Cultura - Teatro

Uma Espécie de Alasca

9 de Junho de 2015

Em coma há 29 anos após contrair a doença do sono (encefalite letárgica), Débora acorda com a mente de 16 anos de idade. Sua irmã Paulinha e seu cunhado, o médico dedicado Hornby, cuidaram dela ao longo de todo esse tempo. A inspiração do inglês Harold Pinter para a peça veio da leitura do livro "Tempo de Despertar”, do renomado neurologista Oliver Sacks, o qual apresenta casos de pessoas suspensas por décadas da vida, de repente de volta ao mundo em função de testes com um novo tipo de medicamento, descoberto na década de 1960.

 

 
 

Pinter compreendeu aqueles pacientes até mais do que seus próprios médicos, segundo eles próprios observaram depois de assistir a primeira montagem do texto. "Por motivos explicados apenas pela espiritualidade ou sensibilidade de um gênio, o dramaturgo não precisou conversar com Sacks, nem visitar o hospital onde os doentes ficavam para entender a fundo sua alma. Isso mostra como o teatro pode mergulhar no inconsciente, resgatando de lá, sem juízo de valor, nossa mais sincera humanidade", comenta o diretor Gabriel Fontes Paiva que assina também a adaptação. "O que me capturou nesse texto foi o quanto ele é profundo para tratar questões existenciais utilizando como ponto de partida um caso real."

 

Oliver Sacks anunciou em fevereiro de 2015, em um artigo no New York Times, que em breve nos deixará por conta de um estágio avançado de câncer. Ele surpreende de ao invés de se lamentar ou relembrar com nostalgia sua genial trajetória, dizer que se sente agradecido pela oportunidade de se despedir da vida. “Nos últimos dias, tenho sido capaz de ver a minha vida a partir de uma grande altitude, como uma espécie de paisagem.” entendimento raro da existência foi conquistado por uma vida dedicada ao estudo neurológico do ser humano. Sacks que conseguiu sem precedentes transformar casos médicos em best-sellers por meio de um talento nato para escrita trouxe notoriedade a questões prioritariamente de interesse médico.

 

“Despertando”, sua obra que apresenta pessoas que ficaram por décadas suspensas da vida e retornaram após a descoberta de um medicamento, permitiu um novo e profundo olhar sobre as questões existenciais. Isto ocorreu em tamanha proporção que gerou dramaturgo agraciado pelo Nobel a vontade de escrever uma peça inspirada em outra obra. “Um dia acordei com a sensação estranha de estar em um lugar e tempo distintos lembrei do livro do Oliver Sacks que tinha lido a quase uma década e escrevi “Uma Espécie de Alasca”.

 

Um ambiente para um coletivo

Outra coisa que chama a atenção dessa montagem é a reunião inusitada de grandes artistas.  Alguns experimentando novas funções, outros pela primeira vez no teatro. O que não é o caso dos três atores. Veteranos, reconhecidos e premiados terão o desafio de interpretar personagens complexos como alguém que dormiu por 30 anos, um médico que dedicou a vida inteira para descobrir a cura de uma doença e uma mulher que abriu mão da própria vida para cuidar da irmã.  “Yara, Miriam e Jorge são artistas genuínos que gostam de se aventurar em territórios ainda não explorados porque sabem que é no risco que podemos avançar mais.” Comenta o diretor. Luiz Duva um dos principais representantes brasileiros de vídeoarte, performance e novas mídias será responsável pela concepção de vídeo da peça. Luisa Maita um dos nomes mais encenados da nova MBP, teve sua primeira inserção em trilha sonora no tão comentado filme “Boyhood”. Maita possui grande reconhecimento nos EUA e com direito a apresentações esgotadas no Lincoln Center de nova York e primeiro lugar de vendas no iTunes por semanas nesse mesmo país. Quem assina com ela a trilha é outro músico também reconhecido internacionalmente e que recebeu prêmio de melhor trilha sonora em Gramado, Jam da Silva. A troca de papéis fica por conta de Débora Falabella que fará o figurino do espetáculo. “São Pessoas que tenho muita afinidade artística e que trabalho há anos em projetos de música. A Débora, por exemplo, sempre contribuiu muito em figurinos com o Grupo 3, (companhia de Gabriel, Yara e Débora), era a hora de assinar um sozinha.” Comenta Gabriel. O  teatro tem a vocação do diálogo com outras linguagens e o Festival Cultura Inglesa tem a vocação para a experimentação, talvez por isso tantos espetáculos bons tenha surgido deste Festival.

 

Ficha técnica

Autor: Harold Pinter 

Direção: Gabriel Fontes Paiva

Elenco: Yara de Novaes, Miriam Rinaldi e Jorge Emil

Concepção Audiovisual : Luiz Duva

Musicas e Arranjos: Luisa Maita e Jam Da Silva

Iluminação: Andre Prado e Gabriel Fontes Paiva

Figurino: Débora Falabella e Marina Aretz

Cenotécnico: Tadeu Tosta

Operador de som: Thiago Rocha 

Aulas de Foxtrot: Magoo Grande

Assessoria de imprensa: Pombo Correio

Planejamento de Projeto: Luana Gorayeb 

Direção de produção: Marlene Salgado

Produtores Associados: Marlene Salgado e Gabriel Paiva

Realização: Fontes Realizações Artísticas

Uma Espécie de Alasca foi inspirada em “Despertando” de Oliver Sacks, que teve sua primeira publicação em 1973 por Gerald Duckworth e Cia. 

 

Serviço

Teatro Cultura Inglesa – Rua Deputado Lacerda Franco, 333 – Pinheiros.

Dias 9 e 10 de junho às 21h.

60 minutos.

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