Estreia dia 17 de novembro no Sesc Ipiranga
Ana Cecília Costa interpreta segundo texto do premiado autor espanhol que faz uma reflexão crítica sobre a condição humana e sua trajetória sobre o planeta, promovendo uma reflexão necessária e urgente sobre nossas escolhas como sociedade
Autor espanhol premiado e de grande prestígio no teatro contemporâneo, Juan Mayorga tem formação eclética e consistente (matemática, filosofia e teatro) e faz da sua dramaturgia uma arena política e filosófica, onde temas caros ao debate são postos em cena. Com o texto A Tartaruga de Darwin não é diferente. Mayorga utiliza-se do recurso da fábula animalizando a protagonista (como nas obras de Franz Kafka) para, através da centenária tartaruga, rastrear o caminho percorrido pela humanidade e fazer uma reflexão crítica sobre o que resultou desta trajetória.
Em tom de fábula contemporânea, a peça conta a história de um famoso historiador que recebe a visita de Henriqueta, uma enigmática senhora que se apresenta como a centenária tartaruga capturada pelo cientista inglês Charles Darwin nas Ilhas Galápagos e que serviu de pesquisa para a criação da “teoria da evolução das espécies”.
Prestes a completar duzentos anos, Henriqueta sobreviveu a uma série de marcos históricos como a Revolução Industrial, duas guerras mundiais, queda do muro de Berlim, entre outros. A tartaruga “evoluiu” e tornou-se uma velha senhora, cujo maior desejo agora é voltar para sua casa, as Ilhas Galápagos, e morrer em paz longe da civilização. Henriqueta vai ao encontro do Professor e propõe um acordo: ela lhe conta tudo que sabe sobre a História e, em troca, ele a ajuda no seu retorno a Galápagos. Sendo uma testemunha peculiar, já que conhece a História de baixo, do ponto de vista do chão, dos “renegados”, seu relato irá surpreender o Professor, porta voz da História oficial.
O interessante neste texto é que a História é revista sob o ponto de vista da tartaruga que, simbolicamente, representa os sujeitos excluídos que vivem na base da pirâmide social, à margem da narrativa oficial. “Não vamos fazer silêncio porque temos memória. O teatro é uma arte da memória. Recordamos todas as guerras desde os gregos. Todas as vítimas, cada uma delas. E todas elas estão hoje, novamente, em perigo”, afirma o autor.
Com clara influência do pensamento de Walter Benjamim, Mayorga mostra uma história tecida por relatos e pequenos gestos anônimos, onde o que importa é a memória íntima. A Tartaruga de Darwin debate de forma bem-humorada, criativa e inteligente a crise política, ética, ecológica em que a civilização ocidental está mergulhada (guerras, êxodos, fome, colapso ecológico). Ao final do texto, Henriqueta questiona: “De todos os animais, o homem é o mais idiota e nocivo. Por onde quer eu olhe, só vejo gente que se comporta como bestas e gente sendo tratada como bestas. Charles previu isso. Previu que o homem evoluiria até a monstruosidade. Vamos ver se com a mudança climática surgem mutações humanas decentes”.
Sobre A origem das espécies
A publicação de “A Origem das Espécies” por Darwin em 1859 produziu a maior revolução intelectual desde a proclamação do Cristianismo. A intervenção sobrenatural foi substituída pela seleção natural. A luta pela sobrevivência gera o aprimoramento e surgimento de novas espécies, essa é a razão da riqueza e diversidade do mundo biológico. As espécies não são fixas, elas mudam, evoluem e passam o novo código genético para as futuras gerações. Os indivíduos que melhor se adaptam ao meio, sobrevivem, reproduzem e transmitem sua característica genética às futuras gerações. A Natureza é a senhora da vida, destrona o ser humano do papel central que ele ocupava. As discussões que o livro desencadeou se disseminaram rapidamente entre o público, criando o primeiro debate científico internacional da história. Na história da Biologia é difícil imaginar um livro mais importante que “A Origem das Espécies”, que mudou fundamentalmente e permanentemente nossa visão da Natureza.
Sobre A Tartaruga
Harriet (1830 - 2006) foi uma famosa fêmea tartaruga de Galápagos, que atingiu a idade estimada de 176 anos no momento de sua morte. Curiosamente, durante mais de um século, acreditava-se que a tartaruga era um macho, sendo chamado Harry até que o tempo revelou o seu verdadeiro sexo.
Em princípio pensou-se que Harriet foi capturada por Charles Darwin em 1835 nas Ilhas Galápagos. No entanto, a história sobre Darwin é provavelmente apócrifa. Embora Darwin tenha pegado três tartarugas e levou-as de volta para o Reino Unido a bordo do HMS Beagle, testes genéticos indicam que Harriet pertencia a uma subespécie endémica das Ilhas Galápagos que não foi visitada por Darwin.
Harriet viveu por 99 anos no Jardim Botânico da cidade de Brisbane, em Queensland (Austrália), e mais tarde foi transferido para a Austrália Zoo, de propriedade Crocodile Hunter Steve Irwin, onde viveu até seus últimos dias. Em 15 de novembro de 2005, seu aniversário de 175 anos foi realizado no Zoo da Austrália, com uma celebração muito anunciada. Finalmente, Harriet morreu em 25 de junho de 2006, devido à insuficiência cardíaca após uma breve doença.
“Viver é adaptar-se”.
Ficha Técnica:
Texto Juan Mayorga
Direção Mika Lins
Elenco Ana Cecília Costa, Marcos Suchara, Tuna Dwek e Diego Machado
Assistente de Direção Daniel Mazzarolo
Direção de Produção Dani Angelotti
Assistente de Produção Cida Serafim
Cenário e Figurino Cássio Brasil
Luz Wagner Antonio
Trilha Sonora Daniel Maia
Assessoria de imprensa Morente Forte
Produtoras associadas Dani Angelotti e Ana Cecília Costa
Realização Cubo Produções