Problema atinge até 60% de pessoas com mais de 50 anos e pode ser confundido com infarto
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| Foto: Freepik |
Até 20% da população adulta convive com hérnia de hiato, condição em que parte do estômago atravessa o diafragma e invade o tórax. A incidência aumenta após os 50 anos, atingindo até 60% das pessoas nessa faixa etária, segundo dados Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos. No entanto, somente 9% apresentam sintomas, por isso, estar atento aos sinais é o primeiro passo para identificar a condição.
Há pessoas que enfrentam sintomas debilitantes que afetam o sono, a alimentação e até a escolha das roupas que vestem. Em alguns casos, a dor torácica provocada pela queimação leva pacientes ao pronto-socorro com suspeita de infarto.
Além de manter a calma para entender o porquê dessas condições serem diferentes, é preciso conhecer os fatores que aumentam o risco de desenvolver a hérnia de hiato, como obesidade, gravidez e atividades que exigem esforço físico constante.
Hérnia ou infarto?
Sintomas de hérnia de hiato podem ser confundidos com outras condições. Náuseas e dor abdominal podem ser atribuídas erroneamente a problemas na vesícula biliar. Mas é preciso compreender as diferenças: as pedras na vesícula causam dor após as refeições na região superior direita do abdômen, enquanto a hérnia de hiato provoca dor no centro do abdômen, podendo, às vezes, ser sentida na região do peito.
Esse tipo de dor explica o porquê da semelhança com sintomas cardíacos causar preocupação. Há casos em que os pacientes chegam aos serviços de emergência acreditando estar sofrendo um infarto quando, na verdade, experimentam refluxo severo causado pela hérnia.
Endoscopia digestiva alta, manometria esofágica, radiografia com contraste e tomografia computadorizada ajudam a estabelecer o diagnóstico correto. A ecoendoscopia alta pode ser utilizada para avaliar com maior precisão a anatomia da região, permitindo visualizar as camadas da parede esofágica e as estruturas adjacentes ao hiato diafragmático.
Idade é outro fator determinante na prevalência da condição. Dados do StatPearls mostram que o envelhecimento reduz a flexibilidade e a elasticidade muscular, predispondo ao desenvolvimento da hérnia. Constipação crônica, DPOC e levantamento frequente de peso também contribuem para o aumento da pressão intra-abdominal, facilitando a formação da hérnia.
Critérios para cirurgia
Hérnias pequenas e assintomáticas não requerem cirurgia. Na maioria dos casos, mudanças no estilo de vida e medicamentos controlam a condição. Porém, quando os inibidores da bomba de prótons falham em aliviar os sintomas após uso adequado e prolongado, cirurgias eletivas podem ser consideradas.
Diretrizes médicas apontam situações específicas que indicam necessidade cirúrgica. Pacientes com lesões esofágicas graves como úlceras, estenose ou Esôfago de Barrett devem considerar o procedimento. O Esôfago de Barrett é particularmente preocupante por ser uma condição precursora do câncer de esôfago.
Hérnias paraesofágicas dos tipos II, III e IV apresentam risco de encarceramento e estrangulamento do estômago. Essa complicação configura emergência cirúrgica e pode ser fatal se não tratada rapidamente. As recomendações das autoridades de saúde indicam reparo operatório de todas as hérnias paraesofágicas sintomáticas e de hérnias grandes completamente assintomáticas em pacientes com menos de 60 anos que estejam saudáveis.
O tamanho da hérnia também determina a indicação cirúrgica. Quando atinge proporções que comprometem outros órgãos ou quando a qualidade de vida do paciente fica severamente prejudicada, o procedimento se torna necessário. Pacientes com defeito mecânico do esfíncter esofágico inferior que necessitam terapia vitalícia e têm expectativa de vida superior a 8 anos são candidatos ao tratamento cirúrgico.
Como a hérnia se forma
O diafragma possui uma pequena abertura chamada hiato esofágico, por onde o esôfago passa antes de conectar-se ao estômago. Quando os ligamentos e músculos dessa região enfraquecem, o estômago consegue empurrar através dessa abertura e migrar para o tórax. Fatores genéticos, envelhecimento, tabagismo e tosse crônica contribuem para esse enfraquecimento, conforme documentado em estudos da área da saúde.
Existem quatro tipos de hérnia de hiato. O tipo I, conhecido como hérnia por deslizamento, representa mais de 95% dos casos e ocorre quando a junção entre esôfago e estômago se desloca temporariamente. Os tipos II, III e IV são menos comuns, mas potencialmente mais graves, pois podem incluir o deslocamento de outros órgãos como cólon, intestino delgado ou baço para dentro do tórax.
Impacto no dia a dia
Refluxo gastroesofágico, acidez estomacal constante e regurgitação de alimentos são queixas frequentes dos pacientes. Dados compilados sobre o impacto da condição mostram que os sintomas pioram durante a noite, prejudicando o sono e gerando distúrbios relacionados à privação de descanso.
Muitos pacientes também desenvolvem transtornos emocionais. Estresse e depressão surgem devido aos sintomas persistentes e à dificuldade em controlar a condição. Atividades rotineiras sofrem limitações: exercícios físicos se tornam desconfortáveis, refeições precisam ser fracionadas e até roupas apertadas causam incômodo.
Os sintomas podem ser esporádicos ou persistentes, com possibilidade de impactar na rotina e, consequentemente, na qualidade de vida do indivíduo. A gastroenterologista ressalta que alguns pacientes apresentam dor no estômago, sensação de empachamento, dificuldade para engolir e náuseas frequentes.
Tosse crônica e rouquidão também aparecem como sintomas extraesofágicos do refluxo. Estudos científicos indicam que entre 30% e 44% dos pacientes com hérnia de hiato apresentam sintomas respiratórios antes do tratamento cirúrgico, demonstrando que problemas pulmonares relacionados à condição são frequentemente negligenciados.