A cantora e compositora Alaíde Costa completa 79 anos no final de 2014. Figura ímpar na história da música popular brasileira, Alaíde realiza o antigo sonho de gravar um disco somente com composições próprias. Com a mesma afinação e a mesma interpretação personalíssima dos tempos pré-bossa nova, quando iniciou a carreira como crooner do Avenida Dancing no Rio de Janeiro, em 1954, a intérprete se consagra definitivamente também como autora, com o lançamento do álbum Canções de Alaíde(selo Nova Estação), que tem produção musical de Thiago Marques Luiz.
Alaíde compôs a sua primeira canção aos 17 anos. Ao longo do tempo, mesmo tendo prevalecido o lado intérprete, as novas melodias sempre permearam sua carreira. Várias de suas canções foram escritas em parceria com amigos, ilustres poetas e compositores da música brasileira. Alguns de seus parceiros estão no CD, entre eles Vinícius de Moraes, Antônio Carlos Jobim, Johnny Alf, Hermínio Bello de Carvalho eGeraldo Vandré, além de Geraldo Julião, José Márcio Pereira, João Magalhães e Paulo Alberto Ventura.
A cantora conta que lhe trouxe também muita alegria o fato de gravar acompanhada por músicos com os quais trabalha há mais de 30 anos: o pianista Giba Estebez (grande parceiro de palco, que também assina a direção musical do CD e a maioria dos arranjos), o flautista Vitor Alcântara e os violonistas Conrado Paulino e Fernando Corrêa (também arranjadores de algumas faixas). O disco tem ainda participação especial do pianista Gilson Peranzzeta, da cantora Adyel Silva, do baixista Mário Andreotti e de seu filho, o cantor e violonista Marcelo Lima.
A capa do CD também representa uma passagem importante em sua história musical. Nela, Alaíde aparece feliz e na intimidade com o piano, instrumento que utiliza para compor as suas melodias. E o que tem na sala de sua casa não é um piano qualquer. Suas teclas foram as primeiras tocadas por Alaíde, desde que começou a tomar aulas com o maestro Moacir Santos. Mais tarde o instrumento lhe foi dado de presente pelo amigo e parceiro Vinícius de Moraes.
Canções de Alaíde mostra uma cantora autêntica, que nunca se dobrou aos modismos comerciais, mantendo-se fiel ao seu próprio estilo. Ela revela que enfrentou dificuldades na profissão por buscar por “uma música que fosse diferente”. “O que me fascinava era o que soava diferente aos meus ouvidos”, confessa. E se lembra de quando conheceu Johnny Alf, grande parceiro e amigo com quem trabalhou no Brasil e na Europa. “Eu gostava de sua música especial”. Eles se conheceram em 1952, no Rio de Janeiro, quando ela o ouviu tocando “O Que é Amar” em um programa de TV: “fiquei encantada com aquela música que não era comum, ele tinha uma forma única de tocar”. Mas, com a timidez mútua, só foram se aproximar anos depois, em São Paulo. A primeira vez que ela cantou ao som de seu piano foi dando uma canja em uma boate onde Johnny se apresentava. Ela escolheu “Dindi” (Tom Jobim), mas pediu que fosse em si maior. E ele retrucou: “não tinha um tom melhor não?”, diverte-se Alaíde ao lembrar.
A semente desse disco foi lançada no final da década de 90, quando Alaíde Costa fez um show no Teatro Denoy de Oliveira cantando suas músicas a convite de Luiz Carlos Bahia com produção de Nelson Valência. Poucos sabiam, até então, que ela é a autora de todas as melodias de suas composições. Muitos anos se passaram e muitas pessoas estavam interessadas em realizar esse sonho da artista: Cervantes Sobrinho e Paulo Gomes (atuais produtores executivos de Canções de Alaíde), Thiago Marques Luiz, Gilson Peranzzetta.
Em 2012, Valência produziu um novo show de Alaíde com repertório autoral. Paulo e Cervantes então constataram que o CD já estava delineado; show e repertório, prontos; músicos e cantora, afinados. Faltava o registro. “Era o momento”, comenta Cervantes. Amigos e admiradores da cantora, eles se empenharam na busca de recursos para fazer o disco, que foi viabilizado com o apoio do ProAC. “Alaíde sempre se destacou pelo timbre e afinação impecável. No início, ela encantava - e até intrigava - pela erudição que emanava naturalmente de seu canto: uma cantora de música popular com requintes próprios do canto lírico na interpretação.” Comenta Cervantes, fã declarado de Alaíde Costa.
As Canções de Alaíde
O CD Canções de Alaíde abre com uma temática comum na obra da compositora: o amor. A música “Qual a Palavra” fala de uma grande paixão, abrindo passagem para a primeira parceria com Vinícius de Moraes, presente no disco, “Tudo o Que É Meu”. Alaíde conta que recebeu essa letra durante uma visita que fez ao ‘poetinha’, quando estava esse internado na Clínica São Vicente, no Rio de Janeiro. “Ele disse que havia um presente para mim na gaveta e o presente era um papel dobrado com a letra da canção”.
A terceira faixa reúne duas canções com arranjos do pianista e amigo Gilson Peranzzetta. “Ternura” tem letra de Geraldo Julião, mas a cantora conta que esta é a segunda versão, pois a primeira foi assinada por uma amiga que faleceu antes de autorizar a gravação. E “Cadarços”, que ganhou o requinte do piano do arranjador, registra um momento mágico na história da artista com o Hermínio Bello de Carvalho. No início dos anos 80, ela foi participar da gravação de um disco do compositor/poeta: mostrou-lhe a melodia e ele não só fez a letra, como a incluiu entre as faixas do álbum Águas Vivas, de 1982.
Composta em 1960, a música “Afinal” deu nome a um álbum que Alaíde gravou, em 1964. A quinta faixa, “Meu Sonho”, vem bem acompanhada pelo talento do pianista e compositor Johnny Alf, parceiro de música e de palco. A melodia - revela Alaíde - “foi um desafio”, e a história merece um parêntese: “quando ele me deu a letra para musicar, mostrei-me insegura com a tarefa de fazer melodia para um poema seu e ele apenas respondeu: ‘vire-se’”. E ela se virou, fez uma música digna do grande compositor.
A canção “Tempo Calado” é uma linda parceria com o amigo Paulo Alberto Ventura, que não é oficialmente um letrista e sim artista plástico. Seguindo o roteiro, a fixa “Saída”, composta no início dos anos 2000, também tem história que merece registro. A primeira letra desta canção era um poema de Paulo César Pinheiro, “Navios”, que ela musicou. Para sua decepção, ao ligar para o amigo com a novidade, soube que ele acabara de autorizar a gravação do mesmo com letra de Francis Hime. Tratou, ela mesma então, de fazer outro poema.
A composição “Banzo” – que tem participação especial da cantora Adyel Silva - é uma parceria de Alaíde com José Márcio Pereira. Esta canção já foi defendida por ela em um festival universitário. A próxima, “Choro”, tem clima de fossa, de fim de romance. Originalmente, ela foi composta ao piano por Alaíde, mas aqui ganhou dois violões no arranjo de Conrado Paulino. “Gostei muito dessa versão com os violões”, comenta feliz a cantora.
“Apesar de Tudo” não poderia estar de fora desse trabalho, pois marca o início de uma grande amizade com o compositor João Magalhães. A próxima música também registra um momento especial na carreira de Alaíde. Em 1961, na Casa de Vinícius de Moraes, ela cantarolou uma melodia para Tom Jobim, que lhe deu, então, dicas de harmonia e, no mesmo dia, escreveu a letra de “Você é Amor”. Ele ainda constatou que ela era uma “menina de muito futuro”. “Você canta diferente”, falou o maestro.
Muitas das músicas de Alaíde nasceram desses grandes encontros. E não foi diferente com “Canção do Breve Amor”. Em uma das reuniões da turma da bossa nova, bem no início do movimento musical, ela compôs a melodia. Geraldo Vandré ouviu e fez a letra no instante seguinte. E, fechando o repertório de Canções de Alaíde, vem outra bela parceria com Vinícius de Moraes, “Amigo Amado”, que tem impecável participação especial de Gilson Peranzzetta ao piano.
Ficha Técnica
Repertório e interpretação: Alaíde Costa
Direção musical, arranjos e piano: Giba Estebez
Violões: Fernando Corrêa e Conrado Paulino
Flauta: Vitor Alcântara
Arranjos: Conrado Paulino (faixas 1 e 5), Fernando Corrêa (faixas 6 e 9), Giba Esteves (faixas 2, 4, 7, 8, 10, 11 e 12) e Gilson Peranzzetta (3 e 13).
Produção: Thiago Marques Luiz
Produção executiva: Cervantes Sobrinho e Paulo Gomes
Participação especial: Adyel Silva, Gilson Peranzzetta, Marcelo Lima e Mário Andreotti
Administração: PG Music Produções Artísticas e Culturais Ltda.
Assessoria de Imprensa: Verbena Comunicação
Fotos: Paola Prado e Will Prado
Design gráfico / capa: Paulo Neto
Lançamento / selo: Nova Estação
Distribuição: Eldorado
Duração: 70 minutos
Classificação: Livre para todas as idades
Projeto realizado com o apoio do ProAC.
AGENDA DE SHOWS
Teatro Galpão (221 lugares). Av. Nossa Sra. do Bom Sucesso, 2750. Parque das Nações. Tel: (12) 3642-1080.
Grátis (não há necessidade de retirar ingressos com antecedência).