Cultura - Teatro

ESPETÁCULO HYSTERICA PASSIO, DE ANGÉLICA LIDDELL, ENCERRA TEMPORADA NO ESPAÇO PARLAPATÕES

10 de Dezembro de 2015

Texto inédito da dramaturga espanhola, narra a história de Hipólito, que aos 12 anos resolve se vingar dos pais pelos maus tratos por ele sofridos. Montagem do Teatro Kaus tem direção de Reginaldo Nascimento e tradução de Aimar Labaki

Texto inédito no Brasil, o espetáculo HYSTERICA PASSIO, da dramaturga espanhola Angélica Liddell, faz as duas últimas apresentações neste fim de semana, sábado e domingo, dias 12 e 13 de dezembro, às 20h, no ESPAÇO PARLAPATÕES.Peça conta história de Hipólito, que aos 12 anos resolve se vingar dos pais pelos maus tratos por ele sofridos. Montagem do Teatro Kaus, tem direção de Reginaldo Nascimento e tradução de Aimar Labaki. Elenco reúne os atores Alessandro Hernandez e Amália Pereira.

 

Em HYSTERICA PASSIO, Hipólito filho da esquálida enfermeira Thora e do pálido dentista Senderovich, assume diversas figuras alegóricas em cena: a de um mestre de cerimônias, a de seu pai já morto e a dele mesmo na infância. Apresenta, a sua vida e a de seus pais, retomando os momentos de sua história para questionar, julgar e condenar a dor que sente, as feridas ainda não cicatrizadas. Sobrevivente aos abusos que sofreu durante a infância, chega aos 12 anos com um proposito claro, vingar-se.

 

“Liddell, é uma contundente dramaturga, que aprofunda as questões acerca do ser humano e suas dores mais íntimas. É uma autora que faz sangrar as palavras e me possibilita uma investigação poética, estética e cênica, onde o foco é o ser humano e sua aventura de viver”, afirma o diretor Reginaldo Nascimento. “Este é o segundo texto da Angélica que encenamos, o primeiro foi O Casal Palavrakis, em 2012. Ambos fazem parte da obra Tríptico da Aflição”, completa o diretor.

 

Montagem transita com a forma do teatro contemporâneo e os expedientes cênicos do pós dramático, misturando ao jogo dos atores alegoria, artes plásticas, sombras e sons, fazendo do espetáculo um mergulho nas sensações do ser humano, nos abismos da alma. “A encenação abusa da teatralidade e explicita a angústia destes seres numa interpretação que transita com a alegoria, e brinca com os expedientes do circo de feras e de horrores para tentar dar cor a uma vida de dor”, finaliza Nascimento.

 

O espaço cênico de HYSTERICA PASSIO é construído a partir da trajetória de cada personagem, a jaula/cela de Thora, que aprisionada, se debate e revive sua história, expondo suas dores e alegrias, num jogo de repetição e representação de sua vida. O jardim/túmulo de Senderovich, que é vivenciado pelo próprio Hipólito, que se apropria de outros elementos (bonecos, manequins e figurinos) para elucidar a teatralidade e explicitar o seu martírio.

 

O cenário, de Reginaldo Nascimento, que também assina a trilha sonora, trabalha com o branco em todo o ambiente. Os figurinos, de Telumi Helen, também brancos, apresentam camadas que revelam a tessitura das personagens. A iluminação, de Vanderlei Conte, acentua a assepsia da encenação e amplia o estado sombrio dos personagens. A sonoplastia evidencia a dramaticidade do espetáculo e ajuda a criar um clima de fantasia e horror.

 

Hysterica Passio: Já no século XVII é possível encontrar a expressão médica Hysterica Passio, mera tradução de uma muita mais antiga em gregohysteriká pathé, ‘paixão histérica’ ou mais exatamente ‘paixão do útero’. As pacientes diagnosticadas com histeria feminina deviam receber um tratamento conhecido como “massagem pélvica”, que não era mais que a estimulação manual dos genitais da mulher pelo doutor até chegar ao paroxismo histérico, o que hoje se denomina orgasmo. Tão aceitado foi este tratamento que a partir de 1880 os casos se multiplicaram, tanto que em 10 anos se converteu em uma epidemia.

 

Angélica Liddell: Pseudónimo de Angélica González (Figueres, Girona, Catalunha, Espanha, 1966) é produtora, encenadora, atriz, escritora, poetisa e dramaturga. É licenciada em Psicologia e Arte Dramática. Iniciou em 1988 a sua trajetória no teatro e esse ano, recebe o Premio Cidade de Alcorcón pela obra Greta quiere suicidarse. Em 1993, fundou, juntamente com Gumersindo Puche, a companhia Atra Bilis Teatro (bílis negra), onde produz, dirige e interpreta seus próprios textos. A sua obra compreende narrativa, poesia, performance e ações, além de textos teatrais, dos quais muitos foram já encenados na Espanha, Colômbia, Bolívia, Portugal, Alemanha, Chile e República Checa. Suas peças abordam temas como a decadência da instituição familiar, o lado negro do ser humano, a morte e o sexo. Escreveu os textos: O Tríptico da Aflição, que reúne as peçasO Casal Palavrakis, Once Open a Time in West Asphixia Hysterica Passio; La Falsa Suicida; Actos de Resistência Contra a Morte; Las Condenadas, El Jardín de Madrágoras El año de Ricardo, entre outras. Suas obras estão traduzidas para português, alemão e francês.

 

Reginaldo Nascimento: Ator e Diretor Teatral em constante atividade desde 1990. Fundou o Teatro Kaus Cia Experimental em 1998. Participou de diversos cursos de formação e aprimoramento com diversos e importantes profissionais. Desde 1993 se dedica especificamente a Direção Teatral e a pesquisa do teatro de grupo, tendo assinado a direção de mais de 20 espetáculos entre eles: O Casal Palavrakis, de Angélica Liddell, O Grande Cerimonial, de Fernando Arrabal, Infiéis, de Marco Antonio de la Parra, A Revolta, de Santiago Serrano, El Chingo, de Edílio Peña,Pigmaleoa, de Millôr Fernandes, Cala a Boca Já Morreu, de Luís Alberto de Abreu, A Boa, de Aimar Labaki, Vereda da Salvação, de Jorge Andrade,Homens de Papel e Oração para um pé de chinelo, ambas de Plínio Marcos, entre outros. Vêm realizando desde 1994, várias oficinas e cursos em prefeituras, secretarias de cultura e instituições privadas pelo interior do Estado, na capital e outros estados. Organizou e Editou o LivroCADERNOS DO KAUS - O Teatro na América Latina. Em agosto de 2009, idealizou e executou juntamente com o Grupo Kaus e em parceria com o Instituto Cervantes a Mesa de Debates Um Certo Arrabal, evento que trouxe a São Paulo o Dramaturgo Fernando Arrabal, um dos mais importantes da cena Mundial.

 

Teatro Kaus Cia. Experimental: Radicado em São Paulo desde outubro de 2001, o Teatro Kaus Cia Experimental da Cooperativa Paulista de Teatro foi criado em dezembro de 1998, na cidade de São José dos Campos, pelo ator e diretor Reginaldo Nascimento e pela atriz e jornalista Amália Pereira. Na capital paulista, a Cia. encenou as peças O Casal Palavrakis, de Angélica Liddell (2012/2013/2014), O Grande Cerimonial, de Fernando Arrabal (2010/2011), A Revolta, do argentino Santiago Serrano (2007), El Chingo, do venezuelano Edilio Peña (2007), Infiéis, do chileno Marco Antonio de la Parra (2006/2009), Vereda da Salvação, de Jorge Andrade (2005/2004) e Oração para um pé de chinelo, de Plínio Marcos (2002). Participou em julho de 2007 como convidado do XVIII Temporales Internacionales de Teatro, em Puerto Montt e da Lluvia de Teatro de Valdivia, ambas no Chile, apresentando o Espetáculo A Revolta, realizando três apresentações, com o texto original em espanhol. Em novembro de 2007, lançou o livro Cadernos do Kaus – O Teatro na América Latina, um registro documental sobre todas as ações do projeto Fronteiras – O Teatro na América Latina, realizado pelo grupo durante o ano de 2006 e 2007, em parceria com o Instituto Cervantes e beneficiado pela Lei de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo.  

 

Para Roteiro

HYSTERICA PASSIO – Estreou dia 17 de outubro de 2015, sábado, às 20h. Texto: Angélica Liddell. Tradução: Aimar Labaki. Direção:Reginaldo Nascimento. Com o Teatro Kaus Cia Experimental. Elenco: Alessandro Hernandez e Amália Pereira. Duração: 80 minutos.Recomendação: 16 anos. Ingressos: R$ 40,00 (inteira) e R$ 20,00 (+60 anos, estudantes e professores da rede pública de ensino). Sábados e Domingos, às 20h. Até 13 de dezembro.

 

ESPAÇO PARLAPATÔES – Praça Franklin Roosevelt, 158 – Centro, tel: 3258-4449. Capacidade 100 lugares. Bilheteria funciona de terça a domingo, a partir das 16h. Bar. Acesso para deficientes. Aceita cartões.

 

(Amália Pereira – dezembro/2015)

 
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