EM "OS VERANISTAS"
Elitismo, alienação e machismo são colocados à tona em peça inspirada em texto homônimo de Gorki, que retrata uma viagem de final de ano entre amigos
Um dos mais polêmicos textos do escritor russo Máximo Gorki (1868-1936) ganhou adaptação contemporânea e reestreia na sexta, dia 15 de janeiro, no Teatro Augusta. Em “Os Veranistas”, um grupo de amigos participa de uma festa de final de ano que acontece numa cidade do litoral. Durante o evento, pessoas mergulhadas em suas crises expõem opiniões e pensamentos moldados por uma sociedade falida.
Na trama, um casal organiza uma festa de réveillon em sua casa de praia. Durante a espera do novo ano, conhecemos uma ativista humanitária, um escritor renomado, uma atriz diante da morte e os amigos e familiares dos anfitriões --entre eles, dois jovens que questionam a celebração e o mundo em que vivemos.
Embora mantenha o mesmo título da obra original, a livre adaptação de “Os Veranistas” torna o texto ainda mais contemporâneo ao retratar uma geração desiludida com o rumo de suas vidas, repleta de expectativas não realizadas e detentora de pensamentos retrógrados e elitistas, que ainda preservam conceitos criticados por Gorki em 1904.
Nascido em uma família pobre, o autor russo retratava com desprezo as contradições da burguesia do século 20. Militante político a favor da revolução, Gorki encontrou no teatro uma forma de fazer da arte um instrumento de luta, fazendo de seus textos dramatúrgicos um veículo de conscientização da população.
Ao perceber o importante papel feminino na militância socialista durante o período de revolução na Rússia, Gorki passou a retratar as mulheres de uma maneira diferente das demais heroínas das histórias do século 20. Em "Os Veranistas", as personagens femininas expõem e questionam o casamento, a autoridade masculina e os "valores tradicionais", defendendo a liberdade sexual --queixas que permanecem urgentes mais de um século depois.
Seu posicionamento político, presente na obra original, leva à construção de figuras de fácil identificação, que proclamam frases de efeito dignas de compartilhamentos nas redes sociais. A situação apresentada no palco não é muito distante da realidade vivida pelos 12 atores que, em virtude dessa atualidade, emprestam seus nomes aos personagens. São arquétipos que revelam, aos poucos, um sujeito único, representante de uma geração corresponsável pelo momento em que vivemos. Nossos veranistas conseguem ser diferentes, mas também análogos. São indivíduos mesquinhos, permeados de contradições e desprovidos de movimento.
REPERTÓRIO
“Os Veranistas” é uma das três peças que compõem uma seleção de trabalhos dirigidos por Renato Andrade. Além da adaptação da obra de Gorki, reestreiam “E se não Tivesse Amor no Título?”, aos sábados, e “A Noite em que Blanche Dubois Chorou sobre a minha Pobre Alma”, de Jarbas Capusso Filho, aos domingos. As três peças estarão em cartaz no Teatro Augusta, como parte das comemorações dos quinze anos de carreira do diretor.
“Os Veranistas”
Sinopse: Um grupo de amigos se reúne numa casa de praia para celebrar o réveillon. A ânsia de um novo ano amplifica os sentimentos dos personagens e evidencia as egocêntricas relações contemporâneas.
Gênero: Drama
Dramaturgia e Direção: Renato Andrade
Elenco: Anita Prades, Bruna Ribeiro, Danilo Fernandes, Dimitri Slavov, Drica Czech, Luciana Severi, Marcelo Sartori, Patrícia Vieira Costa, Renata Flores, Rodrigo Vellozo, Roberto Leski e Thiago Sak.
Stand-in: Letícia Rocha e Pedro Conrado
Assistência de Direção: Paulo Sommer
Trilha Sonora: Rodrigo Vellozo
Cenografia: Cris Panza e Renato Andrade
Iluminação e Figurinos: Cris Panza
Fotos: Allan Bravos
Design: Thiago Sak
Produção: Academia Paulista de Teatro
Temporada: De 15 de Janeiro a 26 de fevereiro – Sextas às 21h30
Localização: Sala Experimental Teatro Augusta - Rua Augusta, 943
Duração: 65min
Ingressos: R$30 e R$15 (meia)
Capacidade: 50 lugares
Classificação Indicativa: 12 anos
Telefone: 3151-4141
Vendas: Bilheteria do teatro ou pelo site Compre Ingressos
- O espetáculo não será apresentado na sexta, dia 5 de fevereiro, em virtude do Carnaval