de Samuel Beckett, com direção de Isabel Teixeira,
em 14 de janeiro de 2016
Peça será encenada no apartamento de Renato Borghi, onde o ator reside desde 1957, localizado no coração da Avenida Paulista
A montagem celebra também os mais de 20 anos de atividades ininterruptas do Teatro Promíscuo; companhia nascida da parceria entre os atores Renato Borghi e Elcio Nogueira Seixas
Fotos de cena de Patricia Cividanes
Prestes a completar 60 anos de carreira, o ator Renato Borghi enfrentou o desafio de transformar, temporariamente, a sua casa em espaço cênico para abrigar a encenação inédita do clássico ‘Fim de Jogo’, do dramaturgo irlandês Samuel Beckett. A estreia, prevista para o dia 14 de janeiro, seguirá em temporada por sete semanas, até 28 de fevereiro de 2016, sempre de quinta a domingo, às 20h.
Desde março, os ensaios são realizados no apartamento do ator. A equipe de criação, formada por Isabel Teixeira (direção), Karlla Girotto (direção de arte), Aline Meyer (trilha sonora) e Alessandra Domingues (luz), além dos atores Renato Borghi e Elcio Nogueira Seixas, considerou, para a criação do espetáculo, a arquitetura do ambiente, assim como toda a história vivida no local, que abarca, além da trajetória pessoal de Borghi, relíquias e memórias de sua extensa carreira, que se confunde com mais de meio século do Teatro Brasileiro.
O texto de Beckett será apresentado na íntegra, porém a concepção da peça adquire força e coerência próprias, uma vez que o local de apresentação dialoga com as bases da performance e desdobra os significados do texto. A cenografia, por exemplo, utiliza-se de objetos decorativos e pessoais, fotografias, móveis originais da casa do ator para compor o espaço. Estão presentes na encenação, de forma inusitada e original, os pais do Renato Borghi: Maria de Castro Borghi (como Nell) e Adriano Borghi (como Nagg).
A opção pela apropriação da casa real do ator como espaço cênico levou em conta quatro pilares para a sua construção:atores/personagens; deserto/metrópole, lar/teatro e realidade/imaginário.
A sobreposição atores/personagens: a rotina dos seres patéticos retratados no texto e a relação entre eles podem ser traduzidas pela rotina dos atores que os interpretam e sua estreita relação. Isso faz com que o público se aproxime da proposta de Beckett e reconheça elementos de seu próprio cotidiano e de seus relacionamentos duradouros.
A sobreposição mundo pós-apocalíptico desabitado/metrópole: a terra desolada, que tais seres observam através de pequenas escotilhas no abrigo, reflete o paradoxo sociocultural da vida contemporânea nas grandes cidades - quanto mais habitadas, mais vazias e desprovidas de sentido;
A sobreposição lar/teatro: o lar, como prisão autoinfligida pelas personagens, traduz o pânico do contato real com o outro na era das redes sociais e conexão “eterna”;
A sobreposição realidade/imaginário: a casa do ator nada mais é que a ideia da casa do ator. Portanto, a concepção do espetáculo não está necessariamente presa ao imóvel real. Após esta primeira temporada, o espaço de representação será inteiramente “copiado” (uma reprodução cenográfica do local), incluindo paredes, teto, pisos, portas e janelas, tal como o público o vê na montagem original. Através desta técnica, o apartamento poderá ser “transportado” e “remontado” em qualquer espaço, desde teatros a salas expositivas. Por esta razão, a equipe deu ao projeto o nome de “Hamm-Home Theatre” (Hamm é a personagem de Renato Borghi).
“A ideia de transformar a residência em refúgio teatral não deixa de ser um manifesto em tempos de escassez, incerteza e pessimismo. Porém, um manifesto repleto de humor negro. Como diz a personagem Nell, a certa altura do texto: “Não há nada mais engraçado que a infelicidade””, acrescenta Elcio Nogueira Seixas.
A base para a atual criação teve origem em 1999, na série de workshops realizados pelo Teatro Promíscuo - “Beckett – O começo está no fim” -, na Oficina Cultural Oswald de Andrade, na qual se investigou a trilogia de romances escrita pelo autor logo após o fim da Segunda Guerra, composta por “Molloy”, “Malone morre” e “O Inominável”.
A mesma equipe -– Renato Borghi, Elcio Nogueira Seixas, Isabel Teixeira e o tradutor de “Fim de Jogo”, o professor e pesquisador especialista na obra do autor, Fábio Rigatto de Souza Andrade -- se reuniu para dar corpo ao atual projeto “beckettiano”, seguindo as mesmas perspectivas levantadas à época: fim das utopias; fim das esperanças demasiadas no progresso da humanidade. “Essa ressaca derradeira trazia consigo a angústia de que tudo já foi feito, dito ou pensado, restando apenas ruínas. E, como era de se esperar, desse ponto de vista, nada mudou nos últimos 16 anos”, diz Borghi.
“Tematicamente, o projeto “Fim de Jogo – Hamm/Home Theatre 2016” segue a trilha iniciada em 1999 e propõe a exploração do que é rejeitado; que não funciona; não se encaixa; não produz; não vende; enfim, de tudo que é varrido da civilização para o terreno do invisível. Longe de serem abstratas ou desinteressantes, as “inutilidades” são o maior produto que a sociedade de consumo pode gerar e constituem um objeto de estudo mais que evidente”, declara Isabel Teixeira.
A peça também celebra os mais de 20 anos de atividades ininterruptas do Teatro Promíscuo; companhia nascida (no mesmo apartamento em questão) da parceria entre os atores Renato Borghi e Elcio Nogueira Seixas, que sempre teve como motivação borrar as fronteiras artificiais entre escolas teatrais distintas, entre o “comercial” e o “alternativo”, entre o “pessoal” e o “teatral”. “Fim de Jogo” encarna de forma bastante sintética esta proposta.
Sugestão de sinopse
O velho Hamm (Renato Borghi) está cego e paralítico. Seu parceiro Clov (Elcio Nogueira Seixas) tem uma estranha enfermidade que o impede de sentar-se. Junto deles, habitam outros dois mutilados, Nagg (Adriano Borghi) e Nell (Maria de Castro Borghi), pais de Hamm. Os quatro personagens dividem um abrigo, refugiados de uma terra devastada que Clov espia com uma luneta através de pequenas janelas. Não há pistas sobre que espécie de apocalipse criou tamanha desolação. No jogo da sobrevivência, Hamm dá as ordens, enquanto Clov cuida da cozinha e outras questões de ordem prática. A peça começa quando o jogo se aproxima do fim.
O dramaturgo e escritor irlandês Samuel Beckett nasceu em 13 de abril de 1906 e morreu em 22 de dezembro de 1989. Foi um dos fundadores do teatro do absurdo e é considerado um dos principais autores do século XX. Graduou-se em literatura na Trinity College, de Dublin, em 1927, e, no ano seguinte, começou a lecionar --primeiro em Paris, depois na Irlanda. Sua obra foi traduzida para mais de trinta idiomas. Escreveu, além de obras narrativas, diversas peças teatrais, Em 1969, recebeu o Prêmio Nobel de Literatura. “Fim de Jogo” foi escrita em 1955-1957, na atmosfera do pós-guerra, originalmente em francês e depois em inglês.
CORPO CRIATIVO
Autor: Samuel Beckett
Tradução: Fábio Rigatto de Souza Andrade
Elenco:
Renato Borghi (Hamm)
Elcio Nogueira Seixas (Clov)
Maria de Castro Borghi (Nell)
Adriano Borghi (Nagg)
Direção: Isabel Teixeira
Direção de Arte: Karlla Girotto
Iluminação: Alessandra Domingues
Trilha Sonora: Aline Meyer
Diretor Assistente e “O Ponto”: Lucas Brandão
Assistência de Direção de Arte: Gabriela Cherubini
Assistência de Iluminação: Laiza Menegassi
Direção de palco: Tiago Moro
Filmagem e Edição: Eliana César
Midias Sociais: Roberta Koyama
Fotos: Roberto Setton e Patrícia Cividanes
Programação gráfica: Patrícia Cividanes
Assessoria de Imprensa: Adriana Monteiro
Produção Executiva: Anayan Moretto
Produção: Henrique Mariano
Realização: Teatro Promíscuo
“Este espetáculo tem seus direitos autorais licenciados pela ABRAMUS – Associação Brasileira de Música e Artes”.
SERVIÇO
Fim de Jogo
com Renato Borghi e Élcio Nogueira Seixas
Estreia em 14 de janeiro de 2016
Data: de quinta a domingo – 14/01 a 28/02 / 2016
Horário: 20h
Duração: 105 minutos
Capacidade: 30 lugares
Local: A 10 minutos a pé da sede do instituto Itaú Cultural
Inscrições a partir das 19h, para retirada do mapa e encaminhamento para o local da apresentação - Av. Paulista, 149 - Tel: (11) 2168-1777
Classificação Indicativa: 18 anos
Temporada até 28 de fevereiro de 2016, sempre de quinta a domingo, às 20h.