Colunistas - Rodolfo Bonventti

Jorge Andrade provoca polêmica com novela sobre as neuroses de uma cidade

10 de Fevereiro de 2016

Quando a TV Globo contratou o autor e dramaturgo Jorge Andrade para escrever a novela substituta de “Gabriela”, um grande sucesso no horário das 22 horas, o autor sabia que tinha pela frente um grande desafio. E resolveu cutucar a sociedade ao escrever uma história que explorava as neuroses de uma grande metrópole, no caso a cidade de São Paulo.

Foi assim que a novela “O Grito” estreou em 27 de outubro de 1975, dirigida por Wálter Avancini e Gonzaga Blota e, durante 125 capítulos provocou muita polêmica, principalmente entre os paulistas, que entendiam que a novela era uma crítica muito contundente à cidade e aos seus habitantes.

O enredo falava de um edifício construído por uma família aristocrática e que se desvalorizava a cada dia após a construção e inauguração do Minhocão, que passava pelas janelas dos apartamentos. No predio moravam pessoas da classe média paulistana ao lado de herdeiros da família que construiu o prédio.

Mas a vida no prédio muda muito não só por causa do Minhocão, mas também em função de uma nova moradora e do seu filho: a ex-freira Marta e Paulinho, uma criança que é doente e grita muito todas as noites. A partir daí, todos os outros moradores entram em um grande debate e conflito: se devem ou não expulsar a mãe e o filho do prédio.

Alheio à indignação de parte dos telespectadores, Jorge Andrade construiu uma novela que além de tratar de um assunto polêmico, olhava para a cidade de São Paulo como um local frio e fechado, e sempre negou que com sua história pretendesse prejudicar a imagem da capital paulista.

O Grito”, no entanto, não conseguiu repetir o sucesso de “Gabriela”, baixando alguns pontos importantes no Ibope, que a novela baseada na heroína de Jorge Amado conquistara para a TV Globo.

A novela tinha um elenco brilhante, formado por nomes importantes do nosso cinema e teatro, encabeçados por Glória Menezes em uma excelente caracterização com a ex-freira Marta, e também marcou o primeiro trabalho de Lídia Brondi, ainda adolescente, na TV Globo.

Outros destaques do elenco foram Leonardo Villar e Maria Fernanda, representando os descendentes de uma falida família aristocrata paulistana; Walmor Chagas e Isabel Ribeiro como um casal moderno, ele um antropólogo e ela uma pintora que não aceitam o preconceito com a nova moradora e o filho; Rubens de Falco como um bancário que tenta esconder sua homossexualidade e Tereza Rachel como uma atriz decadente e solitária.

No grande elenco ainda estavam Ney Latorraca, Yoná Magalhães, Marcos Paulo, Elizabeth Savalla, Ida Gomes, Yara Cortes, Castro Gonzaga, Guto Franco, Edson França, Suely Franco, Roberto Pirillo, Françoise Forton, Regina Vianna, Sebastião Vasconcelos, João Paulo Adour, Heloisa Raso, Ruth de Souza, Francisco Dantas, Jacyra Silva, Otávio Augusto, Flávio Migliaccio, Eloisa Mafalda, Chica Xavier, Paulo Gonçalves, Antonio Ganzarolli, Carmen Monegal, Cosme dos Santos, Tony Ferreira, Lourdes Mayer, Tonico Pereira, Midori Tange, Carmen Alvarez, Ricardo Garcia, Maria das Graças e o menino Marcos Andreas. 

Foto 1 -  A abertura da novela global das 10 da noite que causou polêmicas

Foto 2 -  O autor Jorge Andrade com parte do elenco: Yara Cortes, Françoise e Rubens de Falco

Foto 3 -  Gloria Menezes vivia a ex-freira Marta que tinha o filho doente

Foto 4 - Rubens de Falco interpretava o atormentado bancário Agenor


Foto 5 - Maria Fernanda e Leonardo Villar eram um casal aristocrático paulistano

Foto 6 - Walmor Chagas vivia um antropólogo que não aceitava o preconceito no prédio


Foto 7 - Guto Franco e Lídia Brondi em sua primeira novela na TV Globo

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