na conferência plenária, já que a colaboração brasileira era considera muito pequena. O presidente do Brasil chefiou a delegação brasileira, mas procurou voltar o mais rápido possível. Ele também tinha que cuidar da república sacudida pela disputa entre as oligarquias regionais. A atmosfera política, para variar, era irrespirável.
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Era um período de transição presidencial no Brasil, quando tudo ficava às avessas. Epitácio Pessoa foi eleito presidente mesmo sem estar no Brasil, uma vez que era o chefe da delegação que redigiu o tratado de Versalhes, que pos fim a primeira guerra mundial. Pelo menos foi contabilizada uma vitória tupiniquim. Todos os navios alemães ancorados em portos brasileiros foram confiscados e depois de árdua polêmica na França, os navios foram considerados nacionais e incorporados na frota do Lloyd Brasileiro. Quase saímos de Versalhes apenas com um presidente eleito à distância. Pode parecer inusitado, uma político ser eleito para o cargo mais alto da república sem fazer campanha pessoal e enfrentando um adversário da altura política e moral de Rui Barbosa. Mas na república velha tudo era possível. Epitácio foi o sucessor do vice presidente da república Delfim Moreira, que assumiu o cargo com a morte de Rodrigues Alves. A conferência de Versalhes foi um desastre político e diplomático e uma das responsáveis pelas disputas que se seguiram e jogaram novamente o mundo em um conflito mundial. Para o Brasil, além dos navios, sobraram a novidade de uma eleição não ocorrer na data tradicional e com um eleito fora do território brasileiro.