O dia 26 de junho de 1968 entrou para a história da televisão brasileira por ser a data em que uma mesma emissora lançou duas novelas no horário nobre. A experiência foi da TV Globo, que nesse dia colocava no ar às 20h, a novela "Passo dos Ventos" de Janete Clair e em seguida, às 21h, "A Gata de Vison" de Gloria Magadan.
Foi um embate declarado entre Glória Magadan e Janete Clair, mas nenhuma das duas se saiu vitoriosa. Ambas as histórias não agradaram ao público, tanto pelos enredos extravagantes como pelo fato de terem provocado uma troca de casais que as donas de casa já adoravam. Acostumadas a torcer pelo final feliz do casal Gloria Menezes e Tarcísio Meira ou então do mais recente par da TV, formado por Yoná Magalhães e Carlos Alberto, as noveleiras de plantão naqueles anos 1960, não gostaram de ver Glória se apaixonando na telinha por Carlos Alberto e Tarcísio trocando juras de amor com Yoná Magalhães logo em seguida.
As duas novelas ficaram conhecidas muito mais pelo que aconteceu nos seus bastidores, do que o que foi para o ar. Dessa vez foi Janete Clair que mudou seu enredo para a América Central e criou sua novela "Passo dos Ventos" no Haiti, e seguindo os passos de Magadan, criou uma história de amor que nada tinha a ver com os sonhos das nossas donas de casa. Era a história de Vivian (Gloria Menezes), herdeira de uma grande fortuna e que ameaçada por todos os lados se une a um nobre falido, André (Carlos Alberto) que em troca lhe promete segurança. Os problemas da novela começavam no próprio título que era uma referencia direta a uma região do Haiti e os noveleiros não entendiam o que queria dizer. Dirigida por Régis Cardoso, a novela teve 177 capítulos e só foi terminar em janeiro de 1969.
Além de muito longa para uma produção que tinha um elenco muito pequeno, "Passo dos Ventos" ainda ficou um bom tempo sem um dos seus principais atores, Mário Lago, que foi preso pelo regime militar e demorou para ser solto e poder voltar para a história. A novela marcou também a estreia na TV da bela e irrequieta atriz Djenane Machado, que provocou celeuma ao protagonizar cenas um romance explícito com um ator negro, Jorge Coutinho, fato que a nossa sociedade da época não admitia.
Mas foi "A Gata de Vison" a campeã nos quesitos trama rocambolesca e bastidores agitados. A história de Gloria Magadan se passava na Chicago dos anos 1920 e reunia gangsters, detetives e policiais. Tudo em um enredo que abusava da violência e de cenas de mortes crueis e assassinatos violentos.
A história da jovem Maggie (Yoná Magalhães) que tinha uma irmã gêmea, Peggy, que era gangster e influente, mas que morre no início da historia, o que a faz ter que assumir a identidade da irmã, e seus amores com Bob (Tarcisio Meira), um agente federal e com um gangster (Geraldo Del Rey), não agradou definitivamente o público e a novela se arrastou até a primeira semana de janeiro de 1969.
Nos bastidores, no entanto, a novela esteve muito mais movimentada, com a briga de Tarcisio Meira com a autora pelas inúmeras variações de personalidade do seu personagem. O galã largou a novela um mês antes do seu término e seu personagem de certa forma ressurgiu com o ator Milton Rodrigues. Ao mesmo tempo, o ator Geraldo Del Rey se transformava de vilão em mocinho, graças ao seu romance com a autora na vida real, e foi quem ganhou o coração da heroína no final da novela. Dirigida por Walter Campos e Fábio Sabag, a novela também produziu um atrito entre Magadan e Daniel Filho, já que a autora não o deixou dirigir a novela de sua "adversária" Janete Clair por puro ciúme e fez com que ele deixasse a emissora.
"A Gata de Vison" teve ainda uma nota triste e trágica: a morte do ator Celso Marques, vitimado por um acidente automobilístico, um pouco antes das gravações da novela terminarem. Celso tinha apenas 26 anos e defendia um dos principais personagens da história.
E na próxima semana: um edifício que balançava de tanto humor.