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Mulheres moradoras de rua

16 de Dezembro de 2025

No livro "Viver nas ruas", a jornalista Rebeca Kritsch mostra como o gênero agrava riscos e violência para mulheres que sobrevivem nas ruas de São Paulo

Para muita gente, os moradores de rua de São Paulo são pouco mais do que uma estatística, mas o novo livro da jornalista Rebeca Kritsch, Viver nas ruas (editora Galáxia) expõe algo que os números não permitem ver: o que significa ser mulher em situação de rua em uma das cidades mais desiguais do mundo.

A obra, que revisita a premiada série publicada em 1995 pelo jornal O Estado de S. Paulo – e pela qual a autora recebeu o Prêmio Esso do Jornalismo –, atualiza essa realidade 30 anos depois, destacando que, para as mulheres, a rua não é apenas território hostil, mas um campo de sobrevivência permanente.

Em 1995, as mulheres eram 8% da população em situação de rua. Hoje, de cada quatro pessoas morando na rua, uma é mulher. O dado é ainda mais impressionante quando se considera o contexto de hoje: nos últimos 30 anos a população de rua cresceu estimados 600%, enquanto a população da cidade cresceu 15%.

Na série original, a repórter Rebeca Kritsch mergulhou no universo dos moradores de rua durante cinco dias, sob risco real, para reconstruir rotinas, trajetórias e estratégias de autopreservação dessa população. Já na época da reportagem, as mulheres carregavam um peso desproporcional em termos de violência, precariedade e silenciamento — elementos que o livro resgata e sobre os quais joga luz.

Entre as histórias marcantes estão Fátima, atacada e ferida de madrugada com um espeto por um homem que dormia a poucos centímetros dela; Conceição, grávida e dormindo na calçada enquanto tentava proteger o bebê que viria; Márcia, mãe de três filhos e vítima de violência doméstica, que fez da rua um refúgio para a agressão; e Maria, travesti que enfrentou a dor, o preconceito e a exploração sexual. Vítimas, elas ainda encontraram forças para cuidar umas das outras.

A obra também revela que, apesar da rua ser violenta para todos, as mulheres vivem sob um nível adicional de vigilância e medo: risco constante de estupro, assédio, agressões, perda dos filhos para o Estado e ausência completa de privacidade e proteção.

O livro mostra ainda como instituições comunitárias, como a Organização de Auxílio Fraterno (OAF), se tornaram refúgio para mulheres que vivem no limite da sobrevivência.

Em paralelo, as imagens de Daniel Kfouri, que há décadas registra a vida nas ruas de São Paulo, constroem uma narrativa visual que amplia a denúncia: cada rosto carrega sua própria trajetória de dor e resistência.

Ao revisitar Viver nas ruas três décadas depois, Rebeca joga no centro do debate um alerta: a presença feminina nas ruas aumenta, mas sua visibilidade continua reduzida. E a pergunta permanece urgente: como uma cidade que produz tamanha riqueza pode conviver com tanta desigualdade?

O livro é um convite para que jornalistas, gestores públicos e sociedade civil encarem a questão com o recorte que há muito falta: o de gênero. Porque, para as mulheres que vivem nas ruas, a sobrevivência torna-se ainda mais ameaçada.

Viver nas Ruas está disponível no site da editora Galáxia, na Amazon Brasil e em outras plataformas digitais, em versões e-book e impressa.

Sobre a autora

Rebeca Kritsch é jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero e trabalhou como repórter e editora nos jornais O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo, atuando também como correspondente internacional itinerante para diversos veículos. De 2003 a 2019, trabalhou com comunicação humanitária em organizações não-governamentais, com foco em meio ambiente e saúde global.

Seu trabalho sempre transitou por temas sociais, direitos humanos e políticas públicas. Atualmente, ela é doutoranda em História da Ciência, Medicina e Tecnologia na Universidade de Oxford, Inglaterra.

Livro: Viver nas ruas 

Autora: Rebeca Kritsch 

Editora: Galáxia (e-galaxia.com.br)

Disponível em: Amazon Brasil (ebook e impresso)

Preços:  R$39,90 (e-book); R$56,90 (impresso)

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