Totalmente repaginado, com 147 apartamentos e área de lazer na cobertura panorâmica, o hotel retorna a seu antigo endereço – Rua Augusta, 129, Centro –, por meio de parceria entre a família Guzzoni e a incorporadora Brookfield
Ícone da gastronomia paulistana, o restaurante Ca’d’Oro também está de volta com sua cozinha do norte da Itália e pratos que fizeram a história do local
Um ícone da hotelaria e da gastronomia paulistana está de volta. O Ca’d’Oro acaba de reabrir ao público no mesmo endereço, mas completamente remodelado. Instalado na Rua Augusta, 129, região central da cidade, o novo hotel é uma parceria da Brookfield Incorporações e da Família Guzzoni, que há mais de 60 anos inaugurou o Ca´d´Oro.
Sua história teve início com o italiano Fabrizio Guzzoni (1920-2005), que deixou a cidade de Bérgamo e o comando do Grand Hotel Moderno, fundado por seu pai, Aurelio, em 1922, para construir no Brasil o seu próprio hotel de luxo. Mas antes do hotel, veio o restaurante, que fundado em julho de 1953 em uma das mais imponentes ruas de São Paulo na época, a Barão de Itapetininga. O nome foi sugerido pela sogra de Guzzoni, que havia visitado em Veneza o palácio Ca’d’Oro (“Casa de Ouro” em dialeto local), uma construção do início do século XV, que hoje funciona como um museu.
O restaurante introduziu no país uma cozinha até então pouco difundida por aqui, a do norte da Itália. Seu cardápio apresentou a clientes paulistanos iguarias como a bresaola e o presunto de Parma, e receitas originais italianas, como os risottos e o tradicional carpaccio. Outro mérito da casa foi ter transformado a caipirinha, até então uma bebida de “botequim”, em um drinque de respeito e sucesso nacional e internacional.
O hotel Ca’d’Oro abriu três anos depois, em setembro de 1956, na Rua Basílio da Gama, também na região central da cidade. O prédio, construído incialmente para fins residenciais, foi alterado na fase final do projeto para dar lugar a 50 apartamentos e o restaurante, que foi transferido da Barão de Itapetininga para o novo endereço. Embora não fosse luxuoso, o espaço oferecia boa localização, conforto, serviço ao estilo europeu, preços razoáveis e uma gastronomia prestigiada, se tornando popular entre artistas, intelectuais e empresários.
Em janeiro de 1965, o hotel foi transferido para a Rua Avanhandava. Aos poucos, Fabrizio Guzzoni foi comprando lotes vizinhos, com frente para a Rua Augusta, e ampliando as instalações. O Grand Hotel Ca’d’Oro chegou a ter400 apartamentos e recebeu reis e rainhas da Suécia e Espanha, Nelson Mandela, Pablo Neruda, Luciano Pavarotti, Jorge Amado, Mário Quintana, Emiliano Di Cavalcanti, Vinicius de Moraes, Eder Jofre, entre outros hóspedes famosos. O hotel foi fechado em 2009, dando início ao processo de revitalização.
NOVO HOTEL CA’D’ORO
O novo Hotel Ca´d´Oro integra um complexo de conceito mixed use incorporado pela Brookfield, com projeto arquitetônico de José Lucena, arquitetura de interiores e conceito de Patricia Anastassiadis e paisagismo deBenedito Abbud. A torre de 27 andares traz além das dependências do hotel, 387 salas comerciais, com entradas independentes. No térreo, ficam a recepção, bar e restaurante do hotel, no 1º piso, seis salas de evento, e nacobertura de vista panorâmica, a piscina, sauna e fitness center.
Os 147 apartamentos de 26 a 56 metros quadrados estão distribuídos entre o 19º e o 26º andar. São três tipos de unidades, superior, suíte júnior e suíte executiva, com diárias a partir da R$ 430 (não inclui café da manhã). Todos os apartamentos têm varanda e são equipados com ar condicionado, cama queen, minibar, máquina de café Nespresso, dock para iPod/ iPhone e wifi gratuito. A suíte júnior dispõe de sala e banheiro com dois lavatórios. Na executiva, além de ampla sala, há escritório privativo.
A arquitetura moderna do edifício destaca formas arredondadas e o volume recuado dos últimos andares. A concepção do hotel remodelado no topo da torre apresenta um simbolismo: a cidade pode contemplar o ícone e os hóspedes, por sua vez, são presenteados com uma ampla vista da região central de São Paulo, conseguindo observar a Avenida Paulista, Praça Roosevelt, Igreja da Consolação, o Edifício Altino Arantes (“Prédio do Banespa”) e outros marcos da capital.
À frente do novo hotel está Fabrizio Guzzoni. Quarta geração da família no ramo da hotelaria e neto do fundador do Ca´d´Oro, ele se dedica ao negócio da família desde 2000, tendo trabalhado dois anos com Giancarlo Bolla no La Tambouille, durante o período de reconstrução do local.
GASTRONOMIA CLÁSSICA ITALIANA
Com 90 lugares, o restaurante se divide em dois ambientes, o salão de paredes espelhadas e a varanda envidraçada, de frente para a Rua Augusta. O mobiliário é clássico e destaca a madeira, presente tanto no piso do salão quanto nas mesas, que são acompanhadas de sofás e poltronas em tons de verde e cru.
O piano francês Erard, de 1870 – único do Brasil em perfeito funcionamento –, em madeira marfim e “marchetaria”, retorna ao restaurante, assim como outras obras de arte que decoravam o antigo Ca´d´Oro. Entre elas, a “Estátua equestre de Bartolomeo Colleoni”, réplica em bronze da original de Andrea Verrochio, existente em Veneza, e a tela “Bacco”, de Giulio Carpioni (1611-1674), pintor veneziano, considerado um dos mestres do Setecentismo.
No cardápio estão pratos que fizeram a história da casa. Ele foi desenvolvido por Fabrizio Guzzoni e Ednaldo Barreto Reis, que entrou para a equipe em 1994 como aprendiz, chegado à chefia da cozinha. Voltaram receitas como Casoncelli alla bergamasca, massa com recheio de vitelo e codeguim e toque de amaretto, Quaglie alla bergamasca con polenta, codornas recheadas com pancetta e ervas, e Fettuccine al triplo burro, cozido em consommé e servido com creme de leite, parmesão e dose tripla de manteiga.
Outros dois pratos tradicionais do Ca’d’Oro não ficaram de fora, como o Anitra alla “Colleoni”, peito de pato em crosta de ervas, com aspargos, purê de batata e três figos empanados. É uma homenagem ao mestre das armas e da guerra Bartolomeo Colleoni, cuja virilidade era atribuída a uma triorquidia de nascença. Ele se orgulhava de seus três testículos, daí os três figos que compõe o prato. A outra receita é o Gran bollito misto alla Piemontese, um cozido de carnes e legumes variados, que chega ao salão em um carrinho réchaud especial. Carnes como músculo, língua e zampone, cozidas separadamente em um consommé, são acompanhadas por batata, cenoura e repolho, entre outras opções, que incluem três tipos de molho feitos na casa, como a Mostarda de Cremona.
Entre as sobremesas, o clássico Tiramisù, com mascarpone, amaretto, café e chocolate (R$ 28) e as Cassate Speciali, cassatas de sorvetes da casa – crocante, menta com chocolate e Ca’d’Oro com frutas cristalizadas.
No classudo bar do Ca’d’Oro, instalado entre o lobby e o restaurante, uma imponente adega de vinhos climatizada tem espaço para mil garrafas – a carta tem 130 rótulos, com destaque para produtores italianos e do Velho Mundo. Nas noites de terça a sábado e no almoço de domingo, música ao vivo, com um pianista tocando no raro Erard.