Cultura - Teatro

Instituto Cultural Capobianco apresenta Cia Teatral Damasco no projeto de repertório Terceira Marg

9 de Janeiro de 2016

Em tempos de guerra, Salamaleque reestreia

com adaptação e fecha Terceira Margem III

Por conta da guerra na Síria, foram feitas sutis adaptações no texto. Encenação – que revela histórias do Oriente a partir da memória de casal de imigrantes sírios –

provoca a reflexão sobre acolhimento e tolerância com refugiados.

Teatro recebe doações a serem destinadas a institutos de ajuda humanitária.

 

Ao revelar aspectos significativos da cultura árabe a partir da troca de correspondências entre um casal de imigrantes sírios, a peça SALAMALEQUE, da Cia Teatral Damasco – que volta em cartaz no Instituto Cultural Capobianco a partir de 23 de janeiro de 2016, com entrada gratuita – configura-se um programa obrigatório nesses tempos de guerra na Síria.

 

O projeto Terceira Margem III, idealizado pela diretora artística Fernanda Capobianco, apresentou em 2015 três espetáculos teatrais (Na Selva das Cidades - em Obras Ocupação #2, Gotas D’água Sobre Pedras Escaldantes e O Meu Lado Homem, Um Cabaré d'Escárnio), além de tertúlias musicais e poéticas, reunindo artistas comandados por Carlos Careqa e Pascoal da Conceição.

 

Com duração de 60 minutos e capacidade para 35 pessoas, os ingressos são distribuídos uma hora antes da apresentação. O teatro receberá doações a serem encaminhadas aos seguintes institutos que ajudam refugiados: ADUS - Instituto de Reintegração do Refugiado no Brasil (recebe itens de material escolar para aulas de português – caneta, lápis, caderno, livros infantis), Oasis Solidário (fraldas, trigo para quibe, farinha de trigo, lentilha, grão-de-bico) e Centro de Acolhida ao Imigrante (todos os tipos de doações exceto alimentos perecíveis).

 

Com texto de Alejandra Sampaio (do Núcleo de Leitura do Capobianco) e Kiko Marques (Prêmios Shell, APCA, Aplauso Brasil e Qualidade Brasil pela encenação de 2013); direção de Denise Weinberg e Kiko Marques e direção de produção de Fernanda Capobianco (gestora do Instituto Cultural), Salamaleque  é fruto de cinco anos de pesquisa. Resgata as cartas de amor trocadas entre dois imigrantes, os avós da atriz Valéria Arbex – Nicolau Antônio Arbex e Nadime Neif Name – durante o período do noivado, na década de 1930 (que tiveram suas vidas cruzadas após a chegada ao Brasil).

 

A contemporaneidade do espetáculo fica mais evidente ainda depois dos atentados terroristas ocorridos em Paris em 13 de novembro deste ano, quando aumentou no mundo inteiro a intolerância contra os refugiados árabes. "A história se repete, é cíclica. Desde a primavera árabe, o Oriente Médio vive um momento delicado e preocupante com as guerras civis, sobretudo a Síria. Muito se fala, ainda equivocadamente, e pouco se sabe, e acreditamos ser de extrema responsabilidade dirigir o olhar também para o que acontece agora lá e aqui no Brasil, diante de tantos refugiados que chegam na tentativa de refazer a vida. Pretendemos provocar a reflexão, por meio de um relato franco e poético sobre uma família síria”, afirma Valéria Arbex, que não pôde realizar o sonho de conhecer a Síria este ano e precisou fazer sutis adaptações no texto por conta da situação de conflito na região.

 

"Meu bisavô dizia que todo retirante árabe, se for obrigado a deixar a sua pátria, deve levar na sua mala livros, pão com azeite e zátar (tempero característico da culinária árabe) e todas as lembranças que couberem na sua memória." As palavras de Valéria, proferidas por seu bisavô em 1910, foram inseridas no texto como parte da memória familiar desde a sua estreia.

 

O texto parte da memória da atriz, que ganhou, juntamente com sua irmã Claudia, de presente de sua mãe as cartas trocadas por seus avós. O casamento entre eles, que não se conheciam pessoalmente, foi arranjado pelas famílias, o chamado “acordo de bigodes”. A atriz Valéria Arbex não queria que as 68 cartas trocadas entre Nadine e Nicolau amarelassem na gaveta. Assim, depois da morte da avó, ela começou a pesquisa que a levaria a conhecer, ainda, imigrantes sírios, libaneses e palestinos. “Salamaleque é uma colcha de retalhos de histórias que ouvi, da memória de minha família, da pesquisa gastronômica e histórica que fiz”, conta. “É uma reverência aos imigrantes, é um caminho de volta à minha origem, um reencontro.”

 

Cozinha como cenário

A ambientação da peça reproduz a cozinha de um galpão abandonado na rua Florêncio de Abreu, na região da rua 25 de Março, em São Paulo. Nesse cenário, a atriz prepara os pratos durante a encenação. Entre pastas de grão-de-bico, água aromatizada e pão com zátar, Elizete recebe o público na cozinha da sua infância. Por meio da memória da personagem, o espectador é convidado a sentar-se à mesa e compartilhar das muitas histórias de vida trazidas junto com aromas, cores e temperos das especiarias da culinária árabe. No final do espetáculo, os quitutes são servidos para a plateia.

 

Salamaleque tem consultoria gastronômica de Graziela Scorvo Tavares; cenografia e figurinos de Chris Aizner; iluminação de Guilherme Bonfanti; e trilha sonora instrumental original de Sami Bordokan. Em parceria com o irmão William Bordokan, ele concebeu músicas inspiradas nas canções do folclore sírio-libanês do começo do século 20, com alaúde, derbaki e nai (percussão e flauta árabes, respectivamente).

 

Noite de celebração

A diretora Denise Weinberg ressalta que o espetáculo revela histórias do Oriente a partir da memória da família Arbex. “O resultado da encenação é singular e sensorial: a plateia rodeia a mesa onde se passa a ação, que é conduzida pela trilha original; assiste a tudo enquanto sente aromas e sabores da culinária síria.”

 

O diretor e autor Kiko Marques conta que Valéria pretendia tornar o palco um lugar de comunhão e oferenda. Ficou decidido, então, que a peça seria um encontro. “Encontro com os fantasmas do passado dessa descendente de imigrantes sírios. Meu com Denise na direção e com Alejandra Sampaio na criação do texto. Um encontro (de cheiros e gostos) com o público nesse momento de celebração”, fala Kiko, que amarrou a dramaturgia baseada em histórias reais com ficção.

 

Ao colocar uma lente de aumento na imigração no Brasil, o solo revela a memória de uma época pelo prisma árabe. De forma ritualística e poética, ilumina aspectos relevantes desta cultura e procura desmistificar a imagem ocidental criada sobre ela. “A encenação propõe ao público uma experiência de acolhimento e tolerância”, diz a dramaturga Alejandra Sampaio.

 

O nome da peça vem da expressão árabe “as-salaamu aleikum” (“que a paz esteja contigo”); pronuncia-se “assalaamu aleik”, saudação verbal feita enquanto curva-se o tronco e toca-se a testa com a mão direita.

 

Salamaleque já fez temporada em janeiro de 2015 no Instituto Cultural Capobianco. O projeto do espetáculo foi selecionado ao lado de outros 23 de um total de 318 peças inscritas pelo prêmio Zé Renato da Secretaria Municipal de São Paulo, na primeira edição. Apresentado no Festival Internacional de Tanger, no Marrocos, em outubro de 2014, recebeu convite para ir a Marrakech e ao Egito.

 

A vocação do ICC e projetos anteriores

Salamaleque encerra o projeto Terceira Margem III, que apresentou, gratuitamente, desde outubro 2015, as peças Na Selva das Cidades - em Obras Ocupação #2 (da Mundana Cia, direção de Cibele Forjaz), Gotas D’água Sobre Pedras Escaldantes (direção de Rafael Gomes) e O Meu Lado Homem, Um Cabaré d'Escárnio(inspirado na obra Cartas de um Sedutor, de Hilda Hilst, com Luis Mármora). A iniciativa também realizou oficina com a diretora brasileira radicada na Espanha Daniela De Vecchi, assistente de dramaturgo espanhol José Sanchis Sinisterra, autor de mais de 40 peças. Carlos Careqa e Pascoal da Conceição comandaram tertúlias musicais e poéticas, com a participação de outros artistas.

 

O projeto Terceira Margem já viabilizou processos de pesquisa e encenação dos espetáculos Cais ou Da Indiferença das Embarcações (Prêmio APCA de melhor texto, da Velha Cia, em 2013) e Gotas D’água Sobre Pedras Escaldantes, segundo projeto de intercâmbio nacional com foco em montagem inédita. 

 

Instituto Cultural Capobianco também já possibilitou a vinda para o Brasil do dramaturgo espanhol Jose Sanchis Sinisterra (2010), a diretora franco-americana Léa Dant (2011) e o diretor russo Adolf Shapiro (2012), além da residência da diretora artística do Théatre du Voyage Interieur, da França, Lea Dant, em 2011, que montou Antes de Partir.

 

A frente do Instituto Cultural Capobianco, a diretora artística Fernanda Capobianco tem seu foco direcionado a artistas e produções que ocupam posições singulares na dramaturgia brasileira contemporânea, apresentando um recorte do que há de melhor no teatro atual, seja produzindo e apoiando espetáculos ou promovendo atividades para fomentar a pesquisa, experimentação e processo artístico no teatro contemporâneo.

 

Fernanda tem aberto a porta do Capobianco, gratuitamente, em seus ciclos de leituras, para encontros e debates de textos dramatúrgicos inéditos.  Assim, promove uma troca de conhecimento, divulgando e estimulando o processo de criação dos dramaturgos. Apostando no modelo intimista entre público e artista, vem realizando importante trabalho que objetiva gerar maior reflexão sobre a prática teatral, também incentivando novas formas de vivência artística.

 

Sobre a Cia Teatral Damasco

Para a criação dramatúrgica, pesquisa a memória privada e a história árabe. A companhia valoriza a carpintaria do ator, a pesquisa da linguagem cênica e do teatro ritualístico. Filiada à Cooperativa Paulista de Teatro, foi fundada em 2010. Entre suas encenações estão:Poemas Encenados, de Mahmud Darwish; Em que Instante Deus criou as Orquídeas?.; Relato de um Certo Oriente, de Milton Hatoum; e Leituras Dramáticas de Gibran Kahil Gibran. Salamaleque estreou em 2013 no Viga Espaço Cênico, em São Paulo.

 

Sobre Valéria Arbex – interpretação e concepção do projeto

Fundou a Cia. Teatral Damasco, em 2010. Integrou a Companhia Círculo dos Comediantes durante oito anos. Sob a direção artística de Marco Antônio Braz, atuou em Perdoa-me por me TraíresA Falecida; e Figurinha Difícil – perspectiva da obra de Plínio Marcos. É formada pela Escola Profissionalizante de Atores Indac, Escola de Atores Pirandello; iniciou sua formação teatral com o diretor Vladimir Ponchiroli e com a atriz Nilda Maria. Com a Velha Companhia, atuou em “Valéria e os Pássaros”, de José Sanchis Sinisterra. Na televisão, atuou na série Pedro & Bianca, TV Cultura, sob a direção de Jeferson De e Fábio Mendonça.

 

Sobre Denise Weinberg – direção

Fundadora do grupo Tapa, onde permaneceu por 21 anos. Por Oração para Um Pé de Chinelo, de Plinio Marcos e direção de Alexandre Reinecke (2005) e Uma Peça por Outra, de Jean Tardieu, levou os prêmios APCA e Shell de melhor atriz. Já Do Fundo do Lago Escuro, sob a direção de Tolentino (1997), lhe rendeu o Mambembe de melhor atriz e indicação ao Shell. Mais recentemente, em 2015, apresentouAs Criadas, de Jean Genet, sob a direção de Eduardo Tolentino, e atuou em Dançando em Lúnassa, direção de Domingos Nunes (2013). Dirigiu a peça O Pelicano, de Strindberg (2009/10); Paulo Francis Está Morto, de Paulo Coronato (2008); A Refeição, de Newton Moreno (2007); Silêncio e Paisagem, de Harold Pinter (2005); O Nome, de Jon Fosse (2004); Malkhut (2003); e A Festa, de Harold Pinter (2002). No cinema, atuou em mais de uma dezena de filmes. Com Salve Geral, de Sergio Rezende, conquistou os prêmios de melhor atriz coadjuvante no Grande Prêmio de Cinema Brasileiro 2010 e no Festival de Cinema Brasileiro de Los Angeles 2010.

 

Sobre Kiko Marques – direção e dramaturgia

Ator, diretor e dramaturgo. É diretor artístico da Velha Companhia. Recebeu três prêmios como melhor autor: Shell, APCA e Aplauso Brasil; e Qualidade Brasil como melhor diretor. Autor e diretor do espetáculo Cais ou da Indiferença das Embarcações, que recebeu 19 indicações em 2013,  entre elas seis categorias do Prêmio Shell. Em 2011, estreou Sem Pensarsob a direção de Luiz Villaça, e texto de Anya Reiss. Trabalhou em produções sob a direção de Moacyr Góes, Moacyr Chaves, Jô Soares (Ricardo III) e Renata Melo (Simpatia). Integrou entre 1995 e 2003 a Companhia Círculo dos Comediantes, sob a direção artística de Marco Antônio Braz; e participou também do grupo CPT, de Antunes Filho.

 

Alejandra Sampaio - dramaturgia

Sob a direção de Lea Dante, diretora do Théâtre Voyage Interieur – escreveu os textos de teatro: Viagem ao Centro da Terra (2005) e Bendito Aquele que Diz Sim (2011). Participou por dez anos do grupo Círculo dos Comediantes, dirigido por Marco Antônio Braz. Foi curadora por quatro anos no Instituto Cultural Capobianco, onde realizou a Mostra 70 Anos Sinisterra em 2010.Fundou ao lado de Kiko Marques e Virgínia Buckowski a Velha Companhia, onde atuou e produziu o espetáculo Cais ou da Indiferença das Embarcações. Recebeu o primeiro lugar no Concurso de Contos da Universidade de Valência, Espanha, pelo conto Deserto Recurso. Formada em artes cênicas pela PUC-PR. Recebeu o Prêmio Julia Mann de Literatura promovido pela Editora Estação Liberdade e pelo Instituto Goethe em São Paulo (1997), onde teve um conto publicado na obra A Vida Entre Duas Culturas. No grupo do Teatro Guaíra, trabalhou com diretores como Gianne Ratto, Ademar Guerra, Machior e Cleon Jacques.

 

 

 

Capobianco receberá doações em prol dos refugiados no Brasil nos dias de espetáculo. Os donativos serão encaminhados às seguintes instituições:

 

1. ADUS - Instituto de Reintegração do Refugiado no Brasil – Recebe material escolar - caneta, lápis, caderno, livros infantis;

2. Oasis Solidário – Alimentos, fraldas, trigo, farinha de trigo, lentilha, grão-de-bico;

3. Centro de Acolhida ao Imigrante – Todos os tipos de doações.

 

 

 

FICHA TÉCNICA

Idealização do projeto: Valéria Arbex. Realização e Coordenação Artística: Cia.Teatral Damasco. Direção: Denise Weinberg e Kiko Marques. Dramaturgia: Alejandra Sampaio e Kiko Marques. Atriz: Valéria Arbex. Cenografia e figurinos: Chris Aizner. Trilha sonora original: Sami Bordokan. Iluminação: Guilherme Bonfanti. Consultoria gastronômica: Graziela Scorvo Tavares. Cenotécnico: Mateus Fiorentino. Produção: Carol Vidotti, Rosana Maris e Melissa Rudalov. Assessoria de imprensa: Fernanda Teixeira / Arteplural. Projeto gráfico e ilustrações: Aida Cassiano. Glossário árabe / português: Mamede Jarouche. Operação de som e luz: Fernanda Guedella, Adriana Dham e  Ricardo Barbosa (stand-in).

 

 

SERVIÇO:

Salamaleque, no Instituto Cultural Capobianco. Rua Álvaro de Carvalho, 97 – Centro. Telefone(11) 3237-1187Temporada: de 23 de janeiro a 12 de março de 2016, sábados, 16h e 20h, e domingos, às 16h (exceto Carnaval, dias 6/02 e 7/02). Entrada gratuita.Distribuição de ingressos uma hora antes da apresentação. Duração: 60 minutos. Capacidade: 35 lugares. Classificação: 12 anos. A bilheteria abre com uma hora de antecedência.

 

Cia Teatral Damasco. E-mail ciateatraldamasco@gmail.com. Telefone 11. 97499-4243

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