Depois de quatro anos longe dos estúdios, CA CAU está de volta e com nova assinatura (antigamente, ele usava o nome Cacau Brasil) para lançar seu 8° disco. No repertório, canções que trazem temas interpretados por meio de um olhar ácido e poético, com uma textura musical urbana e intensa, tudo temperado musicalmente pelo produtor Tuco Marcondes, que assina a direção do disco. In VER S.O.S tem oito faixas, sai pela gravadora Substancial Music e começa a chegar as lojas a partir de novembro.
Para Alessandro Fernandes, dono da Gravadora Substancial Music, CA CAU é um representante de uma nova geração da MPB. “Vejo nele a mesma força e amplitude de linguagem que enxergo em artistas como Zeca Baleiro e Lenine. Seu trabalho trás gás novo para música brasileira. CA CAU foi um achado. Estava há mais de um ano buscando um nome de MPB para o nosso catálogo. Costumamos trabalhar somente artistas com conteúdo, seja ele musical ou em suas letras. CA CAU combina com maestria isso em seu trabalho e, por isso, quis trabalhar com ele”, explica.
A gravadora representa, além de CA CAU, bandas como Angra, Blues Etílicos, Sepultura, Golpe de Estado, Inocentes e Plebe Rude.
Parceria com Tuco Marcondes
Tuco Marcondes assina a produção, direção musical e arranjos desse trabalho. Ele também foi responsável pela gravação de todos os instrumentos que aparecem nas oito faixas de In VER S.O.S. O produtor é conhecido por sua versatilidade: além de Zeca Baleiro, com quem trabalha atualmente, já atuou com outros grandes artistas da MPB, como Zélia Duncan, Paulo Ricardo, Sergio Brito, Oswaldo Montenegro, Fagner e Jane Duboc.
“Me diverti muito no processo de feitura do disco do CA CAU. Trabalhamos com uma facilidade rara . Muito disso se deve à nossa afinidade musical e a confiança que ele depositou em mim. Buscamos soluções que fizessem com que a música e a poesia caminhassem juntos. As letras tiveram um papel fundamental no caminho em que cada arranjo se desenvolveu”, explica o produtor.
CA CAU diz que Tuco soube interpretar bem seu momento e dar o tom correto para o disco, repleto de instrumentos de cordas. “Eu queria um disco mais acústico. Acredito que as cordas trazem muito da minha influência ibérica e contribui para potencializar a poesia e valorizar a voz. Fui buscar inspiração em Bob Dylan, Lou Reed e Paul Simon para essa obra. Esse trabalho traz uma grande potência musical e uma delicadeza poetica”, explica o artista, que completa dizendo que foi uma grande honra ter Tuco Marcondes ao seu lado nesse trabalho.
Novos caminhos
Mineiro de Viçosa, CA CAU teve um reconhecimento muito forte em seus trabalhos anteriores e participou de importantes festivais da Europa, com destaque para o Montreux Jazz Festival, Balkan Music Square Ohrid, Territórios Sevilla, Festival 7Sóis 7Luas, Latino-Americando e Womex. Em 2008, lançou, pela gravadora Som Livre, o CD e DVD Acordes para o Mundo, que lhe rendeu o prêmio Brazilian Internacional Press Award, nos EUA, como melhor turnê. Entre os seus parceiros, constam nomes como Alceu Valença, Flávio Venturini e Dominguinhos.
CA CAU mudou seu nome artístico porque queria ampliar suas fronteiras: “Acho que o artista deve estar sempre inquieto, antenado e pesquisando coisas novas. Percebi que meu nome artístico anterior não refletia mais este novo momento poético da minha carreira. Trilhei e vivenciei a cultura popular intensamente por um bom tempo (por isso Cacau Brasil), mas diante dos novos diálogos, parcerias, viagens, histórias, e amplitude que quero dar às minhas criações, o nome antigo estava ficando restritivo”, pondera.
O momento de reflexão de CA CAU veio acompanhado também de uma mudança de Fortaleza para São Paulo. “Vi que precisava de um contato maior com solo urbano para encontrar os meus novos caminhos. Queria buscar um ambiente que me provocasse e me inspirasse a criar. Nada melhor do que mudar para um grande centro. Foi nessa época que também inaugurei o meu Atelier Travessia e, durante quatro anos, renasci e criei neste espaço música, poesia e artes plásticas” relembra.
O artista não renega o seu passado, diz que vê em seus trabalhos anteriores uma série de experimentações. ”In VER S.O.S” é o meu afinar o encontro com a minha arte. Ele representa um alinhamento entre todas as minhas artes. Não por acaso, a capa do disco é um quadro meu, um auto-retrato batizado de EUMESMO .
Faixa a faixa
Olho a olho
Essa foi a primeira canção do disco a ser composta. CA CAU explica que a letra reflete bem o momento em que ele estava. “Tinha acabado de chegar em São Paulo. Estava com uma série de questionamentos, buscas, movimentos e saindo da minha zona de conforto. Essa música marca o início da minha travessia em busca deste novo momento que vivo hoje”. A música é uma parceria entre CA CAU e Mauricio Oliveira, dupla que já assinou outras canções.
A faixa que abre o disco também foi a primeira em que Tuco trabalhou com CA CAU. O produtor atendeu o pedido do músico para dar uma pegada mais roqueira. “Fiz uso de um tom mais acústico e optei, basicamente, por violões, baixo, bandolin e percussões. Ficou com um frescor matinal que combinou perfeitamente com a letra e os vocais”, tempera Tuco.
Sonhar
Sonhar dá continuidade ao caminho que CA CAU e Mauricio Oliveira começaram em Olho a Olho. “A letra fala sobre a busca de um sonho, a busca pela liberdade, o desejo e a vontade de viver e amar! Ela retrata o momento em que eu estou me lançando em um infinito desconhecido, de braços abertos e buscando meus ideais”, defende CA CAU.
Tuco Marcondes explica que a espinhal dorsal dessa música são os violões dedilhados, que, junto com o exótico cavaquinho português, ajudam a dar para essa faixa uma atmosfera etérea com um pé no folk.
Vermelho
Durante o seu processo de reconstrução, CA CAU foi em busca de suas raízes: o artista se reencontrou com os poetas mineiros, estudou muita filosofia e vivenciou em suas turnês por Portugal e Espanha, influências ibéricas provenientes de sua origem hispânica, afinal seus bisavôs são de Cádiz. Tudo isso se reflete nessa faixa, parceria de CA CAU com Bispo Filho, grande poeta mineiro. “Vermelho é uma música intensa, provocante e cheia de paixão”, detalha o músico.
Para temperar a canção, que mistura elementos do flamenco, Tuco fez uso de uma guitarra barítono para criar uma melodia western, junto com gaita e órgão, sobre uma pulsante levada de violões, baixo e bateria.
Volver
Volver nasceu quando CA CAU estava no Rio de Janeiro para montar a exposição OMISTERIOOTEMPOEMPOESIAS, um intervenção artística com acessibilidade e que ficou em cartaz no Metrô Ipanema. “Estava hospedado no Centro, em meio a toda aquela degradação que existe na área, e lendo a biografia de Patti Smith (uma das proeminentes do movimento punk). Tudo isso me inspirou a escrever uma letra com fortes questionamentos políticos e sociais. Penso muito em People have the power nessa música”, lembra o artista.
Contrapondo com o clima punk da letra, Tuco deu um ar quase medieval para os arranjos. “Quando o CA CAU tocou essa música pela primeira vez, senti que podia levar ela para um caminho que remetesse ao barroco e à música celta. Usei cravo, violão, requinto (um tipo de violão de tamanho reduzido usado em música medieval) e flautas doce. Além do baixo e da percussão”, descreve Tuco.
Bolso Furado
Roberto Lima, o mesmo jornalista que apresentou CA CAU a Tuco Marcondes, sempre brincou com o amigo que ele tinha que escrever uma letra mais jornalística. CA CAU ficou com isso na cabeça e observando alguns fatos como a trajetória de Steve Jobs, o boom da arte de rua em São Paulo e Primavera Árabe, teve a ideia para essa canção,q eu foi composta aos poucos. CA CAU explica a letra: “esses movimentos me despertaram um lado de análise muito forte. Bolso Furado é uma canção que faz críticas a política, ao modelo de consumo, a religião, o embrutecimento da sociedade e, com uma malandragem necessária essa composição busca fugir do senso comum até na sua estrutura de versos, que não são nada convencionais”.
O lado não convencional também está refletido no tempero que Tuco deu para Bolso Furado, como o próprio narra: “Reuni elementos do samba rock, com um banjo country, guitarras distorcidas e um solo feito com um Dilruba (instrumento indiano tocado com arco). Apesar de toda a miscelânea, o resultado foi uma canção potente e bem humorada”.
Experimento
CA CAU se define como um grande experimentador. “Estou aberto ao novo. Como um artista contemporâneo, tenho um pé no presente com um olho no futuro. Gosto de abrir meus horizontes. Não só na música, mas nos sabores, na vida, nas relações pessoais. Essa canção fala um pouco sobre isso, com uma dose de sensualidade. Essa faixa é sedutora e trata de intimidade”, explica.
O clima sedutor da letra se completa com os instrumentos. Tuco explica: “quando ouvi essa canção, sugeri ao CA CAU que ela tivesse um clima rústico, como se fosse gravada ao vivo, em um celeiro com os músicos tocando sentados em caixotes de madeira. Um blues lento, meio country, com violão, gaita, um piano discreto e um Dobro (violão com corpo de metal que se toca com slide)”.
Encruzilhada
A penúltima faixa do disco é, segundo CA CAU, uma música urbana. “Ela nasce com a minha mudança (ou no plural, já que foram muitas nesse período). Ao mesmo tempo em que ela é muito pessoal, também fala sobre a cidade e me coloca dentro de São Paulo, essa megalópole ou em qualquer outra do mundo com todas as suas encruzilhadas e escolhas”, afirma.
A densidade e a tensão da letra também aparecem no ritmo. Tuco usou o Dobro fazendo um contraponto com um Bouzouki (instrumento grego de 8 cordas duplas) para criar uma seção rítmica com um pulso quase hipnótico.
Procurando por você
A introdução feita por Tuco, com instrumentos indianos como a Tampura e o Sitar, combinados com violões, que se diluem para a entrada da voz - dão o tom de uma experiência quase espiritual que CA CAU tenta criar com a letra de Procurando por você.
A composição fala da busca por amor e na busca por si mesmo. O feminino está de novo presente. O clima indiano se repete no meio da música. Há também um piano sutil fazendo respostas às frases da voz. De acordo com Tuco, Procurando por você ganhou um ar de Beatles. Intencionalmente, segundo o produtor.